sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

NAVIOS À DERIVA

Quando escreve sobre a humanidade futura, o cronista acredita que pode beirar as raias do fim do mundo – pelo menos, do mundo terreno, que certamente será extinto uma meia dúzia de anos antes da extinção do universo! Quando me projeto para aquele tempo que a memória ainda não alcança – porque ainda não chegamos lá – tenho uma certa dificuldade em ver as pessoas num estado de harmonia como aparecem em meus sonhos mais otimistas. Talvez por causa de alguns traumas que sofri em períodos de lutas, quando conheci os mais improváveis covardes que viriam compor alguns trechos da minha história. Inclusive eu próprio. 
Sim, é triste dizer, mas em conjuntos de cem pessoas quase sempre você encontrará duas ou três pessoas com quem pode realmente contar. As outras podem agradar você, trazer presentes e novidades, porém mal sentem o cheiro de queimado abandonam o navio e não se importam se você vai virar petisco de tubarão. Outras duas ou três talvez queiram trazer uns baldes d’água e contribuir para debelar o fogo, mas diante do perigo ficarão paralisadas, porque, por algum motivo inexplicado, em horas como essa sempre perdem o comando dos próprios músculos. 
Além da ignorância e da maldade, os comandantes do fim do mundo terão de combater a covardia daqueles que compõem as suas fileiras. Os antigos generais punham soldados à luta à base de discursos inflamados em favor de uma “pátria livre”. Geralmente, nesses casos, o que realmente levava os bravos aos campos de confronto era a possibilidade de saque das cidades conquistadas. Nas Forças Armadas os recrutas passam por uma lavagem cerebral tamanha que após alguns meses de treinamento brutal tudo que eles querem é seguir para a guerra – segundo me disse um antigo funcionário do Exército. Mais recentemente os soldados têm sido levados à luta à custa de muito dinheiro. Os States recrutam mercenários em vários países do mundo para levar adiante suas colunas mortíferas no Oriente Médio e outros confins. 
Nas lutas políticas ou intelectuais o que mantém o esquadrão em pé são os mais variados interesses, e é certo que em determinados momentos, quando o navio começar a adernar, os fracos pularão nos botes salva-vidas. F
Falo de cadeira: houve um momento em que me vi obrigado a deixar meus amigos aos tubarões, acossado por circunstâncias que estavam além das minhas forças. O que aprendi com isso? Que antes de ir à luta preciso combater o mil diabos que se debatem dentro da minha própria cabeça, para não correr o risco de ser o primeiro a perder a esperança e sair correndo de medo do bicho feio!

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