domingo, 22 de dezembro de 2013

A ALMA COLORIDA

Nietzsche, Baudelaire e outros pensadores europeus trouxeram ao Ocidente a noção oriental de que o saber estende-se para além da lógica européia. Causaram espanto e mal-estar, porque é sobre a “lógica” e a “objetividade” que ergueram-se todos os impérios europeus, desde suas construções jurídicas até suas cidades salomônicas. Ao beber daquela nova fonte muitos encheram-se de júbilo. Jack Kerouac, John Steinbeck, Hermann Hesse e outros escritores mostraram a vida dos homens errantes, que davam as costas ao processo de acumulação de bens e capitais para viver a liberdade. Havia algo maior para se fazer, além de prédios e códigos de conduta. Encantados com aquelas leituras, muitos jovens renunciaram ao seu conforto e regalias para entrar nessa aventura do desapego. Os beatniks foram fruto dessa busca pela alma. Queriam mostrar que a borboleta estava abandonando o casulo. E a humanidade teve a oportunidade de ver estampada nos rostos, nos gestos e nos corpos daquelas pessoas a sua porção colorida e lúdica. Era a alma do mundo que aflorava, em toda a sua exuberância! Nossa alma era pintada de um matiz intenso, era livre e generosa. Por que foi que tornamos a escondê-la?
Nossa alma ainda mantém seu estado de pureza inicial. Cada criança que surge está plena daquela beleza primitiva. Mas o capital soube incorporar aqueles anseios legítimos aos seus propósitos de expansão, apresentando nas vitrines as mesmas roupas e artefatos representativos daquela liberdade, porém mais sofisticados e atraentes. Sapatos, camisetas, motocicletas e milhares de outros objetos, tingidos de cores vibrantes, foram os chamariscos para a geração hippie, e um retorno ao mundo do capital. Em breve os jovens estavam novamente enredados no processo de acumulação, onde vigora todo o egoísmo e sombras ancestrais. Aquelas pessoas naturalmente criativas e revolucionárias optaram pelo conforto e a segurança, em vez do amor e da liberdade! Apesar do colorido aparente, na cultura do agora a alma está novamente blindada em tons monocromáticos.
O capital, ao qual a Ciência dá alicerce e substância, é um constante jogo de máscaras. E a alma não pode se expandir nesse meio. Porque a alma é a essência da humanidade e de cada indivíduo, é a verdade profunda dos seres. A Bíblia está certa, quando diz que “somente a verdade vos libertará”. No mundo do capital os gestos são medidos para esconder a verdade, e expandem-se até um limite suportável, além do qual encontra-se o ridículo e o grotesco. O medo de perder a razão, de viver situações de ridículo, de parecer frágil... o medo é o que nos obriga a enterrar a alma no mais fundo dos nossos temerosos corações. A alma, a verdade do nosso ser, muitas vezes pode tornar-se dura, cruel e dolorida, mas é, enfim, a nossa verdade. Deveria ser tratada como uma jóia — lapidada, polida e mostrada — não como uma vergonha. A sociedade e suas tradições estimulam a guardar as nossas vergonhas, e sufocam violentamente a apresentação das nossas verdades.
Engana-se quem pensa que a humanidade está cada vez mais nua, ao ver todos esses corpos femininos estampados nas capas de revistas. O invólucro continua resistente, as almas permanecem presas e tímidas sob o olhar artificialmente malicioso das musas peladas. Pois o que aquela mulher da revista quer mostrar, de verdade, não são suas curvas, sua pele dourada e um caminho para suas intimidades. O que ela deseja é o amor dos homens e a admiração das mulheres. E no fundo sabe, com infelicidade, que o tipo de amor que desperta não perdurará além dos anos em que sua pele esteja firme e desejável. Se ela der uma entrevista contando o amor que necessita, talvez os tarados babões que colecionam essas revistas perderão um bocado do tesão!

A verdade permanece escondida, porque acreditamos que ela nos delata. Poucos têm a oportunidade de constatar que a verdade é a porta para a felicidade real.
Em seu livro “Minha fé”, Hermann Hesse apresenta dois jovens que se encontram por acaso numa cabine de trem, e que precisam trocar algumas palavras em função da circunstância de viajarem num mesmo ambiente. Eles resumem o diálogo a monossílabos, com receio de mostrar o que trazem de verdadeiro em suas almas. E de que forma se manifestaria uma dessas almas?
“Se (...) um desses jovens fizesse o que realmente quer e sente, estenderia a mão ao outro ou, passando-lhe a mão pelo ombro, diria talvez isto: “Deus! Que linda manhã, tudo maravilhoso e estou de férias! Não acha minha gravata bonita? Tenho maçãs na mala, você não quer uma?”.
Mas é claro que ele não fará isso. Deixará sua alma bem escondida, para que se manifeste somente numa hora extrema.
“Oh, almas tímidas!” — continua Hesse. — “Quando irão vocês aparecer? Talvez belas e amigas, numa vivência libertadora, em união com uma noiva, na luta por uma crença, em ação e sacrifício — talvez bruscas e desesperadas, numa ação apressada de impulso do coração tiranizado, dissimulado, obscurecido, numa acusação selvagem, num crime, em estado de pavor? (...) Iremos desistir, iremos acompanhar a multidão e a inércia, sempre e de novo engaiolar o pássaro, continuar a passar anéis pelo nariz?”.

sábado, 21 de dezembro de 2013

POR QUE TEX NOS FASCINA?

Você já pensou por que gosta de ler os gibis do Tex? Qual será o segredo do sucesso desse “ranger” do Velho Oeste norte-americano? Tex Willer deve ser uma das revistas mais vendidas de todos os tempos, há várias décadas. São histórias bem tecidas, criativas e surpreendentes. Além das correrias pelos desertos do Arizona à caça de traficantes de armas e ladrões de gado, Tex enfrenta inimigos super-sofisticados. Numa de suas primeiras aventuras ele caça um alienígena que usa guerreiros apaches para minerar urânio. Noutra, entra com seu cunhado Jack Tigre num buraco no meio do deserto e lá eles encontram uma caverna gigante onde se desenvolve uma civilização tiranizada por um rei malvado. Outro atrativo irresistível do gibi é o grande número de excelentes desenhistas, que rabiscam os quadrinhos sem nenhum propósito de imitar uns aos outros. Mas não é somente por isso que gostamos de Tex, e que continuaremos lendo-o mesmo depois que um soberbo letrado disser que é uma leitura infantil. Gostamos dele não somente porque soca, prende e mata bandidos. Tex não é um educado homem da lei. É violento e impiedoso. Mas acima de tudo ele é um justiceiro. Também soca, prende e mata capitães, generais, xerifes, donos de ferrovias, prefeitos e outras altas autoridades. Realiza nosso sonho de justiça, levando para “sete palmos” ou para trás das grades todo aquele bando de gente fina que manda na cidade, no estado e no país, e que torra sem culpas e sem arrependimento o dinheiro subtraído do povo, ou que explora os mais fracos sob as mais diversas formas.

NOTAS
1 - Espero ter a oportunidade de ver pelo menos um número do Tex desenhado pelo meu amigo Carlos Magno, que já fez várias revistas da Marvel.
2 - Este texto é minha homenagem de Natal ao meu amigo Adelar Miecoanski, o maior roqueiro do Brasil e o maior colecionador de Tex das Américas.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

PROFUNDEZAS

Quem busca nas profundezas haverá de encontrar as pedras preciosas que o riacho arrastou desde sua nascente. Quem busca na superfície encontrará as garrafas vazias. 

Mas as coisas profundas também se revelam na superfície. Se me mantiver sempre nas profundezas sentirei falta do oxigênio das coisas fúteis.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ESFERAS, ESPERAS

Sempre na espera rolando as esferas do relógio, da bola, da roda. A espera da esfera da Lua, da Terra e do Sol. Na borda da esfera esperando o infinito, o todo e a nada. A esfera da uva, do óvulo e do ovo, que de rebelde tomou forma ovalada.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

NAVIOS À DERIVA

Quando escreve sobre a humanidade futura, o cronista acredita que pode beirar as raias do fim do mundo – pelo menos, do mundo terreno, que certamente será extinto uma meia dúzia de anos antes da extinção do universo! Quando me projeto para aquele tempo que a memória ainda não alcança – porque ainda não chegamos lá – tenho uma certa dificuldade em ver as pessoas num estado de harmonia como aparecem em meus sonhos mais otimistas. Talvez por causa de alguns traumas que sofri em períodos de lutas, quando conheci os mais improváveis covardes que viriam compor alguns trechos da minha história. Inclusive eu próprio. 
Sim, é triste dizer, mas em conjuntos de cem pessoas quase sempre você encontrará duas ou três pessoas com quem pode realmente contar. As outras podem agradar você, trazer presentes e novidades, porém mal sentem o cheiro de queimado abandonam o navio e não se importam se você vai virar petisco de tubarão. Outras duas ou três talvez queiram trazer uns baldes d’água e contribuir para debelar o fogo, mas diante do perigo ficarão paralisadas, porque, por algum motivo inexplicado, em horas como essa sempre perdem o comando dos próprios músculos. 
Além da ignorância e da maldade, os comandantes do fim do mundo terão de combater a covardia daqueles que compõem as suas fileiras. Os antigos generais punham soldados à luta à base de discursos inflamados em favor de uma “pátria livre”. Geralmente, nesses casos, o que realmente levava os bravos aos campos de confronto era a possibilidade de saque das cidades conquistadas. Nas Forças Armadas os recrutas passam por uma lavagem cerebral tamanha que após alguns meses de treinamento brutal tudo que eles querem é seguir para a guerra – segundo me disse um antigo funcionário do Exército. Mais recentemente os soldados têm sido levados à luta à custa de muito dinheiro. Os States recrutam mercenários em vários países do mundo para levar adiante suas colunas mortíferas no Oriente Médio e outros confins. 
Nas lutas políticas ou intelectuais o que mantém o esquadrão em pé são os mais variados interesses, e é certo que em determinados momentos, quando o navio começar a adernar, os fracos pularão nos botes salva-vidas. F
Falo de cadeira: houve um momento em que me vi obrigado a deixar meus amigos aos tubarões, acossado por circunstâncias que estavam além das minhas forças. O que aprendi com isso? Que antes de ir à luta preciso combater o mil diabos que se debatem dentro da minha própria cabeça, para não correr o risco de ser o primeiro a perder a esperança e sair correndo de medo do bicho feio!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

QUAL É A DROGA?

Ser contra a liberação das drogas faz parte do papel da boa família cristã. Parabéns aos que lutam pelos seus filhos e contra os traficantes. Mas nesse caso há outras questões a considerar. Se mantemos a proibição, a piazada continuará fumando maconha às escondidas da família e se perdendo pelos becos da periferia em busca de um pacote da droga. E o narcotráfico agradece. Quem é contra a liberação precisa entender que no Brasil, como em todo mundo, quem quer droga tem droga, independentemente do número de apreensões pela polícia. A liberação tiraria o pé de apoio do narcotráfico, milhares de pessoas deixariam de ser assassinadas todos os anos. O trabalho mais difícil não está sendo feito pelas famílias que se arvoram contra a liberação: conversar com os filhos sobre as drogas. Aliás, poucos pais estão capacitados para conversar com os filhos sobre isso. As secretarias de Educação e de Saúde deveriam promover cursos para ensinar aos pais como conversar com os filhos sobre as drogas. Pois é um assunto complicado, e muito pouca gente está disposta a abrir o debate. Os drogados não são vítimas das drogas, são vítimas da nossa omissão, ignorância e covardia.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O PANELÃO E A FEBRE

O melhor das novidades tecnológicas não são os benefícios inerentes, porém os subjacentes. Elas sempre produzem reações inusitadas no ser humano, que de súbito vê-se  diante de novas possibilidades de comunicação, de saciedade, de realização.
O conhecimento que o Facebook tem-me trazido ao longo dos últimos dois ou três anos sobre a natureza humana equivale ao que obtive nos 45 anos anteriores. Um conhecimento quase sempre lamentável! A curiosidade natural me faz arrastar a “linha do tempo”, até meio sem querer, durante um ou dois minutos, então começo a sentir náuseas. Nunca vi tanta gente dizendo tantas asneiras num espaço tão curto!
Tem alguns que soltam farpas logo de manhã. Ameaçam, amaldiçoam, previnem-se contra os invejosos, prometem vingança antes mesmo de serem feridos, falam de pecados e demonstram todo o seu mal disfarçado preconceito. Há aquele tarado frustrado que posta mulheres nuas a cada cinco minutos (bem, pelo menos este nos alegra, pois o que há de mais belo que uma mulher nua?), e há também aquele obsessivo por gente destripada. E também aquele que encontrou neste local uma fossa para despejar todo o seu arcabouço de palavras sujas.
Mas ingresso no meio de toda essa lama há um fator positivo. Devemos considerar que toda crise é uma febre para produzir a cura. O Facebook é um símbolo da nossa grande crise existencial. É uma febre, estamos a mais de 40 Graus, temperatura em que se perde a noção e fala-se e age-se sem pensar. Mas alguma coisa boa deve finalmente sair deste panelão onde cozinhamos nossos sapos, cobras, aranhas e lagartos.

Louvo desde já aqueles que usam espaços como esse para trazer as flores recém-abertas e as frutas frescas de seus pomares. Há muita gente-gente aproveitando este maravilhoso instrumento chamado internet para arejar o mundo, jogando sua gota d’água limpa no copo sujo da nossa velha e lamentável história.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ALIENADOS NA ESCURIDÃO

O rapaz está caído no chão, atordoado com uma pancada. Então chega um outro rapaz, o herói, e chuta o rosto daquele que está caído. Chuta a barriga, o peito e volta a chutar a cabeça daquele que já não pode se defender. O sangue jorra pelo nariz. Ele está desacordado, mas o agressor continua pisando chutando sua cabeça.
Não, eu não estou falando daqueles valentes rapazes que socaram suas vítimas desacordadas na Arena de Joinville no último domingo. Estou falando de um vídeo-game que jovens de 10 ou 12 anos estão jogando numa lan house a duas quadras da minha casa. Eles chutam a cabeça de um rapaz caído e sem defesa, e continuam chutando até desacordá-lo, ou até fender seu crânio para ver o sangue jorrar. Quando saem à rua, à vida real, se der uma briga e um rapaz cair ao chão, o que esses gamers vão fazer? Vão chutar-lhe a cabeça até fazer jorrar sangue. Pois os adultos lhes disseram que assim é a vida! Se foram adultos que criaram os jogos de morte, como os jovens (e as crianças) vão questionar, pensar que pode ser errado bater e matar covardemente um semelhante?
Os filmes de terror nascem nas almas de gente infeliz, criadas lá em Hollywood. Sabem que é um produto que vende, porque as pessoas sentem uma atração irresistível pela morte, pela violência, pelos zumbis, pelo horror. Pessoas bem resolvidas não precisam fazer coisas do gênero para viver. Esses filmes e esses games chegam aos olhos das nossas crianças sem nenhuma triagem das autoridades competentes. Ninguém contesta, ninguém comenta, ninguém reclama, e os nossos rebentos permanecem expostos a essa violência comprada! 
Quando jovens chutam a cabeça de seus semelhantes num jogo de futebol como se fossem inimigos, não temos o direito de nos surpreender. Nós somos testemunhas do que está acontecendo, somos coniventes com a destruição dos cérebros dessas jovens pessoas que tão pouco ainda sabem da vida. Lamento!

(Em tempo: O locutor Luis Roberto, da Globo, teve o bom senso de mandar desviar as câmeras da violência em Joinville, sob o pretexto de que eram imagens muito “fortes” para serem apresentadas numa tarde de domingo. Mas outras câmeras continuaram gravando, e todos os jornais da Globo reproduziram as cenas, inclusive as mais fortes, sem qualquer critério de horário. O que aconteceu? O que acontece sempre. A diretoria entendeu que para fazer bombar o ibope vale a pena apresentar a cabeça de um rapaz sendo esmagado. Agora imagine se fosse a cabeça do dono da Globo que estivesse sendo pisada. Ele apresentaria uma cena dessas no Fantástico, e depois novamente no Globo Esporte, e venderia a imagem para todas as TVs do mundo?)

domingo, 24 de novembro de 2013

HORA DO SHOW

Os espetáculos da Natureza, ou os criados pelo homem, têm a capacidade de nos proporcionar momentos gloriosos. Os homens se deixam seduzir pelo espetáculo, como se ele fosse a própria vida. É o entusiasmo levado ao extremo nos instantes de grandes explosões, shows pirotécnicos, musicais ou religiosos. Embalado nessa grande ilusão o corpo vibra e o pensamento se anula. Circunstância propícia para enfiar na cabeça vazia da platéia as idéias mais mirabolantes e absurdas.
O homem nem sempre consegue perceber que aquele furor não é um resumo da vida, porém um instante artificialmente programado para criar euforia. O efeito é semelhante ao de uma droga potente, que anula o pensamento e faz acreditar que encontra-se num outro mundo, o mundo do espetáculo, feito de precisão, leveza, magia e beleza.
O melhor apreciador não é aquele que se deixa dominar por inteiro pela força do espetáculo, e sim aquele que separa o desejo do êxtase e o poder de reflexão. Há algo inominado dentro dos homens, talvez um demônio buliçoso que busca a recompensa, a vitória, a glória. Porém a história ensina que homens embriagados pela glória já fizeram muita besteira. Quando você aprende a apreciar o espetáculo em toda a sua medida, porém mantém a mente reflexiva e livre, o show tem sabor redobrado, e no fechar das cortinas não resta a ressaca.

O show da Natureza é perene, acontece a todo instante em todo lugar. Basta ver a transformação permanente do céu acima de nossas cabeças. Mas os espetáculos criados pelo homem também não são coisa recente. Muito antes dos shows musicais do século 19, ou dos números teatrais do século 16 e das batalhas sangrentas dos tempos do Coliseu, já se criavam espetáculos impressionantes. Plutarco conta a façanha dos babilônicos, que após serem dominados pelo macedônio Alexandre, prepararam para o conquistador um show extraordinário. “Para fazerem conhecer ao rei a força da nafta e sua natureza, regaram o caminho que conduzia ao paço; depois, colocando-se na extremidade do rastro, aproximaram suas tochas do líquido que haviam espalhado. Era noite fechada. Mal as primeiras gotas pegaram fogo, e a chama, sem intervalo sensível, comunicou-se à outra extremidade com a rapidez do pensamento; e a rua pareceu inflamada em toda a sua extensão”.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

NIETZSCHE E BLACK BLOCK

Há mais de um século Nietzsche descreveu o homem institucional como um ser lamentável, amarrado nos múltiplos conceitos por ele mesmo criados. O homem havia criado suas próprias crenças. Mas as gerações sobrepuseram-se e não guardaram a memória dos fatos que induziram a essas crenças. O homem perdia tempo e energia vital enredando-se cada vez mais no emaranhado das histórias que contava-se como justificativas às suas mais absurdas atitudes. 
Aquele era um instante de luta verdadeira da humanidade consigo mesma, ou de Nietzsche contra a humanidade. E a humanidade já era, nessa época, um totem bem armado e protegido contra as investidas da Natureza. A Natureza sempre foi mestra pertinaz e eficiente, mas agora o homem só queria saber de ensinar a si e sobre si mesmo!
A vida de Nietzsche foi um período de desnudamento, em que se propunha um olhar novo sobre a sólida estrutura humana. O olhar da verdade destituído das paixões que nos açoitam e cegam. Porém a armadura dos conceitos, crenças, bordões, dogmas, vícios e toda a parafernália que os homens haviam inventado com o propósito de apresentar como heróica a aleatória façanha de estar vivos, era um impedimento concreto e poderoso contra o olhar límpido que o filósofo lhes lançava. Décadas afora, continuamos deslumbrados com a nossa impressionante capacidade de criar artifícios que enobrecem este curto período de passagem pela vida, e a vida verdadeira deixamos a cargo do homem do futuro.
Mesmo nos mais avançados centros de inteligência cultiva-se esse erro primário, que deveria ter sido reparado ao tempo de sua descoberta: o de que o homem é o ser que ele próprio instituiu; o de que nossas múltiplas máscaras são o retrato de um ser constantemente enganado; o de que jamais encontraremos transcendência no teatro diário, nas peças que nos pregamos continuamente com o objetivo de tornar válido perante a razão o corolário das nossas crenças.
Nietzsche foi tomado como um destruidor e alguns usufruíram com apetite o caldo grosso e denso de suas destruições. Mas poucos entenderam que se tratava da construção de uma nova e mais sólida estrutura mental, que poderia nos conduzir àquele estado de alma como um instante de grande ventura, a ventura de uma conquista: valeu a pena atravessar tantos mares turbulentos para vermos a humanidade livre, sim, livre e pronta para viver o seu apogeu!
Nietzsche poderia ter sido aquele necessário hormônio que nos faz passar da fase orgânica da adolescência para uma jovem maturidade. Poderíamos ter visto, um século atrás, que uma sociedade baseada em crendices e mentiras estava fadada ao fracasso. Porém, quando muito, seus contemporâneos e os acadêmicos de gerações futuras sentiram admiração ou inveja pelo talento do filósofo, que pela primeira vez mostrava qual era a verdadeira cor dos nossos ossos. Mas não houve um grande grupo de pessoas capaz de se reunir em torno dessa idéia, desse hormônio, num projeto de construção desse “homem novo”. 
O sintoma mais contundente do fracasso de Nietzsche — ao menos, até o presente instante — está no fato de que nos quatro cantos da Terra, seja nos lares, nas escolas, nas igrejas ou no mercado, continuamos executando o mesmo “programa”, cantando a mesma ladainha laudatória dos heróis, contando-nos as mesmas mentiras, promovendo as mesmas violações, exprimindo a mesma ignorância dos contemporâneos do filósofo. Somente porque ainda somos fracos e imaturos, mantemos um discurso de força e sucesso sobre as iniciativas que corroboram a nossa histórica angústia: o fracasso de nos vermos obrigados a continuamente buscar o que, a cada instante e lugar, é o dogma da atualidade, da modernidade e do sucesso.
Você não pode vencer uma batalha sem luta, mas a luta que temos ainda é pela glória, não pela verdade. O mundo é bruto e os propósitos são incertos. Não há entre os mercadores de idéias, entre os arautos da nova liberdade, senão instruções para manter o rebanho dentro do cercado. Dizem “sigam por aqui e por ali e encontrarão vales, rios e oásis”, porém não mencionam que além dos limites que alçamos existe um mundo completamente diverso, no qual os elementos que temos agora serão objeto de riso e piedade. Os filósofos do futuro haverão de nos ensinar a mansidão, antes que o frenesi, mas é possível que os da atualidade não saibam o que é isso!
Uma breve análise das nossas ações cotidianas mostra como nos tornamos um bando de animais loucos, porém pacificados dentro de cárceres sutis. Basta nos afastarmos umas poucas décadas rumo ao passado, e lançarmos um breve olhar sobre o nosso comportamento atual, e veremos o quanto somos capazes de nos adaptar ao conjunto de novas regras que nos ditam, por mais absurdas que sejam, mesmo aquelas que machucam os nossos mais profundos sentimentos.
Quando explodem revoltas na Europa ou nas ruas de São Paulo, dizemos, assombrados, que estamos assistindo a um bando de bandidos depredadores. Porém numa análise mais profunda estaremos vendo os braços de uma humanidade presa, humilhada, sufocada e agonizante tentando livrar-se das correntes, e isso nunca foi uma coisa boa de se ver. Por baixo da sólida armadura do homem conceitual, que se enfeita em brilhos, medalhas e troféus, está o homem natural, com seus músculos vermelhos, sangrentos e doloridos. Ele precisa sair, e sairá, ainda que o último portal se veja perdido no nevoeiro dos séculos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

COMPLEXOS DA VIDA

A vida é complexa, mas o viver é simples. Também a morte é um fenômeno complexo, mas o morrer é simples. A vida é um elaborado fruto da química, da física, da biologia e sabe-se lá de que outras disciplinas ainda desconhecidas pelo Homem. Porém, apesar de toda a sofisticada maquinaria de que foi gerado, você pode ser um ser vivo tão simples, pacato e previsível quanto um deputado ou um senador. Obviamente, o deputado ou o senador podem enlouquecer, podem esquecer os ensinamentos que os amansaram e os reduziram à sua atual condição. Então retornariam ao estado de pureza inicial, tornar-se-iam selvagens, voltariam ao mistério, às profundezas desconhecidas. E passariam a falar somente a verdade, sem mais nenhum teatro ou engodo. Falariam sem medo de errar, como fazem alguns “doidos” que andam por aí! Mas os deputados e os senadores, assim como o motorista, o jardineiro e o florista estão fortemente amarrados em seus conceitos e tradições, e apenas raramente enlouquecem.
A morte obedece aos mesmos princípios extraordinários da formação da vida, porém morre-se de um resfriado ou de uma complicação renal.
As coisas simples do viver e do morrer tornam-se complexas a partir das nossas interpretações desses fenômenos. Mas de uma complexidade confusa e imprecisa, capaz de resultar nos mais obscuros horrores. Porém, basta olhar para a Natureza, onde a mão humana não interfira, e descortina-se a simplicidade, em sua beleza exuberante. Os pássaros expõem suas combinações de formas e cores. Os animais rasteiros brilham ao sol enquanto mostram comportamentos simples e previsíveis. Mas para olhos sensíveis, comportamentos de extrema beleza plástica e dinâmica.
A Natureza instaurou o comportamento do Serelepe milhares de anos antes do rei Hamurabi escrever suas primeiras linhas. Definiu as regras diárias do Arapaçu bem antes que os romanos compusessem seu código de leis. Franziu a crista do Pica-Pau da cabeça vermelha muitos séculos antes que o Homem criasse a primeira agência de publicidade. Planejou a carapaça da Tartaruga milhões de anos antes que o Homem concebesse o escudo, ou o tanque de guerra.
O Homem é incapaz de criar um arco-íris, senão com os recursos e o consentimento da Natureza. Mesmo nos chips, nos bits, nos softwares mais sofisticados, é a Natureza com suas matérias-primas e suas leis que propiciam esses passes de mágica. O Homem inventa porque a Natureza permite. Ela não luta contra o Homem, embora o Homem lhe dê combate. O Homem é a ponta de lança da Natureza, mas raramente se vê nesta condição, e é por isso que se perde. Acredita-se um ser apartado da Natureza, uma espécie de ciborg auto-projetado, nascido em um universo paralelo, ainda que uma lufada de vento possa tomar-lhe a vida.
As formas vivas mais admiráveis não desabrocham para nossos olhos ou nossa explicação. A ignorância humana consiste em não saber se essas vidas encontram-se em seus locais específicos por uma decisão absoluta ou por circunstâncias aleatórias! Tendemos a emprestar uma razão a esses fenômenos, que são, aliás, tão corriqueiros quanto o aflorar de uma folha de grama. Porém, cada vez mais nos damos conta de que o fenômeno de uma forma elaborada de flor de bromélia não obedece a qualquer espécie de vontade racional, senão à do próprio meio que a acolhe. Há sem dúvida um desejo e há uma estratégia de realização dessa flor impressionante, entre tantas outras formas vegetais. Mas a uma tal consciência, que gera desejo e circunstância, a mente humana ainda não tem acesso. 
As mãos criativas que dominam a matéria orgânica, ou a vontade resoluta das moléculas, que trabalham com ou sem ordens superiores, produzem as soluções possíveis para a geração da praticidade e da beleza. Algumas espécies jamais classificadas, e mesmo aquelas que passarão sem se dar aos nossos olhos ou a qualquer dos nossos sentidos, estão estruturadas e se reproduzem sem nenhuma dificuldade, criando estruturas para a acomodação aos seus ambientes, moldando-se em enfeites que lhe darão maiores possibilidade de integração e sobrevivência. São a forma mais acabada de poesia, algumas delas salpicadas de gotículas que lhes confere um brilho de pérolas em texturas de veludo. 
Ponha um homem no campo, dê-lhe todas as ferramentas para produzir, com alguns materiais básicos, uma pétala com textura de veludo. Então saberemos a diferença entre a perfeição que antecede a elaboração de uma mente sofisticada, e os vários níveis de estupidez demonstrados por esta mente sofisticada. Se foram moléculas e umas poucas leis da física que construíram as delicadas pétalas da petúnia, quem duvida que tenham elaborado o cérebro, o espírito consciente de si mesmo?!
Se um detector de fina sensibilidade vier averiguar toda a gama de aromas que perpassa um gramado repleto de arbustos na primavera... se pudéssemos ver esses aromas, cada um com sua cor característica, flutuando feito névoa entre as hastes de capim! Tais aromas não foram feitos para o homem. Foram feitos pelo jardim e para o jardim, e para quem o queira visitar.

sábado, 21 de setembro de 2013

PINGA DE CUBA!

Nunca na história deste país tantas pessoas viveram tão bem. Nunca nosso povo teve carros tão caros luxuosos, nunca tivemos casas tão bonitas e grandiosas! Mas temos o Mensalão, então, tudo o resto não vale nada! Tudo dói, tudo é ruim, quero morrer!
Faz 8 anos a Grande Mídia está batendo no Mensalão, como se aquele fato tivesse provocado um efeito devastador sobre a economia dos brasileiros. Segundo consta, passaram R$ 55,3 milhões pelo “Valerioduto”, o suposto “caixa 2 do PT”. Ainda que não haja provas concretas da participação do governo federal no episódio, fala-se dele como se fosse o último dos infernos, provocado pelo Lula e pela Dilma. 
Em todas as eleições brasileiras, bilhões (eu disse bilhões) de reais passam pelos caixas 2 das campanhas de deputados, governadores, prefeitos, vereadores. Mas isso não tem preocupado a Grande Mídia, tanto quanto preocupa o Mensalão.
Dá pra entender por que o Mensalão de 8 anos atrás não passa de um lambari num oceano de traíras e tubarões?
É muita incompetência da Grande Mídia ficar batendo num fato tão velho. Tragam coisas novas, vão investigar se Lula não está traficando pinga de Cuba! 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO

Num reino distante estão os guerreiros ateus, lutando contra as maldades dos guerreiros que acreditam em Deus. Estes rezam, rogam, imploram pelo paraíso, mas depois da reza passam o dia falando mal dos vizinhos, estuprando crianças e planejando o crime. Aqueles não rezam, nem pedem vida eterna, mas passam o dia fazendo pequenas gentilezas, cumprem suas obrigações de pais e maridos e estão sempre prontos para ajudar os que sofrem. Agora imagine a situação de Deus numa situação desta! 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CABO CLÓVIS E CONDE PUTADO


Em 1997 eu redigia a Folha Regional de Guarapuava, do editor Francisco Carboni, quando apareceu por lá o desenhista Carlos Magno. Juntos criamos os personagens Cabo Clóvis e Conde Putado, cujas histórias passamos a publicar em forma de tiras na Folha. Hoje Carlos é desenhista da Revista Marvel (procure no Google “Carlos Magno Marvel” e curta os desenhos incríveis do cara). Veja aqui a primeira tira que fizemos do Cabo Clóvis:

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A VIDA ERA LOUCA

Rubens olhou a imagem no aparelho, um grupo de figuras desfocadas chutando um homem caído no meio da rua. A vítima já se encontrava completamente inerte quando veio uma última figura e chutou-lhe a cabeça. O locutor anunciava o crime e pedia justiça.
Rubens desligou o televisor e foi à cozinha. Encheu a chaleira d’água e depositou sobre o fogo. Despejou um pouco de água na panela de arroz, algumas gotas de óleo numa frigideira e levou tudo ao fogo. O relógio na parede apontava 19h15min. Apanhou os bolinhos, onde salientavam-se pedaços de cebola e salsa, jogou sobre o óleo fumegante. Enquanto a fritura chiava, abriu a janela e vislumbrou, entre os ramos desfolhados de uma parreira, uma ponta de céu tingida de estrelas.
Respirou fundo, como se preparasse um mergulho num lago desconhecido. Lá estava o extraordinário inalcançável, a imutável verdade cósmica! O que se transformava naquela imensidão era demasiado distante para que ele pudesse antever algo como redenção, ou outras promessas religiosas. As mesmas leis que regiam as estrelas elaboravam homens que se matavam nas ruas! A vida era louca, um evento inadmissível num universo feito de vazio e pedras, uma inconsistência no tecido aparentemente sólido da escura realidade.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

UM BURACO NO MEIO DO DESERTO

Há outras formas de tratar problemas como o que a Síria está enfrentando. Diplomaticamente, humanamente, mas os homens ainda não aprenderam a conversar. Então vai o xerife Obama (como seus antecessores, xerife Nixon, xerife Reagan, xerifes Bush, etc), solta um monte de bombas, destrói cidades e passa alguns meses metralhando inocentes. Essa é a solução que muita gente quer. Foram ao delírio quando as bombas  começaram a cair sobre Bagdá, e agora preparam-se para o gozo diante do iminente bombardeio de Damasco. 
Essas invasões americanas me lembram de uma história do ranger Tex Willer. Acompanhado de seu cunhado, Jack Tigre, encontrou um buraco de um metro de diâmetro no meio do deserto. Por meio de uma corda eles desceram e encontraram lá embaixo um reino escondido. Havia um ditador e o povo lutava para derrubá-lo. Tex e Tigre entraram na luta a favor dos revoltosos, mas no final provocaram uma grande catástrofe, na qual sobreviveram somente os "heróis", isto é, Tex e Tigre. Todos os outros morreram. 
São assim os "heróis" americanos, matam para provar que é errado matar, e com isso mantêm em pé sua gigantesca indústria armamentista, enquanto garantem o fornecimento de petróleo barato do Oriente Médio.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

BANDA ROCK MIL

— Pai, quando eu crescer vou montar uma banda de rock.
— Que legal, Julian! E você me deixa tocar na tua banda?
— Deixo, sim, se você ainda conseguir tocar. Eu vou ser o baterista.
— E eu vou tocar guitarra base.
— Tudo bem. Mas só se você não ficar um velho chato.
— E como é que vai ser o nome da banda?
— Vai se chamar Rock Mil, porque nós vamos fazer umas músicas radicais.
— Que massa! Vou gostar muito de tocar com você.

— Tudo bem. Se você não morrer até lá...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

FERRUGEM

Toda dominação é ilusória, porque todas as correntes estão sujeitas à ação do tempo. Elas enferrujam. As ligas se desfazem. E todas as vontades, como os átomos livres de seus elos opressivos, saem para passear. As correntes modernas, como o aço, têm uma liga mais resistente e duradoura, mas o tempo é paciente e segue na certeza do aço enferrujar.

sábado, 7 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

DESIGN

Deus utilizou o estilo clássico
para desenhar os espadachins,
esculpiu com cortes cubistas
o rosto dos generais
e deu um toque impressionista
à compleição dos menestréis.
Com art nouveau
definiu os escafandristas
e com a espátula barroca
pintou a carranca dos juízes.
Um lápis pós-moderno
riscou a marca indefinível
de sua própria face.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

NOVAS FACES DA IMORALIDADE

A comunicação rápida e intensa proporcionada por sistemas como este Facebook está criando uma nova realidade. Nunca nos expusemos tanto, nunca criticamos tanto, nunca mostramos tanto nossas virtudes e nossas mesquinharias. A maioria entre nós nunca havia tido qualquer contato direto com meios de comunicação, e é natural que estejam bastante extasiados, um tanto apavorados, evidentemente deslumbrados com o sucesso que fazem com suas postagens diárias. E isso vai a tanto que alguns perderam completamente a noção do que é válido nesta arena. Não é porque esse canal é aberto que temos o direito de expor as vísceras do miserável que acabou de morrer atropelado! Não é porque este site não tem censura que você pode expor o corpo da menina que foi estuprada, assassinada e queimada! Apesar da TV e da internet mostrarem todos os dias que os valores humanos estão todos na lama, você não pode acreditar que está num mundo perdido no qual pode avançar sobre os direitos dos outros.
Expor o corpo queimado de uma pobre garota é um abuso tão grande, tão idiota e tão cruel como aquele cometido pelo assassino. É preciso ser muito sádico pra cometer uma barbaridade dessas.  Você pode se iludir pensando que é justiceira(o) postando essas fotos cruéis. Mas pense só por um instante: e se fosse você no lugar dela? Gostaria de ser exposta(o) assim, estuprada(o), machucada(o), assassinada(o)? É isso que aquela pessoa merece? Há outras formas de fazer protesto. Se você for lá e der a esse matador cretino o mesmo tratamento que ele deu à vítima, terá o meu apoio, mesmo que isso signifique aplicar a Lei do Talião. Expor o corpo daquela criança, da forma como está sendo exposta, jamais.


MÉDICOS DA ALMA

Para a Igreja, todo cidadão que cancela a própria vida está irremediavelmente condenado ao inferno. Para a psicologia, o indivíduo é um mero covarde.
Li um artigo, assinado por um psiquiatra, com o título “O suicida é um covarde”. Não é necessário comentar o texto, pois o título se encarrega dos estragos. 
Penso nos filhos e na mulher do suicida. Que podem estar sentindo após o veredicto de um profissional? As pessoas costumam levar muito a sério os comentários de profissionais, principalmente dos que atuam na área da saúde, o que torna extremamente perigosas suas afirmações. Se o psiquiatra diz que o suicida é um covarde, os familiares do suicida estão pensando será que meu pai, meu marido, meu irmão, era de fato um covarde?
Para cometer suicídio é preciso ter muita coragem. Como o próprio psiquiatra diz em seu artigo, a maioria de nós já pensou em cometer suicídio. Se é verdade, por que não nos matamos?
Nenhum psiquiatra jamais saberá o que de fato acontece com a mente de seus pacientes, pelo simples fato de que o paciente é um universo, extenso e complexo. A consciência humana é uma nuvem, que vai se misturando a outras nuvens, e de repente cai a tempestade. O analista pode supor, porém, a verdade ele nunca saberá. E quando se trata de analisar as particularidades psicológicas de uma pessoa que sequer conheceu em vida, a questão fica ainda mais difícil. Quem é tão onipotente para saber o que tal pessoa estava pensando, ou sentindo, durante aquele instante poderoso, em que decidiu renunciar à própria vida? Que temores anunciava ao dar fim às suas dores? Que alegrias buscara e por quanto tempo lhe foram negadas? Qual outra consciência seria capaz de perceber os sentimentos daquela consciência que acenava com um bilhete de algumas pequenas frases aos que deixava, quando algumas milhares de folhas precisariam ser escritas para que se pudesse entender a totalidade das sensações que lhe ocorreram durante a vida?
Freud deu poderes demasiado pesados aos seus aprendizes. A argumentação psicanalítica tem uma lógica poderosa, porque vai buscar no cerne, na fonte geradora de todo raciocínio. Mas o raciocínio, a princípio, obedece a lógica nenhuma. Talvez Freud haja compreendido, mas não explicou direito aos aprendizes. Um homem só será capaz de analisar a psique de outro homem após rever, analisar, moer, fazer virar pó e reconstruir sua própria vida, como provavelmente o pai da psicanálise fez com a sua.
Não será o raciocínio que os estudantes de psicologia encontram nos livros que lhes dará respostas durante a análise dos pacientes. Um momento de suicídio, por exemplo, é um fato único, inimitável, incomparável. O momento da decisão foi o desfecho de uma vida inteira e tornou-se fato a partir de um conjunto de inumeráveis pequenos acontecimentos que jamais serão resgatados por nenhuma Ciência. Chamar um homem de covarde em função de apenas um ato seu significa condenar toda sua vida. Quem, no entanto, saberá dizer seus inumeráveis instantes de coragem, aqueles que a psiquiatria não viu, nem registrou?

Por outro lado, não podemos menosprezar o papel da psicologia, quando atua como humilde investigadora dos nossos fracassos. Se põe-se a buscar as minúcias de uma mente perturbada — e somos todos perturbados, nos mais diferentes graus — pode tornar-se um instrumento poderoso, não somente na salvação de uma vida, mas na evolução do complexo humano.
Se os psicólogos assumissem sua importância vital no desenvolvimento de uma escola saudável, cada instituição teria pelo menos um deles disponível para cada série escolar, e seu salário seria equivalente ao de um médico. Mas publicidade dos psicólogos junto à população é desanimadora. Parecem eles mesmos não compreender o significado de seu status. Sim, é uma questão de significado. O que significa esmiuçar a dinâmica que leva a um pensamento elaborado, ou a uma paranóia? Se temos como certo que a força do nosso cérebro é o que nos identifica dentre outros animais, por que essa tremenda dificuldade em compreender que a psicologia é mais eficiente que a medicina no tratamento das nossas doenças, aquelas que realmente nos matam?
Reflita: o que nos causa mais indigestão? Frituras ou depressão? O que nos provoca mais infartos? Problemas na válvula mitral ou dívidas? O que gera mais câncer: radiatividade ou tristeza?

sábado, 31 de agosto de 2013

AS MORTES DOS NOVOS INOCENTES

Quando Obama foi à Alemanha (em sua primeira campanha presidencial) para demonstrar que tinha traquejo internacional, e toda aquela multidão o acolheu como se fosse um herói... fiquei me perguntando "o que faz um povo inteligente como o alemão, idolatrando o cara como se ele fosse o salvador do mundo?". Era mais que óbvio que Obama estava pleiteando a presidência pra cuidar do seu quintal, da economia dos USA. O fato de cometer o mesmo crasso erro do Bush me leva a crer que o sujeito é outro pau mandado dos Senhores da Guerra. E nós seremos mais uma vez obrigados a assistir de camarote o assassinato ao vivo de milhares de pessoas. Jornalistas de todo o mundo ficarão a postos num prédio previamente selecionado pelas forças americanas para filmar tudo e faturar bilhões de dólares vendendo as imagens das mortes dos novos inocentes.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

DESREGRADOS

As pessoas instalam as regras, e as regras tornam-se sagradas. Não porque sejam as mais certas e necessárias, mas porque tudo que foi estabelecido parece impossível de se mudar, como aquelas "porcas" de metal que enferrujam em torno do parafuso e depois não querem sair. Só se soltam à base de marteladas, bem o sabem os mecânicos. 
Você pensa que vive num mundo onde ocorrem muitas revoluções por minuto, tudo muda o tempo todo, as cores, as formas, a moda, enfim. Mas nas profundezas do nosso sistema, tudo está como sempre foi. Estamos emperrados, empedrados, paralisados num tempo em que se adora os reis (do dinheiro, do futebol, da moda), em que se despreza e se pisa os fracos, em que se violenta e se machuca os pequeninos. Para os modernos homens brutos, toda delicadeza é "viadagem", toda sensibilidade é sinal de fraqueza, todo gesto polido é uma temeridade. Nunca fomos tão machistas, tão racistas e preconceituosos como nos dias que correm. A televisão manda comprar, acreditamos que é essa a regra moderna, então compramos todos esses belos produtos das vitrines como se fossem a salvação, e depois eles são jogados num canto, inutilizados em forma de lixo.
Saia pra fora, respire, vá caminhar no meio do mato, onde não existem regras. Observe os bichos, vivem sem leis e não se sabe de um deles que tenha morrido de estresse — pelo menos, enquanto não caiu nas mãos humanas. Dê uma olhada numa loja veterinária, todos aqueles pássaros engaiolados. São uma beleza a ser levada pra casa, ou são o símbolo da aflição humana? Nós engaiolamos peixes, tigres, pássaros, pessoas, sentimentos! Dá uma olhada numa Câmara Municipal, aqueles homens cheios de regras. O que fazem com suas sagradas leis, senão perpetuar a incoerência, a estática, o tédio? É preciso romper a regra, deixar voar os pássaros, soltar mais uma vez o velho grito de liberdade, esse pássaro raro que cresceu nas profundezas de nossas almas oprimidas...

terça-feira, 27 de agosto de 2013

VOCÊ SABE?

A vida comum, regrada, dentro da lei, tem suas vantagens, e a maior delas é o conforto. E o prazer, para aqueles que conhecem os meios da sua fruição. Posso passar a vida seguindo essa linha reta, sem solavancos, sem abismos e penhascos, um caminho de delicadas colinas e inclinações suaves, rumo ao fim!
Eu não arrisco nada fora do riscado, não me levanto contra as opressões, não me revolto contra os pequenos ditadores que encarceram minha vida. E aqueles que arriscam sair desse riscado, evadir-se do leito confortável desse rio de águas mornas, aqueles são os temerários aventureiros que temo, que julgo e condeno. Mas no fundo sei que eles sabem coisas que eu não sei.

Tem coisas que o cego sabe que eu não sei. Tem coisas que o velho sabe que eu não sei. Tem coisas que o surdo sabe que eu não sei. Tem coisas que o aleijado sabe que eu não sei. Tem coisas que o cubano sabe que eu não sei. Tem coisas que o drogado sabe que eu não sei. Tem coisas que a mãe solteira sabe que eu não sei. Tem coisas que o índio sabe que eu não sei. Tem coisas que o pirata sabe que eu não sei. Tem coisas que o pecador sabe que eu não sei. Tem coisas que o favelado sabe que eu não sei. Tem coisas que o homossexual sabe que eu não sei. Tem coisas que a prostituta sabe que eu não sei. Tem coisas que o animal silvestre sabe que eu não sei. Tem coisas que o aluno reprovado sabe que eu não sei. Tem coisas que o aluno negro sabe que eu não sei. Tem coisas que condenado à morte sabe que eu não sei. Tem coisas que o náufrago sabe que eu não sei. Mas todas as coisas que eu não sei, o Tempo sabe. E a sabedoria do Tempo é tamanha que até o futuro ele sabe, pois ele é a única coisa deste mundo que existe também no futuro. O Tempo não existe, é invenção humana, mas então, o que é mesmo que eu sei?

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O GÓTICO

Chegamos da escola, antes de descer do carro Julian faz uma cara de mau, cruza os braços e recusa-se a sair.
— Vou ficar aqui!
— O que foi, filho?
— Pai, você não ta entendendo. Eu quero ser gótico!
— Gótico? Por que, filho?
— Agora, sempre que eu sair pra algum lugar, eu quero ir de roupa preta. Não quero mais roupa clara, como esta do uniforme.
— Isso é ser gótico?
— É!
— Tudo bem, se você quiser... vamos ver se você tem alguma roupa preta pra se vestir de gótico.
— Tô brincando, pai! É tudo mentira!
Dizendo isso abre um sorriso, abre a porta do carro e sai correndo, deixando um rastro de cores e luzes por onde passa.

CAMINHAR

Num tempo remoto as pessoas saíam caminhar

quando queriam ir a algum lugar.

Hoje elas caminham quando querem se cansar

e cansadas sempre voltam ao mesmo lugar.

Naquele tempo remoto,

o maior objetivo do dia

era descansar!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

GENTE SOFISTICADA

É visível em todo tempo e lugar um grupo de pessoas que se acham escolhidas pelo destino para ser "elite". Cultivam suas qualidades, o que é louvável, mas apresentam ao público como prova de que participam de um pequeno rol de privilegiados. Discutem com grande propriedade os assuntos considerados culturais, que podem variar entre um velho disco de Edith Piaf, uma litogravura de Escher ou a última teoria sobre o mercado imobiliário. E quando olham para a periferia (não somente a favela, mas todo aquele bando de gente grosseira que não entende nada dessas coisas finas das pessoas culturais), essas pessoas culturais têm a certeza de que aquelas outras pessoas foram construídas com um material de terceira e não merecem nada mais que permanecer em suas choças mentais. 
Essas pessoas da Primeira Classe não percebem e não perceberão que seu olhar sobre os considerados seres inferiores constitui em si mesmo uma deficiência grave, que os põe numa condição de fragilidade, a qual poderá arrebentar ao menor sinal de força contrária. E o motivo é simples: baseia-se num equívoco. Pois todas as criaturas, seja um Nobel da Física ou um rato de esgoto, são construções de altíssima sofisticação. Mesmo o caboclo que mora nos fundos do sertão cumpre um ciclo de vida extremamente complexo, que ele próprio percebe em alguns instantes de rara clarividência, especialmente quando começa a intuir a aproximação de sua própria morte. Talvez a arrumadeira de camas do hotel não tenha grandes estudos para saber dos novos conceitos de realidade, mas ela certamente detém um conhecimento bastante profundo sobre as origens da sua própria dor, ou dos seus desejos inconfessados, ou dos prazeres que desfruta às escondidas da sociedade que a classifica como um ser inferior, ou, no máximo, de qualidade mediana.
A realidade mundana é extensa, grandiosa e soberana sobre os nossos processos mentais. Queiramos ou não, o ser humano é um pequeno detalhe num universo grandioso. Queremos deter toda a gama de conhecimento disponível em nosso entorno, para mostrar o quanto somos especiais, mas o maior sábio de todos os tempos, o Senhor Tempo, vem para desfazer todos os equívocos. E ele nos mostra que todos os narizes empinados caíram, e todo o seu orgulho foi por terra, dissolveu-se, desapareceu. E já faz tempo que o mais simples dos mortais deu-se conta que, ao final de tudo, Dona Morte encarrega-se de aplainar todas as diferenças.
Você pode acreditar que se encontra num grupinho de gente fina, cada um com um papo mais legal que o outro. Mas quando você chega em casa, a verdade da sua vida é você e o seu rosto no espelho. O que você vê?

quarta-feira, 31 de julho de 2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

CACA

O uísque foi abandonado, mas reservava-se o direito de revisitá-lo em alguns instantes especiais. O cigarro foi mais difícil. Era um vício tão pertinaz que livrar-se dele converteu-se no maior objetivo da vida do viciado. A agonia de dez anos chegou ao zênite no momento em que a filha de um cliente do jornal, vendo Rubens prestes a acender um cigarro, dirigiu-se a ele, tomou o objeto, deu uns passinhos mal equilibrados até a porta do escritório, atirou-o fora e disse “caca!”. Aquele foi um instante luminoso, que pedia uma atitude equivalente. Rubens já havia reduzido os vinte cigarros iniciais para quatro ou cinco ao dia, mas ainda sofria com dores de garganta, resfriados freqüentes, o fedor nas mãos, o amargo na boca e o pior, a certeza de que estava contribuindo para uma morte prematura. Sentia-se um fracasso rematado quando, nariz escorrendo, cabeça doendo, sem conseguir extrair sabor nenhum daquele cilindro maldito, acendia mais um, na inútil tentativa de perceber alguma essência redentora na névoa aromática. Tinha a certeza de que um buraco profundo se abriria à frente, perderia o chão se não fumasse o próximo. Mas quando a garotinha deu-lhe aquele sinal, pensou que havia urgência. Nos dias seguintes convenceu-se de que usava o cigarro para apaziguar o medo de errar na presença de outros, pois raramente fumava quando estava sozinho. Decidiu que, se fosse necessário, xingaria quem estivesse próximo, mesmo sem uma grande razão, desde que conseguisse se livrar daquele tormento. E obteve êxito, apesar de algumas mágoas que causou.
(Do livro "O Milagre da Lagoa das Lágrimas", inédito)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

domingo, 30 de junho de 2013

sábado, 29 de junho de 2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

segunda-feira, 10 de junho de 2013


Os cães de raça,
por trás da cerca,
sempre uivam
quando passa livre
um vira-latas.
A ética burguesa
e suas bravatas.

sábado, 8 de junho de 2013

A LIBIDO DO VELHO E O LIXO MENTAL

A libido existe, não dá para fingir que não há. Faz décadas ela representa a energia sexual, ou qualquer coisa que se manifesta nos seres (humanos ou não) como um desejo de tocar (e degustar) um representante do sexo oposto (ou não). Nem mesmo o preconceito religioso é capaz de reduzi-la, ou extingui-la, pois é ela que proporciona a sobrevivência da Criação Divina. Então, não há nada de errado no falar sobre a libido (ou o sexo), pois é coisa de Deus!

Mas é necessário cautela quando avaliamos nossos desejos, à beira dos 50 anos. A aparente perda de libido faz pensar que estamos acabados. Você pode imaginar todas as possibilidades com aquela mulher charmosa que passa pela sua rua, mas quando tenta sentir, não sente muita coisa. Nem mesmo ciúmes dela, ou inveja do rapagão que, dentro de algumas horas, estará com ela entre quatro paredes. A decadência manifesta: a ausência de um referencial de desejo, e o vazio exigindo interpretações que tragam um mínimo de conforto existencial.

Se você conseguir aceitar o status que o Tempo lhe outorga, poderá desfrutar nessa mesma perda de suas antigas aspirações românticas um láudano, um agradável sedativo, um amortecimento. Esquece aquelas inesquecíveis horas que vazaram feito mel entre seus dedos, entre seus dentes. Seus sentidos estão se esvaindo, sua alma se aquieta, seu coração pede descanso!

Mas então alguma coisa acontece, e ela — a libido — se manifesta de forma vigorosa — para não dizer violenta — no seu velho e esquecido corpo. Então você percebe que esses rapazes moderninhos não sabem olhar uma mulher, nem extrair junto com ela os mais doces e inebriantes sabores, que somente os corpos livres de conceitos sabem proporcionar. E descobre que não se trata exatamente de um cansaço do corpo aquela falta de desejo, mas de um excesso de massa mental, verdadeiro lixo acumulado em seu cérebro, que atravanca a passagem dos sentimentos como num rio o acúmulo de folhas e galhos desanima o fluxo da água.

Os corpos estão plenos aos 50 ou 60 anos. Ensinados, prodigiosos, deliciosos como nunca. Lembre-se que a mais doce das laranjas não é aquela que esbanja cores e brilhos, mas aquela cuja casca já está rajadinha, e a consistência nem é das mais duras. Se você tem 20 ou 30 anos vai pensar que isso é uma tolice. Parece uma afronta dizer que velhos têm libido, que fazem sexo! Mas a verdade é que a maior tolice é a aquela que a TV, as revistas e a internet enfiaram dentro da sua cabeça, meu caro jovem! Quando chegar aos 50, você perceberá que o seu corpo sabe sorver a vida com muito mais facilidade, intensidade e precisão do que nos anos verdes. O sexo aos 20 ou 30 anos pode parecer bonito na sua forma plástica, mas no campo da sensibilidade a diferença é brutal. Algo como degustar uma insossa salada de alface para depois experimentar uma inebriante muqueca de camarão. Não é por acaso que vemos, com certa freqüência, velhinhos namorando moças, velhinhas namorando rapazes. Ficamos escandalizados, como já nos escandalizamos com moças andando de calças e com homens usando cabelos compridos. Mas excetuando aqueles deprimentes casos de “amor comprado” (aqueles políticos velhos e babões desfilando com loiras bombadas na Costa do Sauipe), a gente só pode suspeitar que a(o) jovem encantou-se com os acordes do(a) velho(a).

Sim, talvez vocês não saibam, mas os velhos têm um sexo muito mais satisfatório que o dos jovens. Obviamente, muito poucos velhos sabem disso! Foram tantos os momentos de medo, de decisões terríveis, de confrontos dramáticos, de derrotas, de horror! E tão poucas as vitórias, tão mínimas as conquistas! Mesmo aquele que conquistou um império, sente-se exausto, parece que deu muito de si e a recompensa é escassa. Pois não consegue desfrutar cada um dos centavos amealhados, somando-os um a um para um pleno deleite. O cérebro está inchado com os 50 anos de uma vida mal interpretada, mal compreendida, mal aceita e mal vivida. A mente encheu-se de entulhos e pensa que foi o corpo que travou! Mas o corpo está sempre limpo, livre e pronto para a próxima estação romântica.

Os remédios receitados para a recuperação da virilidade podem ter seus efeitos positivos, mas sempre deixarão um homem com um sentimento de impotência. Ele certamente preferiria recuperar suas capacidades através de seus próprios méritos. Poderá fazê-lo a qualquer tempo, desde que se disponha a participar de uma das muitas terapias criadas para retirar o lixo mental.

terça-feira, 4 de junho de 2013

sexta-feira, 31 de maio de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O FIM DOS DESMANCHES

Não é porque perdi três carros para os ladrões que estou escrevendo isso. É, sim, porque quero ajudar nossa sociedade acabar com o banditismo, seja o de colarinho branco, seja o de capacete preto.
A solução para o roubo de carros é simples, rápida e eficaz. Todo policial sabe que os ladrões preferem roubar carro velho, que geralmente não tem alarme e sistema anti-roubo. Sugiro que a polícia dos grandes centros espalhe algumas dezenas de automóveis velhos pelas ruas, e deixe-os dormindo ali durante alguns dias. Considerando as estatísticas (perdi meus três carros no decorrer de 7 anos, em Curitiba e Cascavel, sem contar umas tr6es tentativas mal-sucedidas), em menos de uma semana todos terão desaparecido. Aí a polícia, QUE SABIAMENTE BOTOU CHIP EM TODOS OS CARROS, conecta o satélite, vai atrás, encontra e desmancha todos os desmanches.
Fácil, não? Nada disso! Extremamente difícil. Sabe por quê? Porque a polícia não quer acabar com o problema. E tem mais gente que não quer. Mandei essa sugestão para os principais meios de comunicação do Paraná e ela não foi publicada uma única vez. Por quê?