quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS

 Se você é proprietário de uma frota desses ônibus intermunicipais superconfortáveis, eu o convido para uma viagem de duas ou três horas numa dessas maravilhas, para que você possa desfrutá-la pessoalmente.

Nos dias frios você terá a oportunidade de entrar no veículo lotado, vindo da cidade vizinha, e sentirá com grande prazer aquele bafo quente dos passageiros. Está ali o verdadeiro significado do calor humano. As largas vidraças panorâmicas estão embaçadas com o hálito úmido dos companheiros de viagem, que se mistura ao aroma delicioso que vem lá da privada. Completando o coquetel aromático, um quê de naftalina, que procede de algum local inespecífico, e a bergamota, o almíscar e o sândalo vencidos misturados a várias nuances de suor antigo. Aquele ar gostoso fica circulando de narina em narina. Ao longo da viagem elas vão trocando vírus e outras substâncias ativas e benéficas à saúde, tornando a atmosfera cada vez mais densa, até que, vencido pela rarefação do oxigênio, você dorme e sonha que acabou de estourar a bomba atômica.
Também há aquelas tardes de calor, em que a gente entra no ônibus de camiseta, senta-se e dorme. Enquanto sonha que está fazendo turismo no lixão municipal, o ar condicionado vai extraindo o calor ambiente, vai circulando a fedentina de sempre, e quando você acorda parece que está na Patagônia, gelado, o nariz coçando, preparando-se para a gripe do dia seguinte. Enquanto isso, duas ou três crianças, nauseadas com a fragrância de rosas do veículo, já estão enchendo os pacotes — ou o corredor, quando não dá tempo de vomitar nos pacotes, e aí está feito o clima para a viagem no ônibus superconfortável da sua companhia supermoderna.
Obviamente, você dorme só depois que o filme acaba. Porque nos ônibus supermodernos tem TV e filme de serial killer, para que todas as crianças viajantes possam entender desde cedo de que madeira são feitos os adultos. Isso quando não é filme de terror, para as crianças perderem bem cedo o medo das pegajosas criaturas do Além. Você pode estar cansado e aborrecido, querendo tirar uma soneca antes de chegar ao destino, mas a telinha está instalada bem à sua frente, espalhando cultura americana, mostrando o quanto o herói do FBI é competente cortando o fio azul sempre no último instante para impedir que a bomba estoure no coração de Nova York. O mocinho beija a mocinha, toca a música romântica e você tenta respirar aliviado, mas não dá. Só se botar o nariz por dentro da camiseta. 
Perceba, amigo empresário, como tudo ficou mais emocionante com toda essa tecnologia. E ainda tem gente com saudades daqueles ônibus antigos, nos quais se podia curtir uma viagem silenciosa, abrir a janela quando o vizinho ao lado estava com flatulência depois de comer maionese na casa da sogra. Ou abria-se a janela apenas para sentir o vento no rosto quando era verão. Agora, com as janelas fechadas, ou melhor, sem janela alguma, você não é mais obrigado a dar adeuzinho para a família da esposa, senão através do vidro. E aquela história de entregar um pacote de biscoito de última hora, ou uma fotografia, uma lembrancinha, isso é coisa do passado.
Depois de voltar para casa faça uma pesquisa. Pergunte ao povo se prefere ônibus “convencional” ou com ar condicionado. Não se preocupe, isso só vai dar consistência e justificar os últimos investimentos da sua mega-empresa, pois há uma certeza muito bem enraizada no inconsciente coletivo de que tudo que é moderno é bom. Poucos hesitariam em afirmar que preferem o veículo com ar condicionado. Da mesma forma como, até há pouco tempo, ninguém hesitaria em dizer que preferiria o elegante carpete em vez do convencional e antiquado piso de taco. Até descobrirmos que o carpete é um fantástico criadouro de bichinhos nocivos à saúde humana.

 


Os desconfortos da Civilização Facebook ultrapassam longe os seus confortos. Pelo menos para um velho ranzinza como eu, que preferiria andar de carroça e sentir os solavancos, a morosidade da viagem e o vento no rosto — mesmo que fosse a “ventosidade emitida pelo ânus” do cavalo (Aurélio) — a enfrentar esses longos corredores negros dentro de meu carro estofado, onde respiro o pum intermitente dos bichinhos de lata, arrisco minha vida e encontro centenas de semelhantes que não me dão sequer um adeus por trás de seus vidros escuros.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ABNEGADOS

Começou com meu tio Michaelys, que trabalhava de saqueiro na cerealista de meu pai. Exímio pescador, gostava da arte da pesca. Mas quando ia conosco aos acampamentos de pescaria raramente descia ao rio. Permanecia no local do pouso, arrumando a barraca, limpando a área e preparando o almoço. Quando voltávamos do rio, contando as mil e uma valentias e vantagens que obtivéramos uns sobre os outros, tio Michaelys já estava com tudo arrumado. O cheiro do churrasco impregnava o acampamento e tudo estava perfeito. Ele também sabia preparar um saboroso tutu de feijão, com que enchia nossas panças necessitadas de energia para mais uma tarde de aventuras.
Apesar de toda a grita dos valentes pescadores — que se entretinham contando as imperícias uns dos outros e as vantagens de si mesmos, o que significava menor e maior capacidade para manejar um barco a remo, menor ou maior destreza ao lançar um molinete, menor e maior habilidade para fisgar um piau ou um mandi — eu percebia que o mais que conseguíamos traduzir, além da nossa evidente infantilidade, era aflição. Um desejo de provar a todo instante o quanto éramos poderosos perante a fraqueza e a inabilidade dos outros. Mas havia entre nós aquele que a tudo observava, e que sobre todas as coisas mantinha um sorriso de plena satisfação. Não havia manejado o barco e o molinete, não havia pescado nada, não havia contado nenhuma vantagem, mas estava absolutamente seguro de ter feito a coisa certa. Tio Michaelys entregava o melhor de si para que nossa turma pudesse se divertir com aquilo que sabíamos fazer de melhor: valentias, trapaças e gabolices.
Nos anos seguintes encontrei outros como meu tio, aqueles que lavam a louça da churrascada enquanto os outros jogam baralho e mostram o quanto são homens. Também encontrei aqueles que se entregam a causas perdidas, enquanto outros aproveitam a perdição da causa para obter grandes lucros. Então compreendi que a entrega põe vida às nossas almas egoístas e enferrujadas. Todos os nossos problemas desaparecem enquanto lavamos a louça e os outros disputam o melhor pedaço da sobremesa. Muitos abnegados cidadão, que lutam pela justiça e que nunca irão a Dallas gastar dólares obtidos na ilegalidade, estarão plenamente satisfeitos consigo mesmos, enquanto os homens-guris passam a vida se ferindo para mostrar o quanto são fortes e espertos!

domingo, 18 de janeiro de 2015

O MERCADOR DE VENEZA E AS LEIS DA INDONÉSIA

Não gosto de pensar que os antepassados possuíam soluções melhores que as nossas. Mas às vezes precisamos voltar a Alexandre Magno, ou a Shakespeare, para descobrir onde está o nó que travou nosso crescimento ético e espiritual.
Quando o conquistador macedônio cortou o nó górdio, não estava somente encontrando uma solução inusitada a um problema difícil. Estava abrindo a possibilidade de retroceder, sempre que necessário, a um estado selvagem, onde a lei se torna apenas uma palavra. Havia um enigma a ser decifrado, criado como elaboração do espírito, como cultura. Sentindo-se incapaz de desvendar, pela inteligência, destruiu o mistério com sua espada. Uma brincadeira de imperador, que tudo fazia para a felicidade dos súditos, mas as repercussões foram dramáticas. 
Talvez sejam poucos os conquistadores que realmente conheceram a história de Alexandre, mas temos visto, ao longo de “nossa história humana”, muitos deles usando a espada, antes da inteligência. Incapazes de imaginar soluções pacíficas, inteligentes e éticas para desfazer o nó, enviam navios, aviões, bombardeiros, e destroem cidades e países.
Shakespeare também ensina, com seu “Mercador de Veneza”, por que países como o Brasil não conseguem encontrar o caminho da paz. O personagem judeu da história havia conquistado o direito de tirar uma lasca do corpo do mercador, após uma aposta perdida por este. Embora parecesse absurdo e desumano, o credor queria exercer seu direito, e sabia que o Estado, representado neste caso por seus juízes, não o impediria, pois perderia o respeito da população. Era mais desejável um Estado conivente com uma crueldade legalmente praticada, que um Estado generoso e frouxo, incapaz de respeitar suas próprias leis. O mercador estava na praça, o judeu já afiava a faca e se lançava impiedoso para colher seu naco de carne, mas acabou sendo obstruído pelo gênio retórico de Shakespeare.
Em algum momento da história humana brasileira, algum dos nossos estadistas abriu as comportas para a ilegalidade, e depois disso, como controlar a turba furiosa? Ou, talvez, desde o início da colonização, nenhum estadista mostrou-se disposto a fazer valer a lei neste país, por isso já nascemos corrompidos, brutos e selvagens. 
Confesso que sempre fui avesso a leis. Prefiro viver como um selvagem que programa a vida ao seu bel prazer (ainda que submisso às “leis do mercado”). Mas noto que a maioria da população gostaria de viver o conforto de um Estado Legal, onde todas as leis fossem realmente cumpridas. Mas quando os juízes deixam de efetivar a prisão dos congressistas corruptos, dos empresários ladrões, dos executivos desonestos, ou mesmo da delicada mocinha que planejou o assassinato dos próprios pais, o Estado perde sua moral e ninguém mais precisa respeitar a lei. As anticonstitucionais e vergonhosas “praças de pedágio”, instaladas contra as regras da nossa Lei Magna, são outro exemplo.
O chefe de estado da Indonésia talvez não tenha  lido Shakespeare. Mas ele sabe que não pode permitir que seu país se transforme num Brasil, burlando a lei local para ficar de bem com governos externos. Se o fizesse, os indonésios teriam perdido o respeito pelas suas instituições, como já ocorreu no Brasil! Não respeitamos mais os juízes e os parlamentares, porque muitos de seus antecessores foram frouxos, ou foram corruptos e ladrões. Será um trabalho duro reverter esse quadro em nosso país. Quanto à morte de Marco Archer, não é nada para se comemorar. Mas ele assumiu o risco de morrer, burlando a lei de um país que, ao que parece, gosta de respeitar as próprias leis.

domingo, 11 de janeiro de 2015

DESASTRE PÚBLICO

Falei durante dias do fabuloso passeio que faríamos. Um local incrível, repleto de animais do mundo todo, aves magníficas, um grande lago recortado de lindas passarelas. Meu filho estava entusiasmadíssimo.
Preparamo-nos para um dia especial, uma tarde de sábado. Mas o que encontramos foi um desastre estético instalado no centro da capital paranaense. O fabuloso Passeio Público!, que poderia ser um excelente local de visitação e de convívio, como já foi. Mas nota-se que faz décadas está abandonado. Talvez porque por ali passam quase somente os menos favorecidos da cidade, pessoas pouco exigentes! As vielas foram esquecidas, as calçadas esfarelam com as intempéries e o trânsito das poucas pessoas — mesmo nos sábados mais ensolarados, quase não se vê crianças no Passeio! Bêbados descansando sob as árvores, às pencas. As jaulas estão sujas, os pavões perderam os rabos, a gralha azul já está quase cinza! O antigo luxuoso hotel das serpentes e dos lagartos encontra-se às traças, à poeira e aos besouros. Sujo, mal iluminado, velho e descuidado. Há quantos anos não limpam aqueles vidros? Dá para perguntar como aquelas cascavéis e jiboias se mantêm vivas? Quando vem o guardião e começa a fechar a porta — sem pedir licença aos visitantes — a sala vai escurecendo, pois não há lâmpadas a iluminar o local. O aquário também sofre e o cheiro é igualmente nauseabundo. Nas gaiolas das aves, quanta pena! Os guarás e os flamingos já quase perderam a cor. Somente parecem saudáveis os sabiás e as rolinhas, que passam pelos furos dos viveiros para roubar o escasso alimento. Mesmo o brilho do faisão e das araras não justifica que se mantenham naquelas prisões. É um lamento só o canto dos pássaros prisioneiros. Acrescente-se que uma das passarelas encontra-se trancada, enquanto a água do lago apresenta manchas de óleo e sujeira de toda espécie. Mas tudo isso parece indiferente ao imponderável biguá — que parece ser o único da sua espécie a sobreviver neste universo esquecido.
Embora eu o chamasse a todo instante para ver aqueles animais desnutridos e desanimados, meu filho preferiu brincar no parque feito de brinquedos enferrujados. Como a máquina de fazer sorvete italiano está pifada, ele se conformou com um Chica Bon! Depois apanhamos uma bolinha de borracha na máquina da velha lanchonete — quem lembra de dar uma passadinha Lá No Pasquale? E finalmente dissemos adeus ao local, sem nenhuma saudade.
O Passeio Público de Curitiba não existe para a municipalidade, é o que sobressai. Um local outrora nobre, irrigado, amplo e bem arborizado, merece um projeto vigoroso de revitalização. Sem os bichos, que podem ser levados a locais mais agradáveis, como a floresta! Mas quanta coisa bonita, criativa e refrescante pode ser feita ali! Inclusive um palco para pequenos shows teatrais! Arquitetos e outros artistas de toda a cidade devem ser chamados para recriar e ornamentar este local, que ainda é público! Para ser bem aproveitado pelas pessoas e por todos os pássaros e borboletas que apareçam voluntariamente! Aliás, num tour de meia hora, não vi ali nenhuma borboleta. Porque o Passeio quase não tem mais flores!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O AMOR NOS TEMPOS SEM CÓLERA

O relato é trivial, mas traz em anexo uma realidade profundamente triste. Mais de uma vez, em minha cidade, ouvi rapazes dizendo que pretendiam se casar para poder transar com a namorada — um deles já foi vereador e é atualmente um respeitável comerciante.
Nesses casos o casamento configura-se uma crueldade sem tamanho. A moça quer se casar porque acredita ter encontrado o seu príncipe, o seu amor! Mas o rapaz só quer um bocado de sexo e encontra no cerimonial a chave para o objeto desejado.
Muitos casais descobrem na cama suas incompatibilidades. Mas a sociedade não permite que se deitem juntos antes da sua chancela. Os noivos poderiam descobrir que o “amor” é uma paixãozinha de nada, que desaparecerá ao primeiro contato físico mais intenso. Mas a sociedade tem suas leis, e ai daqueles que ameaçam rompê-las!
Não há criação mais bela, aos olhos de um homem, que um corpo de mulher. Aos olhos de uma mulher, idem! A mulher bela descobre bem cedo — olhando no espelho ou colhendo elogios — que suas linhas foram desenhadas com esmero pelo artista sobrenatural. A partir de então, poucas bonitas escapam à tentação de dedicar cada minuto do dia à adoração, melhoramentos e conservação da própria beleza.
Não há razão para se pensar que a mulher bela é naturalmente burra. Sua ignorância dos conhecimentos básicos escolares — desconsiderando aquela parcela de belas-cultas-poderosas — deve-se quase sempre ao fato de passar a vida olhando para si mesma, em vez de olhar os livros. E com isso consome sua existência, até o instante da descoberta inevitável: o tempo passou e a beleza se foi!
A partir desse momento trágico, as que pescaram maridos ricos vivem na folga e podem conservar o charme por mais alguns anos. Mas aquelas que trabalham duro terão de encontrar novos caminhos para justificar sua passagem terrena. Nisso se assemelham à maioria dos homens: vivem com os pés na terra, a grande fonte de conhecimento!
Quanto ao homem que se deixou seduzir pela jovem bela, dizendo-se apaixonado por ela, terá de buscar novos argumentos para justificar o amor. O que era mesmo o amor? O desejo de estar com ela, na presença daquele mimo, daqueles traços irretocáveis, daquela pele de pêssego!? Mostrar para os amigos aquela conquista fazia parte do pacote do amor. Deleitar-se com aquela figura graciosa tirando-lhe as roupas, usufruir daquela deusa magra e consistente, sentir o seu calor, experimentar o seu sumo, morder a sua carne cheirosa! Era isto o amor? Mas e quando toda a beleza desaparecer? Se ela ficar velha e feia, será igualmente amada? Essa é uma pergunta que corre o mundo desde o tempo dos faraós, e os homens estão sempre fugindo dela. Pois todos sabem que a resposta é uma bofetada na sua estrutura moral!
Sabemos que raríssimos homens permanecerão ao lado de uma mulher doente, velha e feia sem um sentimento de fracasso. Talvez alguns consigam obter o mesmo prazer daquela presença, se a pele da mulher amada estiver descorada, seus dentes amarelados, os cabelos ressequidos e quebrados, a tez manchada, as pernas alteradas e trôpegas, a gordura acumulada em todos os hemisférios. O mesmo desejo de abraçá-la, o mesmo ímpeto de contar a ela as novidades, a mesma vontade de fazer uma viagem e construir uma casa de praia num paraíso tropical! Será isso o amor? Teremos de chegar ao extremo oposto do “casal perfeito” para entender que realmente nos amamos?
Somente os velhos sabem, porque o tempo passou e o amor já concedeu todas as provas. Amar uma moça bonita é fácil. Mas não é amor de verdade, é somente desejo e vaidade, com raras e belas exceções. A conquista da jóia nos empresta o seu brilho, da fruta o seu sabor. Quando o brilho e o sabor tiverem desaparecido restará a brisa e o vento tempestuoso no coração daqueles que de fato se amam.

Um amor de verdade, sim, eu o vi muitas vezes. Naqueles velhos que andam pelas calçadas da minha cidade, que param de quando em quando para mostrar nos jardins da vizinhança os tufos de flores. Ela se abaixa para afagar a cabeça de uma cachorrinha fofa, depois se levanta e abraça-se ao velho, que torna a apanhar a sua mão. Depois seguem sem medo das horas que se dissipam.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

CARETAS DA CAPA

Revistas ruins publicam fotografias feias de seus desafetos políticos e imagens bem produzidas dos políticos que as patrocinam. Essa estratégia é antiga e deveria ser banida do jornalismo mundial, pois evidencia a indesejável e injusta parcialidade. Mas pior que tudo: ela esconde a verdade.
Analise todas as fotografias de políticos publicados pela revista Veja e note com que persistência ela utiliza fotos de Lula e Dilma fazendo caretas, enquanto Aécio, Serra, Alckmin e FHC sempre estão em poses angelicais. Você acha que essas imagens retratam a realidade? Lula e Dilma são naturalmente maus, incapazes de fazer uma expressão terna, delicada, ou ao menos neutra? E os outros, nunca fazem caretas?
Mesmo quando navegamos em águas calmas e salubres, no decorrer do dia fazemos centenas de expressões que ficariam muito feias numa capa de revista. Ao fotógrafo só resta aguardar o instante para abrir o obturador. Deve ser uma delícia chegar na redação gritando: — Veja, chefe, quantas caretas da Dilma capturei hoje!
Os fotógrafos da Veja que cobrem eventos do governo mantêm o dedo pronto para clicar o menor sinal de contrariedade no rosto da presidente. Mas quando há matéria de capa sobre os políticos do PSDB, tem salão, maquiagem, unhas, pankake — se necessário um pouco de ruge e batom, por que não? — e sessão de foto em estúdio.

Revistas como a Veja estão certas em manter a estratégia. A grande maioria de seus leitores ainda acredita em contos de fadas, como acredita nas imagens das capas. Infelizmente para a revista, pouca gente lê suas matérias!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

EM HONRA AOS MORTOS DA ILHA DA ILUSÃO

Pessoas são assassinadas aos montes, todos os dias. Os locutores dos telejornais juntam tudo num pacote e noticiam em forma de estatísticas. Mas toda vez que morre um jornalista assassinado a imprensa promove um drama que faz estremecer até os últimos barrancos da nossa sensatez. Metade do horário dos telejornais é tomado pelas declarações dos órgãos internacionais ligados à imprensa. Resta saber por que esses órgãos não se manifestam para nos contar os crimes cometidos pela imprensa ao redor do mundo. Os conluios com bandidos, a rapinagem política, a blindagem dos milionários-ladrões-patrocinadores. A imprensa deveria ir à imprensa revelar por que busca manter a população à margem da verdade. Pois a imprensa com certeza sabe qual é a verdade de cada um dos fatos noticiados.  Somente anos depois a verdade apodrece no fundo do lodaçal, estufa, emerge e explode, como vemos emergir e explodir toda hora as verdades escondidas de décadas atrás!

Igualmente inexplicável é o silêncio da imprensa quando o presidente norte-americano vai à imprensa solidarizar-se com jornalistas assassinados, dizendo que foi um atentado contra a liberdade. Os soldados sob o comando desse homem matam inocentes todos os dias, muitas vezes matam em massa, crianças, jovens e velhos. Quando um único órgão de imprensa deste mundo vil publicará numa página de revista ou de jornal que os Estados Unidos cometeram um ato terrorista? Alguém, algum dia, viu uma notícia dessas?