Falei durante dias do fabuloso passeio que
faríamos. Um local incrível, repleto de animais do mundo todo, aves magníficas,
um grande lago recortado de lindas passarelas. Meu filho estava
entusiasmadíssimo.
Preparamo-nos para um dia especial, uma tarde de
sábado. Mas o que encontramos foi um desastre estético instalado no centro da
capital paranaense. O fabuloso Passeio Público!, que poderia ser um excelente
local de visitação e de convívio, como já foi. Mas nota-se que faz décadas está
abandonado. Talvez porque por ali passam quase somente os menos favorecidos da
cidade, pessoas pouco exigentes! As vielas foram esquecidas, as calçadas
esfarelam com as intempéries e o trânsito das poucas pessoas — mesmo nos
sábados mais ensolarados, quase não se vê crianças no Passeio! Bêbados
descansando sob as árvores, às pencas. As jaulas estão sujas, os pavões
perderam os rabos, a gralha azul já está quase cinza! O antigo luxuoso hotel
das serpentes e dos lagartos encontra-se às traças, à poeira e aos besouros.
Sujo, mal iluminado, velho e descuidado. Há quantos anos não limpam aqueles
vidros? Dá para perguntar como aquelas cascavéis e jiboias se mantêm vivas?
Quando vem o guardião e começa a fechar a porta — sem pedir licença aos
visitantes — a sala vai escurecendo, pois não há lâmpadas a iluminar o local. O
aquário também sofre e o cheiro é igualmente nauseabundo. Nas gaiolas das aves,
quanta pena! Os guarás e os flamingos já quase perderam a cor. Somente parecem
saudáveis os sabiás e as rolinhas, que passam pelos furos dos viveiros para
roubar o escasso alimento. Mesmo o brilho do faisão e das araras não justifica
que se mantenham naquelas prisões. É um lamento só o canto dos pássaros
prisioneiros. Acrescente-se que uma das passarelas encontra-se trancada,
enquanto a água do lago apresenta manchas de óleo e sujeira de toda espécie.
Mas tudo isso parece indiferente ao imponderável biguá — que parece ser o único
da sua espécie a sobreviver neste universo esquecido.
Embora eu o chamasse a todo instante para ver
aqueles animais desnutridos e desanimados, meu filho preferiu brincar no parque
feito de brinquedos enferrujados. Como a máquina de fazer sorvete italiano está
pifada, ele se conformou com um Chica Bon! Depois apanhamos uma bolinha de
borracha na máquina da velha lanchonete — quem lembra de dar uma passadinha Lá
No Pasquale? E finalmente dissemos adeus ao local, sem nenhuma saudade.
O Passeio Público de Curitiba não existe para a
municipalidade, é o que sobressai. Um local outrora nobre, irrigado, amplo e
bem arborizado, merece um projeto vigoroso de revitalização. Sem os bichos, que
podem ser levados a locais mais agradáveis, como a floresta! Mas quanta coisa
bonita, criativa e refrescante pode ser feita ali! Inclusive um palco para
pequenos shows teatrais! Arquitetos e outros artistas de toda a cidade devem
ser chamados para recriar e ornamentar este local, que ainda é público! Para
ser bem aproveitado pelas pessoas e por todos os pássaros e borboletas que
apareçam voluntariamente! Aliás, num tour de meia hora, não vi
ali nenhuma borboleta. Porque o Passeio quase não tem mais flores!
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