Somente leio a Veja quando ela passa aqui pelos sofás, de
quando em quando, e já com atraso de semanas ou meses. Melhor assim. Lendo com
um certo distanciamento, a acidez e o veneno de suas páginas irrita menos as
minhas narinas.
Apenas hoje vi a edição de 21/janeiro/2015, na qual a
revista do PSDB eleva a herói o filósofo francês Pierre Bayle, que diz lá no
século 18 que “as religiões tentam destruir umas às outras pelo método da
perseguição”.
Há alguns trechos da Veja com os quais somos obrigados a
concordar. Quando fala de culinária, botânica e novela, por exemplo. Algumas
vezes também acerta em temas mais polêmicos, como este acima. Bayle realmente
foi um dos maiores lampiões no Século das Luzes e injustamente ignorado pela
posteridade. O problema é que na matéria citada, e em várias outras da edição
referida, a revista tenta provar que o “islamismo radical” é um mal em si
mesmo. Nasceu sem nenhum motivo, senão o de destruir tudo que não se refira a
Maomé.
Como tudo que Veja vende aos brasileiros, nesta edição ela
também só mostra um lado. Os tais radicais são maus e chega de conversa! Ora, isso não é radicalismo? Veja se mostra tão radical e violenta quanto alguns islâmicos radicais. O resultado de suas palavras-farpas só não resultam em sangue porque ninguém a lê fora dos escritórios e salas de espera de dentistas do Brasil! E num ou noutro sofá, como já foi dito!
Nunca vi nesta revista uma matéria intensa e severa sobre o
papel dos Estados Unidos no Oriente Médio. Em 2003, pouco antes da invasão do
Iraque e da destruição de Bagdá pelos americanos, Veja mostrou em sua capa um soldado iraquiado
maltrajado e raquítico portando uma garrucha, e na mesma capa um super-herói estadunidense,
saudável, musculoso, carregando 100 quilos de armas e outros super-apetrechos em
suas costas, cintura e braços. Veja tirou casca dos iraquianos, mas os
iraquianos mostraram que “os Estados Unidos enfiaram a mão num vespeiro e agora
não conseguem tirar”, como disse em 2005 um dos maiores estrategistas militares
norte-americanos.
Veja finge ignorar que há um câncer instalado no Oriente
Médio desde 1946, quando USA e Inglaterra decidiram criar o estado de Israel. É
ali que se gera 97,49% do ódio árabe contra judeus e americanos.
Com o poder (i)moral das bombas atômicas recém-deflagradas,
os vencedores da II Guerra podiam convencer qualquer país do mundo a ceder um
espaço de terra boa e fértil aos judeus. Assim como não foi difícil convencer
os árabes de que eles teriam de ceder aquele território. Mas por que escolheram
aquele deserto em vez de uma fazenda no Mato Grosso? Porque aquilo é a Terra Santa, como tanto
falam? Não! Pode ser que aquela terra tenha sido santa, mas hoje é duvidoso,
considerando todo o sangue ali derramado “em nome de Deus”. Mas o verdadeiro motivo
da escolha é que nessa região está o petróleo, e os USA necessitavam de um posto
avançado para suas forças armadas para poder controlá-la. A conversa religiosa, neste
caso, é conversa de vendedor. Por acaso ela também serve ao discurso dos judeus
que realmente têm fé e que acreditam ser aquele o único lugar em que podem viver. Serve também à vaidade perpétua dos fanáticos leitores da
Veja, que preferem o discurso fácil do “atiremos as bombas, seja lá contra quem
for, desde que parem de incomodar”, ao invés de virar a moeda para ver o que
tem do outro lado.
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