Prudentópolis e Guarapuava se
confrontam numa competição infantil
pela posse do maior atrativo
natural do Centro-Sul do Paraná.
A primeira lição que os agentes de desenvolvimento
turístico ensinam sobre sua atividade é que nessa área não existe competição,
mas parcerias. Quando um novo hotel ou restaurante se instala na cidade
turística, aumentam as possibilidades de escolha do visitante. Na volta para
casa, ele relata aos amigos e parentes a experiência vivida naquela cidade. Com
isso o número de visitantes e turistas tende a crescer, multiplicando a
renda de todos os empreendedores.
Quando um município investe em atrativos turísticos, está
multiplicando suas possibilidades de faturamento, e também as de seus vizinhos.
Com isso crescem as alternativas de lazer, entretenimento, hospedagem e
gastronomia. Como consequência, aumenta a circulação de turistas e visitantes
em todos os municípios da região.
O maior entrave ao desenvolvimento do turismo costuma ser o
medo e a desconfiança de que o vizinho vai ganhar mais. Isso pode ocorrer entre
empresários, e também entre municípios. É o que está acontecendo na
região Centro-Sul e Centro do Paraná, onde Prudentópolis e Guarapuava
brigam pela posse do Salto São Francisco.
Com seus 196 metros de queda livre, o Salto São Francisco é
uma maravilha incrustada nas reentrâncias da Serra da Esperança. Ele soma-se a
dezenas de outros grandes saltos que, nas últimas décadas, proporcionaram a
Prudentópolis o epíteto de "Terra das Cachoeiras Gigantes".
Entenda o caso
O
atrativo natural localiza-se numa área de fronteira entre os municípios de
Prudentópolis, Guarapuava e Turvo. Como as demarcações não estavam claras
nos mapas (uma empresa local havia mudado o curso de um riacho, alterando as configurações da divisa), Guarapuava decidiu pleitear a posse da cachoeira,
causando indignação dos prudentopolitanos. A Secretaria de Estado de Meio
Ambiente promoveu uma reunião para discutir o tema, mas os representantes
de Prudentópolis (gestão Vilson Santini) não compareceram, e foi decidido que a
cachoeira encontrava-se em área de tríplice fronteira. Segundo consta, após
estudo cartográfico solicitado por Guarapuava ao Estado, o Salto São Francisco
passou a ser território guarapuavano, aumentando as discussões entre os
municípios envolvidos. A partir de então, Guarapuava começou a divulgar o salto
como sendo seu. A prefeitura daquele município fez uma devastação no entorno do salto, destruiu um cemitério indígena, construiu lanchonete, posto de guarda e banheiros. Em cada lixeira acrescentou a logomarca daquela prefeitura. A contenda esquentou, pois lideranças prudentopolitanas
resolveram retomar a posse da cachoeira.
O Escritório Regional da Secretaria de Estado do Turismo do
Paraná realizou três reuniões na cidade de Turvo, em 2009, com representantes
dos três municípios, para debater a questão, mas não houve acordo. Os
prudentopolitanos já não querem abrir mão do que consideram propriedade de seu
município.
Uma nova visão
Se os
envolvidos na polêmica dessem uma olhada nas experiências de outros pólos
turísticos paranaense, perceberiam que essa controvérsia é tão infantil quanto
inútil. Quando os agentes turísticos anunciam pacotes respectivos a Curitiba,
por exemplo, vendem não somente a capital paranaense, mas também o
Litoral, Vila Velha, o Cânion Guartelá, e até Foz do Iguaçu, que fica a
"apenas uma hora de vôo".
Outro exemplo são as próprias Cataratas do Iguaçu: quem
estará disposto a brigar pela sua posse? Brasileiros e argentinos faturam com o
turismo local. Inclusive os paraguaios, que em função de Foz do Iguaçu
transformaram Cidade del Leste no maior centro financeiro de seu país.
O turista que visita o Salto São Francisco não vê
fronteiras definidas no meio da floresta. Pouco lhe interessa se o Salto
encontra-se em Prudentópolis, Turvo ou Guarapuava. O que importa é contemplar a
exuberância da "cachoeira gigante". Para o turista, saber que o Salto
São Francisco está no Paraná, ou no Brasil, é mais do que suficiente.
Qualquer agente turístico do país pode promover viagens
àquele local, assim como todo brasileiro é livre para construir hotéis e
restaurantes para acolher seus visitantes.
Se os três municípios somarem força e inteligência para
divulgar suas atrações — cachoeiras e cultura ucraniana em Prudentópolis,
infra-estrutura hoteleira e gastronômica em Guarapuava, reserva indígena em
Turvo — todos sairão ganhando.
Unidos, tais municípios serão uma realidade econômica
e turística. Do contrário, continuarão sendo apenas um potencial turístico do
Estado do Paraná!
Parabéns àqueles que souberem explorar de forma sustentável
o Salto São Francisco, uma maravilha realmente digna de prestígio que, acima de
tudo, pertence ao planeta Terra.
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