Rubens
olhou a imagem no aparelho, um grupo de figuras desfocadas chutando um homem
caído no meio da rua. A vítima já se encontrava completamente inerte quando
veio uma última figura e chutou-lhe a cabeça. O locutor anunciava o crime e
pedia justiça.
Rubens
desligou o televisor e foi à cozinha. Encheu a chaleira d’água e depositou
sobre o fogo. Despejou um pouco de água na panela de arroz, algumas gotas de
óleo numa frigideira e levou tudo ao fogo. O relógio na parede apontava
19h15min. Apanhou os bolinhos, onde salientavam-se pedaços de cebola e salsa, jogou
sobre o óleo fumegante. Enquanto a fritura chiava, abriu a janela e vislumbrou,
entre os ramos desfolhados de uma parreira, uma ponta de céu tingida de
estrelas.
Respirou fundo, como
se preparasse um mergulho num lago desconhecido. Lá estava o extraordinário
inalcançável, a imutável verdade cósmica! O que se transformava naquela
imensidão era demasiado distante para que ele pudesse antever algo como
redenção, ou outras promessas religiosas. As mesmas leis que regiam as estrelas
elaboravam homens que se matavam nas ruas! A vida era louca, um evento
inadmissível num universo feito de vazio e pedras, uma inconsistência no tecido
aparentemente sólido da escura realidade.
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