Os espetáculos da Natureza, ou os
criados pelo homem, têm a capacidade de nos proporcionar momentos gloriosos. Os
homens se deixam seduzir pelo espetáculo, como se ele fosse a própria vida. É o
entusiasmo levado ao extremo nos instantes de grandes explosões, shows
pirotécnicos, musicais ou religiosos. Embalado nessa grande ilusão o corpo vibra
e o pensamento se anula. Circunstância propícia para enfiar na cabeça vazia da
platéia as idéias mais mirabolantes e absurdas.
O homem nem sempre consegue perceber
que aquele furor não é um resumo da vida, porém um instante artificialmente
programado para criar euforia. O efeito é semelhante ao de uma droga potente,
que anula o pensamento e faz acreditar que encontra-se num outro mundo, o mundo
do espetáculo, feito de precisão, leveza, magia e beleza.
O melhor apreciador não é aquele que
se deixa dominar por inteiro pela força do espetáculo, e sim aquele que separa
o desejo do êxtase e o poder de reflexão. Há algo inominado dentro dos homens,
talvez um demônio buliçoso que busca a recompensa, a vitória, a glória. Porém a
história ensina que homens embriagados pela glória já fizeram muita besteira.
Quando você aprende a apreciar o espetáculo em toda a sua medida, porém mantém
a mente reflexiva e livre, o show tem sabor redobrado, e no fechar das cortinas
não resta a ressaca.
O show da Natureza é perene, acontece
a todo instante em todo lugar. Basta ver a transformação permanente do céu
acima de nossas cabeças. Mas os espetáculos criados pelo homem também não são
coisa recente. Muito antes dos shows musicais do século 19, ou dos números
teatrais do século 16 e das batalhas sangrentas dos tempos do Coliseu, já se
criavam espetáculos impressionantes. Plutarco conta a façanha dos babilônicos,
que após serem dominados pelo macedônio Alexandre, prepararam para o conquistador
um show extraordinário. “Para fazerem conhecer ao rei a força da nafta e sua
natureza, regaram o caminho que conduzia ao paço; depois, colocando-se na
extremidade do rastro, aproximaram suas tochas do líquido que haviam espalhado.
Era noite fechada. Mal as primeiras gotas pegaram fogo, e a chama, sem
intervalo sensível, comunicou-se à outra extremidade com a rapidez do
pensamento; e a rua pareceu inflamada em toda a sua extensão”.