quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
CACA
O uísque foi abandonado, mas reservava-se o direito de revisitá-lo em
alguns instantes especiais. O cigarro foi mais difícil. Era um vício tão
pertinaz que livrar-se dele converteu-se no maior objetivo da vida do
viciado. A agonia de dez anos chegou ao zênite no momento em que a filha
de um cliente do jornal, vendo Rubens prestes a acender um cigarro,
dirigiu-se a ele, tomou o objeto, deu uns
passinhos mal equilibrados até a porta do escritório, atirou-o fora e
disse “caca!”. Aquele foi um instante luminoso, que pedia uma atitude
equivalente. Rubens já havia reduzido os vinte cigarros iniciais para
quatro ou cinco ao dia, mas ainda sofria com dores de garganta,
resfriados freqüentes, o fedor nas mãos, o amargo na boca e o pior, a
certeza de que estava contribuindo para uma morte prematura. Sentia-se
um fracasso rematado quando, nariz escorrendo, cabeça doendo, sem
conseguir extrair sabor nenhum daquele cilindro maldito, acendia mais
um, na inútil tentativa de perceber alguma essência redentora na névoa
aromática. Tinha a certeza de que um buraco profundo se abriria à
frente, perderia o chão se não fumasse o próximo. Mas quando a garotinha
deu-lhe aquele sinal, pensou que havia urgência. Nos dias seguintes
convenceu-se de que usava o cigarro para apaziguar o medo de errar na
presença de outros, pois raramente fumava quando estava sozinho. Decidiu
que, se fosse necessário, xingaria quem estivesse próximo, mesmo sem
uma grande razão, desde que conseguisse se livrar daquele tormento. E
obteve êxito, apesar de algumas mágoas que causou.
(Do livro "O Milagre da Lagoa das Lágrimas", inédito)
(Do livro "O Milagre da Lagoa das Lágrimas", inédito)
quinta-feira, 11 de julho de 2013
terça-feira, 9 de julho de 2013
segunda-feira, 8 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
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