Tudo que tenho para dizer, Nietzsche já o disse, de forma mais bela e profunda do que eu jamais diria.
Mas temos um século que nos separa, então, o que são as obras, as descobertas, as hecatombes ocorridas nesse intermédio? O século XX foi um período de variações mínimas, ao contrário do que dizem certos entusiastas da velocidade. As estruturas foram pintadas, cantadas, retorcidas, mas nenhum de seus alicerces foi arrancado. Os homens que Nietzsche botou em seu espremedor de laranjas são essencialmente os mesmos de hoje, com os mesmos temores, os mesmos deuses irrevogáveis, os mesmos valores inegociáveis.
Permanece o homem plantado ao rodapé de sua própria história: ainda somos os não acontecidos, os ovos gorados. Tudo que fazemos é reerguer os velhos totens, dando-lhes novo volume e moderna textura, mas a essência que a Natureza buscou produzir em nós permanece em estado de suspensão. O cérebro humano congelou em algum momento perdido da Idade Média. Teve alguns surtos, algumas febres, mas nada que o curasse da desconfiança de que está aqui para ser enganado.
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