terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O PANELÃO E A FEBRE

O melhor das novidades tecnológicas não são os benefícios inerentes, porém os subjacentes. Elas sempre produzem reações inusitadas no ser humano, que de súbito vê-se  diante de novas possibilidades de comunicação, de saciedade, de realização.
O conhecimento que o Facebook tem-me trazido ao longo dos últimos dois ou três anos sobre a natureza humana equivale ao que obtive nos 45 anos anteriores. Um conhecimento quase sempre lamentável! A curiosidade natural me faz arrastar a “linha do tempo”, até meio sem querer, durante um ou dois minutos, então começo a sentir náuseas. Nunca vi tanta gente dizendo tantas asneiras num espaço tão curto!
Tem alguns que soltam farpas logo de manhã. Ameaçam, amaldiçoam, previnem-se contra os invejosos, prometem vingança antes mesmo de serem feridos, falam de pecados e demonstram todo o seu mal disfarçado preconceito. Há aquele tarado frustrado que posta mulheres nuas a cada cinco minutos (bem, pelo menos este nos alegra, pois o que há de mais belo que uma mulher nua?), e há também aquele obsessivo por gente destripada. E também aquele que encontrou neste local uma fossa para despejar todo o seu arcabouço de palavras sujas.
Mas ingresso no meio de toda essa lama há um fator positivo. Devemos considerar que toda crise é uma febre para produzir a cura. O Facebook é um símbolo da nossa grande crise existencial. É uma febre, estamos a mais de 40 Graus, temperatura em que se perde a noção e fala-se e age-se sem pensar. Mas alguma coisa boa deve finalmente sair deste panelão onde cozinhamos nossos sapos, cobras, aranhas e lagartos.

Louvo desde já aqueles que usam espaços como esse para trazer as flores recém-abertas e as frutas frescas de seus pomares. Há muita gente-gente aproveitando este maravilhoso instrumento chamado internet para arejar o mundo, jogando sua gota d’água limpa no copo sujo da nossa velha e lamentável história.

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