sábado, 9 de maio de 2009

Dieta diet


Você conhece algum pato selvagem com problemas hormonais? Alguma vez presenciou na floresta um tigre obeso? Libélulas com banha na cintura? Tamanduás inchados? Que eu saiba, dentre todos os animais selvagens, o único que apresenta problemas de peso é a “anta gorda”.

A Natureza mantém as jaguatiricas num controle rígido e eficiente, e é por isso que estão sempre saudáveis e esbeltas. A técnica é deixá-las absolutamente à vontade, que comam, procriem, desenvolvam-se ao seu bel-prazer, até o limite permitido pelas outras espécies. A tartaruga, aquela de carapaça esverdeada — ou mesmo a amarela com listras marrons e outros arranjos colorais — havia tamanha certeza (do Criador) de que ela jamais ultrapassaria o peso ideal, que veio já com uma roupagem inelástica. Você não pode engordar, tartaruguinha, mesmo que queira (até onde eu saiba)!

Todos esses casos mostram como a natureza preserva saudáveis seus filhos obedientes. Você jamais encontrará na floresta uma serpente com excesso de peso, exceto naqueles dias em que ela engoliu um boi. Os sabiás engordam, sim, no auge da temporada de caquis, ficam com as sambiquiras amareladas, mal conseguem voar, mas não se sabe de algum deles que tenha permanecido nesse estado por mais de umas poucas semanas.

Somente nós, que comemos a maçã proibida do conhecimento, caímos na desgraça da barriga grande, das mãos inchadas e da hipertensão. Os costumes que inventamos, os frutos que recriamos, as mentiras que nos contamos, a maquinaria que nos proporcionamos, tudo isso formou uma maçaroca em nossa cabeça, atiçou os apetites dos demônios dormentes, resultando na espécie mais comilona jamais vista na face do planeta. Sorte das academias de ginástica e dos doutores especialistas em neoplasias, diabetes e gordurinhas localizadas. E também dos pastores em geral, cujos empregos são garantidos pela recorrência de nossas más virtudes.

Os animais mais próximos a nós também padecem dos males da nossa civilização. Veja o porco, por exemplo. Trancado no chiqueiro, que outra alternativa resta-lhe, senão comer e engordar? Para deixá-lo ainda mais neurótico, vão lá e castram o animal, o que o põe ainda mais desiludido, estressado e consumista. O pombo também engorda, o boi, a galinha e o peru. Ultimamente também o búfalo, o lagarto e o furão começaram a balofar. São animais que, aos poucos, vão perdendo contato com a fonte criadora, tornando-se dependentes destes neuróticos reconstrutores do mundo que somos nós.

O “macro” dessa questão pode ser visualizado como um mapa todo quadriculado, na fotografia do satélite, uma mancha marrom gigantesca incrustada no tapete verde. A cidade engorda a olhos vistos, espalha-se feito um câncer instalado no meio da floresta. O alimento vem pelas veias das estradas, formando o SÚE — Sistema Único de Engorduramento.

Os números não mentem: em 1906 havia 50 mil pessoas na cidade de Curitiba. A capital paranaense tinha então pouco mais de um quilômetro de diâmetro. A população pulou para aproximadamente 2 milhões e o diâmetro seguramente ultrapassa os 20 km. Se fôssemos converter em casas com áreas equivalentes os milhares de andares de cada prédio, a cidade emendaria com a capital paulista.

Crescendo as cidades nessa proporção, qualquer profeta de meia pataca pressente a catástrofe futura. Curitiba não é um grande centro cultural, com belíssimos teatros, cinemas, shoppings, montadoras de automóveis e gente bonita, como quer o pessoal do marketing. É uma doença instalada no meio de uma bela floresta, e alguns políticos ainda têm a pecha de designá-la “Capital Ecológica”. A fumaça dos escapamentos e os esgotos das ruas centrais fazem pensar em algo “pós-bomba-atômica”, ou simplesmente “pós-pum”. Qualquer nariz sensível percebe que a cidade é uma fedentina insuportável, exceto os narizes dos próprios curitibanos, que só respiram perfumes franceses nas ruas de sua magnífica megalópole européia.

Mas retornemos aos eflúvios da floresta. Se você quer receitar comportamento
light, aponte os caminhos do lobo guará, sempre magrinho e esbelto. Com exceção daquele que está preso no Jardim Zoológico, já visivelmente adulterado.

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