Quando eu tinha dezoito anos vi, pela primeira vez, rapazes se tocando e
se beijando num salão de danças em Curitiba. Achei aquilo bem estranho e fiquei
realmente incomodado. Eu era preconceituoso? Sei lá!
Eu já tinha visto uns caras meio efeminados em Prudentópolis, mas nunca
os visualizara aos malhos uns com os outros. O que eu sabia era que homens
amavam as mulheres e vice-versa, mas homens amando homens era uma coisa muito
nova. Até então eu só ouvira uns relatos pouco esclarecedores sobre o assunto.
Se eu era preconceituoso, precisei estudar a questão para poder me consertar!
Antes que eu cristalizasse o preconceito em meu coração, vi-me morando
numa casa de estudantes na capital, dividindo com 87 homens um prédio de quatro
andares. Pelo menos cinco daqueles homens eram homossexuais. Eram homens
tímidos, porém decentes, criativos, estudiosos, inteligentes, cultos, sinceros.
Aprendi muita coisa com deles, porém nada relacionado a sexo. Em nenhum momento
eles se insinuaram para o meu lado, nem tive com eles uma única decepção. Como
confiavam em mim, vinham com frequência me contar seus dissabores. Um deles me
disse que antes de deixar sua cidade, Lajes-SC, “quando batia a fissura”, isto
é, quando sentia vontade de transar, sabendo que não podia atacar na sua região
para não causar urticária nas “pessoas de bem”, viajava para o Rio de Janeiro.
Foi então que compreendi o grande drama que essas pessoas vivem. Não gostam
(sexualmente) de mulheres, gostam de homens, mas não podem correr atrás de seus
objetos de desejo, porque nós, os fodões, os donos do mundo, os sacos-roxos da
putaquepariu, nós rimos da cara dessas pessoas, nós os metralhamos, nós os
matamos e exterminamos. Enfim, nós destruímos essas pessoas, e por quê? Tão
somente porque eles representam um enigma que não conseguimos decifrar!
Você pode dizer que homens se beijando na praça “é uma nojeira”. Mas
isso é realmente um problema deles, ou um problema seu, que não consegue
entender o mundo dessas pessoas, ou não consegue virar o rosto para o lado e
seguir andando para cuidar da sua própria vida?
Qual é a verdade? Onde está a resposta? Qual é, na escala da ciência, a
diferença essencial entre o pirulito e a flor? São ambos elementos acessórios
do sistema reprodutor humano! Homem e mulher são duas peças do mesmo sistema, e
o pirulito e a flor só se tornaram esse terror em nossas mentes (não podemos
nem mesmo dizer em público as palavras “pinto” e “buceta” para não chocar os
caretas!) porque nós ainda somos um bando de patetas.
A natureza, mãe de tudo e de todos neste planeta, não reclama nem pune
os homossexuais. Mas no meio social dois homens não podem esfregar seus corpos
um no outro, porque assim determinam as regras sociais! Entendo. Mas você
entende que todas — TODAS! — as regras foram feitas por pessoas, e que pessoas
são seres envenenados por traumas, complexos, vícios, ódios, traições, rancores
e tristezas de todo tipo? Se você quer metralhar e acabar com todos os gays do
mundo, vá em frente. Mate-os todos! Mas o que isso terá mudado em você? Terá
obtido a grande resposta para aquela bigorna que bate em sua cabeça todos os
dias buscando respostas? Quem sou eu? Tóóóimmm! O que é ser um macho? Tóóóimmm!
O que é despertar neste mundo louco, tomar consciência da própria existência,
viver meia dúzia de décadas e desaparecer para sempre? Tóóóimmm! Quem vai curar
essas suas dúvidas?
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