A verdade é um bicho
da família dos lagartos.
Na hora que você pega,
ela solta o rabo
e continua correndo.
A verdade trabalha incansável para se estabelecer, e ela não falha jamais. Todo o momento presente é a manifestação plena da verdade. E ela se expressa mesmo nos maiores embustes, nas representações teatrais cotidianas, nos prêmios obtidos com mentiras, nas falcatruas políticas e nos ardis empresariais. Uma seqüência de circunstâncias estabelece a realidade mundana, que consideramos falha e enfermiça. Mas a realidade nada mais é do que a verdade cristalizada num determinado momento. Algumas instituições humanas preferem a verdade feito pedra, estagnada no tempo, mas ela é dinâmica, fluida e desimpedida, mesmo nas circunstâncias de tirania e aprisionamento. A tirania e a falcatrua ocorrem porque a verdade dos homens é ainda o medo da fome, do desabrigo e da doença. Um político rouba porque tem medo da fome, do frio, da morte, ou porque tem ânsia de poder, de glamour e de adoração. A verdade da natureza humana, em seu processo evolutivo, estabelece a realidade de seus crimes. A insegurança conduz à mentira; a verdade do homem é a insegurança e a realidade é a sua mentira. O ato do engodo diz a verdade do que é o homem no instante presente, em que ele mente e engana. O teatro diário, em que nos pregamos mentiras de todos os gêneros, é a nossa verdade presente, que estabelece a nossa realidade. A verdade perpassa, portanto, cada um dos nossos atos, mesmo os mais ardilosos, mentirosos e mesquinhos. Mas os atos de uma grande boa vontade nem sempre obtém o tilintar do sino de uma grande verdade. Porque ela está disseminada no conjunto de todas as coisas, e podemos cometer erros de julgamento quando ansiamos por uma verdade feito um pacote bem definido. A verdade é uma entidade amoral, independente dos julgamentos humanos. Exceto aquelas verdades produzidas pelo homem com essa denominação, e que podem desaparecer sob um sopro ou um espirro. Mas a verdade também é o ato generoso, que ocorre em muitos locais ignorados e raramente divulgados. A verdade contabiliza todo o processo, mas não julga, nem condena. A verdade trabalha para o estabelecimento da harmonia, como num lago as ondas trabalham para o estabelecimento de uma superfície cristalina. No mundo humano, como na mais profunda floresta, a verdade nos mostra que o produto final da podridão não é a doença e a morte... são as flores e os frutos.
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