Chegava a noite, quando as sombras se sobrepunham às cores e já nada se via no terreiro da casa da Nona Guil. Eu e meu irmão Dimas amarrávamos pedras em longos fios de barbante e começávamos a girar em torno de nossos corpos. O silvo característico de barbante cortando os ares era o chamariz dos morcegos. Feria seus ouvidos, seu radar apurado, então ouvíamos seus trinados esvoaçantes em torno de nós, suas sombras apareciam rapidamente contra o céu estrelado, e sentíamos aqueles baques nos barbantes, os guinchos dos animais abatidos. Alguns se recuperavam e alçavam vôo, retornando humilhados às suas cavernas, porém muitos não resistiam, estavam feito manchas pretas sobre o solo marrom na manhã seguinte, quando acordávamos bem cedo para contá-los. Nosso tio Casemiro, caçador exímio quando garoto, enquanto enlaçava os cavalos nos ariames e se preparava para partir de carroça rumo ao milharal, olhava nosso entusiasmo e mentia que aqueles "morcegos do diacho" nunca mais chupariam o sangue de suas vacas. Somente anos depois ficamos sabendo que os pobres mamíferos voadores viviam da coleta de néctar das flores, feito abelhas, feito beija-flores.
Um comentário:
Interessante o post sobre morcegos exatamente pq a minha casa rural tem forro e, mmuuuuuuuito morcego. Aprendi tb que eles podem ser de varias categorias e comer coisas diversas, assim como espalhar sementes na natureza. No mato, temos algumas tocas de morcegos hemofagicos (eh isso mesmo?).Mas todos eles sujam tanto! Parabens pelo blog.
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