Fui passar minha camisa branca, que usei somente duas ou
três vezes, e percebi que ela tem umas
manchas. Certamente porque misturei-a na máquina com outras camisas. São
manchas tênues, quase imperceptíveis, mas
serão notadas por uma boa observadora — e boas observadoras são todas as
mulheres do mundo! Resta saber se vou dispensar a camisa, ou se continuarei
usando-a somente à noite, onde manchas não são percebidas. Também posso
guardá-la junto àquelas camisas velhas, que uso nas aventuras mateiras.
Você já notou como as camisas são parecidas com a gente? Não
por acaso, a maioria das pessoas prefere os tons pardos. Não somente nas
camisas, mas também no caráter e no comportamento. Nas camisas e nas almas
escuras as manchas não aparecem, mesmo à luz do sol! Podemos cometer um ou
outro crimezinho, como roubar na balança e surrupiar o dinheiro da merenda
escolar. Todo mundo sabe que fazemos isso, mas e daí? Nossa alma é cinzenta, opaca,
e uma manchinha a mais não vai fazer diferença! Uma pessoa de alma branca tem o
privilégio de brilhar por um instante, mas um respingo de suco de laranja, um
pedaço de tomate que escorrega do prato, e pronto, aquela brancura inaugural já
está maculada e perde de uma vez todo o seu esplendor. Resta andar pela
penumbra, viver na noite, onde caminham tantos outros com suas manchas grandes
e pequenas. Ou passar uma tinta escura. Mas todos saberão que essa alma, como a
camisa, foi adulterada, que não é essa a sua natureza. E pior, a cada lavada
sairá um bocado daquela tintura, mas ela nunca conseguirá recuperar aquele tom
inicial, o branco brilhante, o caráter imaculado, a completa ausência de
manchas em sua personalidade.
Mas há outras possibilidades para quem quer passar sem
manchas por este mundo. Recomento que troque sua alma sempre que sentir que ela
foi maculada. Jogue fora todas as más experiências e experimente-se como pessoa
nova. Mude o apelido, mude de cidade, conheça novos amigos, esqueça os velhos
bordões, aproprie-se de novos conhecimentos, jogue fora todos os conceitos.
Compre uma nova camisa branca e imaculada...
Um comentário:
Como anunciava o velho e bom OMO: "Não há aprendizado sem manchas"
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