terça-feira, 11 de agosto de 2009

OS ROMEIROS DA LAPA

Minha mãe foi visitar nossos primos na cidade da Lapa. Os filhos do tio Berto mudaram para a cidade histórica há aproximadamente 20 anos, depois que seu irmão Romildo entrou no exército e fez sucesso como corneteiro. Foram todos trabalhar na Da Granja, alguns como degoladores de frangos, outros como serventes e guardiões.

Quando mamãe chegou, fez alvoroço. Todos os sobrinhos estavam ansiosos pela visita, prometida havia mais de vinte anos.

Agadir, o primeiro visitado, era muito diferente do menino encrenqueiro que deixou Prudentopolis nos anos 70. Tornou-se um senhor respeitável, calejado pelo sofrimento. Ao sair da casa do Gade, minha mãe foi acompanhada pela família deste — o casal mais duas filhas muito bonitas e três colegas de escola — até a casa do Dinei. Mais conhecido como Bolinho na época em que morava em Prudentópolis, Dinei apaixonou-se pela Zula e casou cedo, contando hoje com três filhos adultos e vários netos, todos presentes para receber a irmã do Berto.

Saindo da casa do Dinei, minha mãe arrastou junto as duas famílias, e foram pelas ruas da Lapa visitar a Estelinha. “Até parece que ela remoçou depois que lhe morreu o Antonio”, segredou minha mãe ao Bolinho, que concordou com um gesto da cabeça.

Saindo da casa da Estelinha, seguida pelas três famílias pelas ruas da histórica Lapa, mamãe foi à casa da Araci, onde teve o prazer de conhecer todos os filhos da sobrinha mais velha, que saíram junto com ela e com os outros até a casa do Jurandir e sua numerosa família, e bastaram vinte minutos de animada conversa, lembranças e saudades de memoráveis momentos da época em que o Berto ainda era vivo, para que todos seguissem em romaria pelas ruas da Lapa, até a casa do Romildo, que infelizmente estava pescando no rio Iguaçu, mas nem por isso sua mulher e filhos deixaram de acompanhar os outros.

Saindo da casa do Roma, Dinei fez questão de apresentar minha mãe à família de seu amigo Divonzir, proprietário das Organizações Divo, que naquele momento estava sendo visitado pela família do Sidenei, e bastou alguns minutos para que todos os presentes aderissem à procissão puxada pela minha mãe pelas ruas da Lapa.

Tomados de curiosidade e impulsionados por não sei que instinto exploratório que desperta em todo aquele que se aventura longe de casa, os turistas que passeavam na cidade começaram a se juntar aos “romeiros”, e foram em animada conversa pelas vielas da Lapa. Em breve a multidão passou a ser seguida por inúmeros veículos, cujas placas e adereços denunciavam a origem distante, de outros estados e até de outros países.

As visitas aos sobrinhos estendeu-se pela tarde, e já se tornara impossível romper a grande massa de marchadores e carros que atravancavam as ruas, o que foi notado por uma patrulha de policiais militares. Sem saber do que se tratava, mas conscientes de que podia ser uma marcha de greve ou o início de uma revolução, os soldados solicitaram a presença de outras viaturas, e acompanharam atentos e solenemente minha mãe e todos os outros até a casa do Agadir, onde ela havia deixado sua velha Belina.

Logo que mamãe entrou no veículo e deu a partida, iniciou-se um alvoroço. Os seguidores correram em busca de seus automóveis, temerosos de perder o desfecho daquele inusitado passeio, que deveria findar no mais extraordinário dos pontos turísticos.

Saindo da Lapa, no entanto, minha mãe tomou o rumo de Curitiba, seguida por imenso comboio, que passou pela capital paranaense causando muito susto e tumulto e desaparecendo em seguida na BR 277.

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