terça-feira, 23 de abril de 2013

A GUERRA DO SALTO SÃO FRANCISCO


Prudentópolis e Guarapuava se confrontam numa competição infantil 
pela posse do maior atrativo natural do Centro-Sul do Paraná.

A primeira lição que os agentes de desenvolvimento turístico ensinam sobre sua atividade é que nessa área não existe competição, mas parcerias. Quando um novo hotel ou restaurante se instala na cidade turística, aumentam as possibilidades de escolha do visitante. Na volta para casa, ele relata aos amigos e parentes a experiência vivida naquela cidade. Com isso o número de visitantes e turistas tende a crescer, multiplicando a renda de todos os empreendedores.
Quando um município investe em atrativos turísticos, está multiplicando suas possibilidades de faturamento, e também as de seus vizinhos. Com isso crescem as alternativas de lazer, entretenimento, hospedagem e gastronomia. Como consequência, aumenta a circulação de turistas e visitantes em todos os municípios da região.
O maior entrave ao desenvolvimento do turismo costuma ser o medo e a desconfiança de que o vizinho vai ganhar mais. Isso pode ocorrer entre empresários, e também entre municípios. É o que está acontecendo na região Centro-Sul e Centro do Paraná, onde Prudentópolis e Guarapuava brigam pela posse do Salto São Francisco.
Com seus 196 metros de queda livre, o Salto São Francisco é uma maravilha incrustada nas reentrâncias da Serra da Esperança. Ele soma-se a dezenas de outros grandes saltos que, nas últimas décadas, proporcionaram a Prudentópolis o epíteto de "Terra das Cachoeiras Gigantes".  

Entenda o caso 
O atrativo natural localiza-se numa área de fronteira entre os municípios de Prudentópolis, Guarapuava e Turvo. Como as demarcações não estavam claras nos mapas (uma empresa local havia mudado o curso de um riacho, alterando as configurações da divisa), Guarapuava decidiu pleitear a posse da cachoeira, causando indignação dos prudentopolitanos. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente promoveu uma reunião para discutir o tema, mas os representantes de Prudentópolis (gestão Vilson Santini) não compareceram, e foi decidido que a cachoeira encontrava-se em área de tríplice fronteira. Segundo consta, após estudo cartográfico solicitado por Guarapuava ao Estado, o Salto São Francisco passou a ser território guarapuavano, aumentando as discussões entre os municípios envolvidos. A partir de então, Guarapuava começou a divulgar o salto como sendo seu. A prefeitura daquele município fez uma devastação no entorno do salto, destruiu um cemitério indígena, construiu lanchonete, posto de guarda e banheiros. Em cada lixeira acrescentou a logomarca daquela prefeitura. A contenda esquentou, pois lideranças prudentopolitanas resolveram retomar a posse da cachoeira.
O Escritório Regional da Secretaria de Estado do Turismo do Paraná realizou três reuniões na cidade de Turvo, em 2009, com representantes dos três municípios, para debater a questão, mas não houve acordo. Os prudentopolitanos já não querem abrir mão do que consideram propriedade de seu município.

Uma nova visão 
Se os envolvidos na polêmica dessem uma olhada nas experiências de outros pólos turísticos paranaense, perceberiam que essa controvérsia é tão infantil quanto inútil. Quando os agentes turísticos anunciam pacotes respectivos a Curitiba, por exemplo, vendem não somente a capital paranaense, mas também o Litoral, Vila Velha, o Cânion Guartelá, e até Foz do Iguaçu, que fica a "apenas uma hora de vôo".
Outro exemplo são as próprias Cataratas do Iguaçu: quem estará disposto a brigar pela sua posse? Brasileiros e argentinos faturam com o turismo local. Inclusive os paraguaios, que em função de Foz do Iguaçu transformaram Cidade del Leste no maior centro financeiro de seu país.
O turista que visita o Salto São Francisco não vê fronteiras definidas no meio da floresta. Pouco lhe interessa se o Salto encontra-se em Prudentópolis, Turvo ou Guarapuava. O que importa é contemplar a exuberância da "cachoeira gigante". Para o turista, saber que o Salto São Francisco está no Paraná, ou no Brasil, é mais do que suficiente.
Qualquer agente turístico do país pode promover viagens àquele local, assim como todo brasileiro é livre para construir hotéis e restaurantes para acolher seus visitantes.
Se os três municípios somarem força e inteligência para divulgar suas atrações — cachoeiras e cultura ucraniana em Prudentópolis, infra-estrutura hoteleira e gastronômica em Guarapuava, reserva indígena em Turvo — todos sairão ganhando.
Unidos, tais municípios serão uma realidade econômica e turística. Do contrário, continuarão sendo apenas um potencial turístico do Estado do Paraná!
Parabéns àqueles que souberem explorar de forma sustentável o Salto São Francisco, uma maravilha realmente digna de prestígio que, acima de tudo, pertence ao planeta Terra.

Nenhum comentário: