As pessoas instalam as regras, e as regras
tornam-se sagradas. Não porque sejam as mais certas e necessárias, mas porque
tudo que foi estabelecido parece impossível de se mudar, como aquelas
"porcas" de metal que enferrujam em torno do parafuso e depois não
querem sair. Só se soltam à base de marteladas.
Você pensa que vive num mundo onde ocorrem muitas
revoluções por minuto, tudo muda o tempo todo, as cores, as formas, a moda. Mas
nas profundezas do nosso sistema, tudo está como sempre foi. Estamos
emperrados, empedrados, paralisados num tempo em que se adora os reis (do
dinheiro, do futebol, da moda), em que se despreza e se pisa os fracos, em que
se violenta e se machuca os pequeninos. Para os modernos homens brutos, toda
delicadeza é "viadagem", toda sensibilidade é sinal de fraqueza, todo
gesto polido é uma temeridade. Nunca fomos tão machistas, tão racistas e
preconceituosos como nos dias que correm. A televisão manda comprar,
acreditamos que é essa a regra moderna, então compramos todos esses belos
produtos das vitrines como se fossem a salvação, e depois eles são jogados num canto,
inutilizados em forma de lixo.
Saia pra fora, respire, vá caminhar no meio do
mato, onde não existem regras. Observe os bichos, vivem sem leis e não se sabe
de um deles que tenha morrido de estresse — pelo menos, enquanto não caiu nas
mãos humanas. Dê uma olhada numa loja veterinária, todos aqueles pássaros
engaiolados. São uma beleza a ser levada pra casa, ou são o símbolo da aflição
humana? Nós engaiolamos peixes, tigres, pássaros, pessoas, sentimentos! Dá uma
olhada numa Câmara Municipal, aqueles homens cheios de regras. O que fazem com
suas sagradas leis, senão perpetuar a incoerência, a estática, o tédio? É
preciso romper a regra, deixar voar os pássaros, soltar mais uma vez o velho
grito de liberdade, esse pássaro raro que cresceu nas profundezas de nossas
almas oprimidas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário