domingo, 24 de novembro de 2013

HORA DO SHOW

Os espetáculos da Natureza, ou os criados pelo homem, têm a capacidade de nos proporcionar momentos gloriosos. Os homens se deixam seduzir pelo espetáculo, como se ele fosse a própria vida. É o entusiasmo levado ao extremo nos instantes de grandes explosões, shows pirotécnicos, musicais ou religiosos. Embalado nessa grande ilusão o corpo vibra e o pensamento se anula. Circunstância propícia para enfiar na cabeça vazia da platéia as idéias mais mirabolantes e absurdas.
O homem nem sempre consegue perceber que aquele furor não é um resumo da vida, porém um instante artificialmente programado para criar euforia. O efeito é semelhante ao de uma droga potente, que anula o pensamento e faz acreditar que encontra-se num outro mundo, o mundo do espetáculo, feito de precisão, leveza, magia e beleza.
O melhor apreciador não é aquele que se deixa dominar por inteiro pela força do espetáculo, e sim aquele que separa o desejo do êxtase e o poder de reflexão. Há algo inominado dentro dos homens, talvez um demônio buliçoso que busca a recompensa, a vitória, a glória. Porém a história ensina que homens embriagados pela glória já fizeram muita besteira. Quando você aprende a apreciar o espetáculo em toda a sua medida, porém mantém a mente reflexiva e livre, o show tem sabor redobrado, e no fechar das cortinas não resta a ressaca.

O show da Natureza é perene, acontece a todo instante em todo lugar. Basta ver a transformação permanente do céu acima de nossas cabeças. Mas os espetáculos criados pelo homem também não são coisa recente. Muito antes dos shows musicais do século 19, ou dos números teatrais do século 16 e das batalhas sangrentas dos tempos do Coliseu, já se criavam espetáculos impressionantes. Plutarco conta a façanha dos babilônicos, que após serem dominados pelo macedônio Alexandre, prepararam para o conquistador um show extraordinário. “Para fazerem conhecer ao rei a força da nafta e sua natureza, regaram o caminho que conduzia ao paço; depois, colocando-se na extremidade do rastro, aproximaram suas tochas do líquido que haviam espalhado. Era noite fechada. Mal as primeiras gotas pegaram fogo, e a chama, sem intervalo sensível, comunicou-se à outra extremidade com a rapidez do pensamento; e a rua pareceu inflamada em toda a sua extensão”.

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