sábado, 25 de abril de 2009

AS CRIAS DO CRIADOR


Quando não havia nada,

as tardes do Criador não eram tardes,

porque não havia os dias.

O Criador olhava para o nada

e nada sentia, nada pensava e nada vivia.

E como não havia nada

que o impulsionasse a criar coisa alguma,

lá ficou o Criador em seu nada,

dizendo para si mesmo

que inventar o mundo

era uma dificuldade danada.

 

Mas então o Criador inventou as vespas

que inventaram o papel,

depois inventou as aranhas,

que inventaram a rede e a tarrafa,

então inventou as espigas de milho

que inventaram a ordem unida,

e depois vieram as bromélias,

que inventaram a espiral, 

e o copo de leite inventou a parábola,

as abelhas inventaram a monarquia

e o hexágono,

os fungos inventaram a penicilina,

e os pernilongos inventaram

a injeção intramuscular,

as maçãs inventaram a lei da gravidade,

as borboletas inventaram a flâmula,

as nuvens inventaram a eletricidade,

os lagos inventaram o espelho, 

os rios inventaram a curva,

as sementes de dente-de-leão

inventaram o pára-quedas

e os pássaros inventaram

a si mesmos.

No sétimo dia Deus

inventou o homem,

que tem inventado as mais sofisticadas

técnicas de copiação.

Um comentário:

Jonice disse...

Isso é delicioso, Chico!

Beijo :)