Não foi somente o acaso, mas uma convergência de vontades o que fez gerar esse tipo especial de pés, estes meus pés largos, compridos e chatos, que mais parecem patas de marreco.
Quando eu tinha seis ou sete anos vim com meu pai até a cidade de Prudentópolis. Passamos na frente da casa do Nono Pedro, e meu pai, vendo que o sogro estava na frente carpindo mato, resolveu chegar. Puxaram assunto e a enxada ficou encostada no banco sob a velha castanheira. Curioso, apanhei o instrumento e comecei a carpir. Meu pai, vendo o perigo, gritou:
— Vai cortar o pé, piá!
E eu, confiante em minha destreza, continuei carpindo, mas não foram mais que três golpes antes de ficar a enxada no dorso do meu pé direito. Foi um jorro de sangue, uma correria, meu pai me carregando para a cabine do caminhão Ford novinho — ah, sim, foi isso, ele deve ter parado ali para mostrar o caminhão novinho para o sogro — até que a enfermeira limpou tudo, me enfiou a agulha, aplicou uma anestesia e concluiu a costura. Foram quatro pontos, como o agente funerário poderá verificar na cicatriz, quando estiver preparando meu corpo para a cova.
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