A
Ciência, como a Religião, é pródiga na produção de shows. Cada vez que descobre
uma nova característica da matéria o homem se põe a explorá-la e termina por
criar mais um espetáculo. A platéia vê nessas demonstrações de conhecimento um
poder extraordinário — pelo menos nos primeiros instantes, enquanto as luzes do
novo número não são ofuscadas por outras. Mas no decorrer das décadas, com um
volume de experiências cada vez mais notáveis, o homem vem constatando que
apesar das possibilidades infinitas de criação, o seu nível de satisfação já
está se limitando pelas bordas. Ele já não se satisfaz com as aventuras
terrenas, quer avançar para além da órbita do Sol. Mas o ciclo da vida do homem
foi previsto para ocorrer na Terra, e parece improvável que ele saia deste
planeta para expandir suas fronteiras. E mesmo que alcance Marte, Vênus ou outro
sistema solar, terá expandido seu nível de satisfação?
O infinito mora em nós, mas Ciência já mostrou que não sabe como atingi-lo. Em algum momento pegamos a
estrada errada e demos com o muro. Apesar de todos os espetáculos, nossas
criações são pífias, não nos atingem mais no âmago, não produzem o gozo do ser. Observemos uma imagem holográfica, num desses shows em que uma
pessoa filmada em Tóquio parece materializar-se instantaneamente num anfiteatro
de Londres. Levamos milênios para criar esse truque, e agora? Há um instante de
estupefação, a platéia delira e aplaude, mas depois vem o tédio. Devemos
acreditar que é assim que prosseguiremos? De show em show, até o limite de
nossos nervos?! Ou há na escrita de nossos genes uma possibilidade maior, uma
felicidade real e duradoura?
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