segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O CAOS E A FRITADA DE LAMBARIS


Após pescar, descamar e destripar trinta a cinco lambaris, foi preciso prepará-los para a fritura. Antes de espargir o manjericão, que dá sabor, e o fubá, que dá consistência ao quitute, foi preciso jogar o sal. E nesse momento, enquanto meus dedos rodopiavam os corpos lisos dos peixes mortos na tigela, senti a presença sutil e dramática do caos.

Para salgar trinta a cinco lambaris foi necessário que a mão produzisse uma série de movimentos aleatórios, a fim de que todas as inúmeras minúsculas partes do pescado fossem homogeneamente atingidas pelo tempero. Quanto mais turbulentos esses movimentos caóticos, e quanto maior sua duração, mais eficiente a distribuição dos grãos nas superfícies.

Somente produzindo o caos, extraindo o sal de sua sossegada organização dentro do pacote, que se encontrava na prateleira ao lado do açúcar e do chocolate, foi possível produzir uma nova ordem, denominada “lambaris salgados prontos para a fritura”.

Logo em seguida chegaram Galileu Galilei e Isaac Newton, que me ajudaram a destruir essa nova ordem cosmológica.

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