segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ALIENADOS NA ESCURIDÃO

O rapaz está caído no chão, atordoado com uma pancada. Então chega um outro rapaz, o herói, e chuta o rosto daquele que está caído. Chuta a barriga, o peito e volta a chutar a cabeça daquele que já não pode se defender. O sangue jorra pelo nariz. Ele está desacordado, mas o agressor continua pisando chutando sua cabeça.
Não, eu não estou falando daqueles valentes rapazes que socaram suas vítimas desacordadas na Arena de Joinville no último domingo. Estou falando de um vídeo-game que jovens de 10 ou 12 anos estão jogando numa lan house a duas quadras da minha casa. Eles chutam a cabeça de um rapaz caído e sem defesa, e continuam chutando até desacordá-lo, ou até fender seu crânio para ver o sangue jorrar. Quando saem à rua, à vida real, se der uma briga e um rapaz cair ao chão, o que esses gamers vão fazer? Vão chutar-lhe a cabeça até fazer jorrar sangue. Pois os adultos lhes disseram que assim é a vida! Se foram adultos que criaram os jogos de morte, como os jovens (e as crianças) vão questionar, pensar que pode ser errado bater e matar covardemente um semelhante?
Os filmes de terror nascem nas almas de gente infeliz, criadas lá em Hollywood. Sabem que é um produto que vende, porque as pessoas sentem uma atração irresistível pela morte, pela violência, pelos zumbis, pelo horror. Pessoas bem resolvidas não precisam fazer coisas do gênero para viver. Esses filmes e esses games chegam aos olhos das nossas crianças sem nenhuma triagem das autoridades competentes. Ninguém contesta, ninguém comenta, ninguém reclama, e os nossos rebentos permanecem expostos a essa violência comprada! 
Quando jovens chutam a cabeça de seus semelhantes num jogo de futebol como se fossem inimigos, não temos o direito de nos surpreender. Nós somos testemunhas do que está acontecendo, somos coniventes com a destruição dos cérebros dessas jovens pessoas que tão pouco ainda sabem da vida. Lamento!

(Em tempo: O locutor Luis Roberto, da Globo, teve o bom senso de mandar desviar as câmeras da violência em Joinville, sob o pretexto de que eram imagens muito “fortes” para serem apresentadas numa tarde de domingo. Mas outras câmeras continuaram gravando, e todos os jornais da Globo reproduziram as cenas, inclusive as mais fortes, sem qualquer critério de horário. O que aconteceu? O que acontece sempre. A diretoria entendeu que para fazer bombar o ibope vale a pena apresentar a cabeça de um rapaz sendo esmagado. Agora imagine se fosse a cabeça do dono da Globo que estivesse sendo pisada. Ele apresentaria uma cena dessas no Fantástico, e depois novamente no Globo Esporte, e venderia a imagem para todas as TVs do mundo?)

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