sábado, 27 de abril de 2013

UM TESÃO, PÔ!


Quando eu tinha 13 anos, em duas ocasiões deixei em pé os cabelos da minha melhor professora de todos os tempos, Dona Dália Carpinski (nome fictício, devido ao conteúdo da matéria, em respeito à memória e à dignidade da professora). 
Numa aula ela pediu para eu ir ao quadro negro acentuar palavras. Uma dela era formada pelas letras “p”  e “o”. Não tive dúvidas, tasquei um acento circunflexo: “pô”. Dona Dália ficou muito chateada, pois me considerava um bom aluno. A palavra pô era uma das muitas gírias que circulavam pela cidade, mas não podia participar do vocabulário de um garoto, e muito menos freqüentar uma aula de português. Embora pouca gente tocasse no assunto, todo mundo sabia que pô era a forma sincopada do palavrão “porra”, que na sua forma científica significa "sêmen masculino impregnado de espermatozóides", ou algo semelhante.
Mas o pior estava por vir. Semanas adiante, o que eu fiz foi uma verdadeira pisada no tomate. Toda segunda-feira era dia de ler a redação da semana. Na sexta-feira D. Dália nos oferecia dois títulos, e, a partir deles,  no fim de semana devíamos fazer duas redações. Uma delas seria lida na frente da turma. Reuníamo-nos em equipes de quatro ou cinco alunos, e uma das redações de cada equipe era eleita a melhor pelo resto da turma. O vencedor da semana recebia um visto de Dona Dália. No final do bimestre, quem tivesse quatro vistos ganharia como bônus um ponto extra no boletim.
Naquela segunda-feira trágica, no momento em que eu passava ao lado da mesa da professora para ir ler a redação, ela por acaso me perguntou como foi meu final de semana. E a resposta que lhe dei: “Foi um tesão, professora”. A turma riu, e Dona Dália não sabia onde se esconder. Aquilo acabou com seu humor. Não me deu nenhum castigo, não era de sua índole, mas certamente perdi algo da sua simpatia naquela manhã.
A verdade é a verdade de cada época. Muitas palavras proibidas agora circulam livremente nas bocas das pessoas, sem causar espanto ou dano. Na década de 1970, mulher que usasse calças, que chamávamos de “slacks”, era uma escandalosa. Para muitos, era algo absolutamente imoral. Alguns religiosos condenavam as moças ao inferno. Quem, nos dias atuais, pode conceber uma coisa dessas? Por que condenaríamos uma mulher por usar calças?
As coisas em que acreditávamos 30 anos atrás estão completamente transformadas. Talvez não na estrutura física, mas na concepção que temos delas. 
Quando o presidente da Câmara de Prudentópolis manda a população de Prudentópolis parar de comprar balaios dos índios para que eles não apareçam mais na nossa cidade, está se baseando num preconceito de décadas atrás, quando índio era tratado como lixo, estorvo, problema. Pessoas bem informadas sabem que os índios são merecedores de todo o nosso respeito. Do pó vieram e ao pó retornarão, como cada um dos cidadãos desta Terra. 
Seja como for, apesar de todos os atrasos representados por certos políticos, a vida continua sendo um tesão, pô!

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