Mega-lanchonete à beira da estrada tem contrato não oficial
com alguns motoristas de ônibus, que ali estacionam em todas as viagens. Além
de um grande estoque de inutilidades domésticas, o estabelecimento mantém uma
bem fornida vitrine de “salgados”, onde fumegam, no mesmo vapor nauseabundo, o
pastel frito, a esfiha, a pizza, o bolinho de carne, o quibe, a coxinha, a coxa
de frango frita, o espetinho e outras iguarias com idêntico teor de gordura,
sal, radicais livres e substâncias cancerígenas em geral.
Numa vitrine ao lado estão bolos, tortas, suflês, pudins,
quindins, marias-moles, musses, pavês, gelatinas, suspiros, queijadinhas e
todas as maravilhas açucaradas e engordurantes da boa confeitaria.
No balcão, café com leite, mas nenhum sabor de chá ou suco
de frutas. Se o freguês pede vitamina, vem uma batida de frutas congeladas
desde o verão de 1987. E se não pedir com pouco açúcar, a moça mau-humorada,
obrigada a trabalhar de madrugada, tasca logo duas colheradas.
Mas você tem a opção de alimentos mais saudáveis num balcão
lateral. Salgadinhos feitos de sola de sapato e orelha de lobisomem recobertos
de corantes e temperos, biscoitos açucarados, bolachas enfeitadas com desenhos
de chantili, bolachas recheadas com veneno de rato, pacotes de chocolates e
gomas saturadas de cores de photoshop.
Encostados à parede, dois refrigeradores, atulhados de
refrigerantes e cervejas. E nos balcões espalhados pelo grande salão das
inutilidades, belas cestas com pés de moleques, maçãs do amor, cocadas,
paçoquinhas e pirulitos.
Nenhuma pamonha, nenhum bolo de legumes, nenhuma salada de
frutas, nenhuma batata assada, nenhum mingau de aveia, nenhum chá de hortelã
para curar o ataque provocado por todas aquelas maravilhas culinárias.
Por que as pessoas continuam comendo as porcarias que as
envenenam e matam? Não deve ser por ignorância, as informações sobre alimentos
saudáveis aparecem diariamente na TV. O que faz as pessoas comerem gordura
frita é a compulsão, ou uma ordem falsa que dão a si mesmas: vou comer somente
hoje, que estou de viagem!
Mas quem nasceu magro e quer morrer sem uma gota de gordura,
como é o caso deste escriba – apesar de todos os chatos que diariamente vêm
dizer “nossa, como você ta magro! Ta doente?” – enfim, quem gosta de morrer de
velho prefere manter a linha.
– Moça, vê pra mim uma água de côco.
– Estamos em falta, senhor.
– Então, um suco de maracujá.
– Serve de polpa?
– Tudo bem, pode ser de polpa, mas veja o prazo de validade.
– Não tem prazo de validade, senhor.
– E como posso saber se não está vencido?
– É que a umidade do freezer faz sumir os números. Mas o
caminhão entregou semana passada, é tudo fresco.
– Eu não posso esperar dar dor de barriga pra saber se a
polpa estava estragada. Me faça um suco de laranja.
– Só tem de garrafinha, senhor. Pode pegar ali no
refrigerador.
– É natural?
– Não, mas é bom que não estraga, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário