Você não deve matar as baratas. Não somente porque é uma tremenda sacanagem agredir um animal tão minúsculo, mas também porque se trata de um método prosaico e ineficaz. Se não gosta de baratas circulando pela sua casa, siga comigo a trajetória do sujeito que criou a solução para livrar-se delas de forma eficiente, definitiva e sem culpas.
Nascido em Prudentópolis, dono de uma objetividade irritante, o engenheiro químico Roberto Zenzeluk passou em primeiro lugar no concurso para analista da Fatma, o instituto ambiental de Santa Catarina. Em poucos meses descobriu o gigantesco esquema de propinas envolvendo funcionários da instituição e empresas do ramo imobiliário. Roberto recusou-se a receber os adendos oferecidos para assinar projetos ambientalmente incorretos. Após receber ameaças de bandidos e de autoridades, não se deu por vencido e fez denúncia no Ministério Público. Não satisfeito, deu entrevista num jornal de grande circulação na região de Itajaí, denunciando toda a podridão dos licenciamentos ambientais criminosos — que têm resultado em bairros residenciais alagados, morros desmoronados, etc.
Chamado pelo promotor para dar explicações sobre uma situação espinhosa, na qual Roberto via-se prestes a cair numa arapuca armada por superiores em conluio com empresários, o servidor apresentou-se no fórum com um cubo mágico nas mãos. Enquanto respondia aos questionamentos da autoridade, Roberto rolava o cubo, fazendo encaixar as peças, e nesse exercício ia mostrando ao promotor como funciona a sociedade humana. Num cubo mágico, segundo ele, há diversos graus de hierarquia entre as peças. Uma delas pode lhe servir num dado momento para “lograr” o próprio cubo, enquanto você tenta encaixar as peças do outro lado. Há peças fixas, outras móveis, há peças mandantes, outras dependentes.
Ao fim do arrazoado, Roberto tinha seu cubo feito, com os seis lados perfeitamente encaixados em suas devidas cores.
Roberto é daqueles personagens que se vê somente em filmes. Quando era pescador, preferia autodenominar-se “halieuta”. Ensinou-me técnica infalíveis para apanhar várias espécies de peixes, mas os últimos anos abandonou completamente as pescarias. Agora só vai ao rio para apreciar a grandiosidade das pequenas coisas, como os insetos em sua fabulosa faina, os musgos e outros minúsculos seres que adornam os troncos das árvores.
No diálogo cotidiano, Amanda, esposa de Roberto, desafiou-o a usar sua perspicácia para eliminar as baratas de sua casa, localizada na cidade de Bombinhas/SC. Ela já havia tentado todo tipo de veneno, mas as bichinhas insistiam no inquilinato. Roberto perguntou a Amanda por que as baratas passeavam pela cozinha. Amanda respondeu que provavelmente por causa dos restos de comida, que inevitavelmente restavam pelos cantos, mesmo após passar a vassoura, o pano e o desinfetante. “Então a solução é simples”, disse Roberto. “Dê comida pra elas em outro lugar”. Amanda não acreditou de imediato numa solução tão fácil. Imagine, dar comida pra barata! Mas cedeu ao argumento e fez o teste.
A casa desses meus amigos agora tem restaurante próprio para baratas, debaixo da goiabeira que cultivam no fundo do quintal. Na casa sobraram somente os humanos, além de uma ou outra traça e aranha, porém uma lagartixa mantém o local sob um razoável equilíbrio.
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