domingo, 11 de janeiro de 2015

DESASTRE PÚBLICO

Falei durante dias do fabuloso passeio que faríamos. Um local incrível, repleto de animais do mundo todo, aves magníficas, um grande lago recortado de lindas passarelas. Meu filho estava entusiasmadíssimo.
Preparamo-nos para um dia especial, uma tarde de sábado. Mas o que encontramos foi um desastre estético instalado no centro da capital paranaense. O fabuloso Passeio Público!, que poderia ser um excelente local de visitação e de convívio, como já foi. Mas nota-se que faz décadas está abandonado. Talvez porque por ali passam quase somente os menos favorecidos da cidade, pessoas pouco exigentes! As vielas foram esquecidas, as calçadas esfarelam com as intempéries e o trânsito das poucas pessoas — mesmo nos sábados mais ensolarados, quase não se vê crianças no Passeio! Bêbados descansando sob as árvores, às pencas. As jaulas estão sujas, os pavões perderam os rabos, a gralha azul já está quase cinza! O antigo luxuoso hotel das serpentes e dos lagartos encontra-se às traças, à poeira e aos besouros. Sujo, mal iluminado, velho e descuidado. Há quantos anos não limpam aqueles vidros? Dá para perguntar como aquelas cascavéis e jiboias se mantêm vivas? Quando vem o guardião e começa a fechar a porta — sem pedir licença aos visitantes — a sala vai escurecendo, pois não há lâmpadas a iluminar o local. O aquário também sofre e o cheiro é igualmente nauseabundo. Nas gaiolas das aves, quanta pena! Os guarás e os flamingos já quase perderam a cor. Somente parecem saudáveis os sabiás e as rolinhas, que passam pelos furos dos viveiros para roubar o escasso alimento. Mesmo o brilho do faisão e das araras não justifica que se mantenham naquelas prisões. É um lamento só o canto dos pássaros prisioneiros. Acrescente-se que uma das passarelas encontra-se trancada, enquanto a água do lago apresenta manchas de óleo e sujeira de toda espécie. Mas tudo isso parece indiferente ao imponderável biguá — que parece ser o único da sua espécie a sobreviver neste universo esquecido.
Embora eu o chamasse a todo instante para ver aqueles animais desnutridos e desanimados, meu filho preferiu brincar no parque feito de brinquedos enferrujados. Como a máquina de fazer sorvete italiano está pifada, ele se conformou com um Chica Bon! Depois apanhamos uma bolinha de borracha na máquina da velha lanchonete — quem lembra de dar uma passadinha Lá No Pasquale? E finalmente dissemos adeus ao local, sem nenhuma saudade.
O Passeio Público de Curitiba não existe para a municipalidade, é o que sobressai. Um local outrora nobre, irrigado, amplo e bem arborizado, merece um projeto vigoroso de revitalização. Sem os bichos, que podem ser levados a locais mais agradáveis, como a floresta! Mas quanta coisa bonita, criativa e refrescante pode ser feita ali! Inclusive um palco para pequenos shows teatrais! Arquitetos e outros artistas de toda a cidade devem ser chamados para recriar e ornamentar este local, que ainda é público! Para ser bem aproveitado pelas pessoas e por todos os pássaros e borboletas que apareçam voluntariamente! Aliás, num tour de meia hora, não vi ali nenhuma borboleta. Porque o Passeio quase não tem mais flores!

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