Na convivência de quase meio século com meus amigos homens, percebi que a esmagadora maioria vê somente duas dimensões das mulheres: da forma e a da cor. É o que define uma mulher bonita, ou feia, eles acreditam. E a mídia reforça essa falsa idéia de que uma mulher se define por suas curvas (ou pela falta delas) e pela tonalidade da pele: branca, negra, amarela, vermelha, jovem ou velha.
Poucos percebem que a mulher existe em muitas outras dimensões. Não a da cor da pele, mas a do perfume natural que exala. Não a dos olhos, mas a do tom que põe em seu olhar. Não a das pernas, mas a do balanço do andar. Não a da boca, mas do jeito de beijar, e ainda mais, do gosto e do entusiasmo do seu beijo. Não a das palavras, mas do timbre e do modo de falar. A mulher também se realiza nos espaços de silêncio que deixa pela casa, na música que escolhe para tocar no rádio, nos gestos que oferece às primeiras horas da manhã e depois, antes do adormecer. Nos sussurros e nos tremores, nos momentos de tensão extrema e nos instantes do êxtase. Na forma de vestir as roupas, e também no modo de livrar-se delas. Nas coisas que ela conta numa hora desavisada e nos segredos irrevelados, nas respostas que devolve aos estímulos do seu homem, nas suas sugestões de filmes, de passeios e de viagens, na busca pelo dinheiro e na realização profissional, nas suas crenças ou na falta delas, nas suas lutas íntimas e nos instantes de choro.
Diante disse, e de tantas outras dimensões que compõem o corpo, a mente e a alma de uma mulher, a forma e a cor se apequenam, para compor junto com aquelas um todo verdadeiro. Uma mulher de belas formas, com as mais belas cores que lhe proporcionam a genética, a indumentária e a cosmética, é capaz de causar paixões instantâneas enquanto passa pela rua. Mas é somente aquela mulher inteira, com suas virtudes e defeitos, com seus dons, suas queixas e medos, com seus sonhos, esperanças e desconfortos, somente essa é capaz de se fazer realmente amada, desde que reconheça em si mesma suas múltiplas dimensões.
Muitos homens entristecem quando vêem sua «gatinha perfeita» perdendo as formas e as cores. Mal percebem que nessas horas ela está pronta para dar e receber o melhor da vida.
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