terça-feira, 30 de abril de 2013
AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DA MULHER
Na convivência de quase meio século com meus amigos homens, percebi que a esmagadora maioria vê somente duas dimensões das mulheres: da forma e a da cor. É o que define uma mulher bonita, ou feia, eles acreditam. E a mídia reforça essa falsa idéia de que uma mulher se define por suas curvas (ou pela falta delas) e pela tonalidade da pele: branca, negra, amarela, vermelha, jovem ou velha.
Poucos percebem que a mulher existe em muitas outras dimensões. Não a da cor da pele, mas a do perfume natural que exala. Não a dos olhos, mas a do tom que põe em seu olhar. Não a das pernas, mas a do balanço do andar. Não a da boca, mas do jeito de beijar, e ainda mais, do gosto e do entusiasmo do seu beijo. Não a das palavras, mas do timbre e do modo de falar. A mulher também se realiza nos espaços de silêncio que deixa pela casa, na música que escolhe para tocar no rádio, nos gestos que oferece às primeiras horas da manhã e depois, antes do adormecer. Nos sussurros e nos tremores, nos momentos de tensão extrema e nos instantes do êxtase. Na forma de vestir as roupas, e também no modo de livrar-se delas. Nas coisas que ela conta numa hora desavisada e nos segredos irrevelados, nas respostas que devolve aos estímulos do seu homem, nas suas sugestões de filmes, de passeios e de viagens, na busca pelo dinheiro e na realização profissional, nas suas crenças ou na falta delas, nas suas lutas íntimas e nos instantes de choro.
Diante disse, e de tantas outras dimensões que compõem o corpo, a mente e a alma de uma mulher, a forma e a cor se apequenam, para compor junto com aquelas um todo verdadeiro. Uma mulher de belas formas, com as mais belas cores que lhe proporcionam a genética, a indumentária e a cosmética, é capaz de causar paixões instantâneas enquanto passa pela rua. Mas é somente aquela mulher inteira, com suas virtudes e defeitos, com seus dons, suas queixas e medos, com seus sonhos, esperanças e desconfortos, somente essa é capaz de se fazer realmente amada, desde que reconheça em si mesma suas múltiplas dimensões.
Muitos homens entristecem quando vêem sua «gatinha perfeita» perdendo as formas e as cores. Mal percebem que nessas horas ela está pronta para dar e receber o melhor da vida.
Poucos percebem que a mulher existe em muitas outras dimensões. Não a da cor da pele, mas a do perfume natural que exala. Não a dos olhos, mas a do tom que põe em seu olhar. Não a das pernas, mas a do balanço do andar. Não a da boca, mas do jeito de beijar, e ainda mais, do gosto e do entusiasmo do seu beijo. Não a das palavras, mas do timbre e do modo de falar. A mulher também se realiza nos espaços de silêncio que deixa pela casa, na música que escolhe para tocar no rádio, nos gestos que oferece às primeiras horas da manhã e depois, antes do adormecer. Nos sussurros e nos tremores, nos momentos de tensão extrema e nos instantes do êxtase. Na forma de vestir as roupas, e também no modo de livrar-se delas. Nas coisas que ela conta numa hora desavisada e nos segredos irrevelados, nas respostas que devolve aos estímulos do seu homem, nas suas sugestões de filmes, de passeios e de viagens, na busca pelo dinheiro e na realização profissional, nas suas crenças ou na falta delas, nas suas lutas íntimas e nos instantes de choro.
Diante disse, e de tantas outras dimensões que compõem o corpo, a mente e a alma de uma mulher, a forma e a cor se apequenam, para compor junto com aquelas um todo verdadeiro. Uma mulher de belas formas, com as mais belas cores que lhe proporcionam a genética, a indumentária e a cosmética, é capaz de causar paixões instantâneas enquanto passa pela rua. Mas é somente aquela mulher inteira, com suas virtudes e defeitos, com seus dons, suas queixas e medos, com seus sonhos, esperanças e desconfortos, somente essa é capaz de se fazer realmente amada, desde que reconheça em si mesma suas múltiplas dimensões.
Muitos homens entristecem quando vêem sua «gatinha perfeita» perdendo as formas e as cores. Mal percebem que nessas horas ela está pronta para dar e receber o melhor da vida.
ACREDITE NA ESSÊNCIA
A intenção de criar um Estado nazista não morreu com Hitler. Persiste de forma sutil das Leis do Mercado, que pretendem planificar as consciências de forma que todos aceitem, aplaudam e comprem os produtos oferecidos. Se o mercado pudesse produzir homens em série, é certo que o faria, com o objetivo de facilitar e fortalecer o controle. Acossados pelos conceitos oferecidos pela mídia, os homens em geral não percebem o quanto perdem de suas vidas, ao excluírem de sua percepção os detalhes que a propaganda recobre e esconde com o propósito de vender produtos prontos e acabados.
Vejamos, por exemplo, a Mulher, o “produto” mais almejado pelos homens. A mídia acredita que na cabeça dos homens há um impulso primevo de desejar a mulher “tipo violão”, com cintura fina, quadril arredondado e balouçante, com pernas longas, nariz arrebitado, boca carnuda, andar de gazela, etc. Nos últimos anos, a mulher perfeita tornou-se alta, esguia, e tem necessariamente olhos de gata e cabelos lisos. E as mulheres se vêem obrigadas a correr atrás de academia, salão, farmácia, clínicas e benzedeiras para satisfazer a esse suposto querer masculino. Os homens, no entanto — à exceção dos travados — estão à procura de coisas mais preciosas que uma simples aparência. Um homem inteligente quer saber daquilo que a mulher guarda sob os véus de sua feminilidade. A começar pelo aspecto físico. Há detalhes anatômicos belíssimos nos corpos desprezados por aquele padrão midiático, que podem ser percebidos e desfrutados por um homem sensível. Além disso, cada mulher tem um comportamento único — pelo menos, aquelas que não se esforçam para entrar no padrão do mercado — gestos singulares que caracterizam suas personalidades, e que se traduzem em encanto e sedução. Um jeito só seu de oferecer carinho, um modo seu de receber uma carícia. Um cheiro exclusivo, uma textura de pele, um sabor inusitado, um murmurar jamais ouvido na história do mundo, um timbre de voz que só a ela foi dado, um jeito de andar e de abraçar que mais ninguém possui. Uma forma de expressar agrado e contentamento. Um jeitinho de pedir desculpas e uma tristeza rara no instante de chorar. Uma forma sua de segurar, ou de derrubar o pacote de compras, um modo seu de discutir e de perdoar. Quem fala destas coisas? Qual agência de publicidades trabalha com essas possibilidades, com a infinita gama de peculiaridades do gênero Mulher? A mídia trabalha convicta de que o “homem-médio” é um ignorante rematado, que jamais sairá das trevas, e oferece as informações que venham satisfazer esse homem-bruto, mantendo-o faminto (oferecendo produtos cada vez mais “perfeitos” e sofisticados), mas sereno o suficiente para que não saia à rua quebrando tudo. Não há projeto de mídia que vise melhorar o homem, exceto nesta mídia caótica e democrática chamada Internet.
Vejamos, por exemplo, a Mulher, o “produto” mais almejado pelos homens. A mídia acredita que na cabeça dos homens há um impulso primevo de desejar a mulher “tipo violão”, com cintura fina, quadril arredondado e balouçante, com pernas longas, nariz arrebitado, boca carnuda, andar de gazela, etc. Nos últimos anos, a mulher perfeita tornou-se alta, esguia, e tem necessariamente olhos de gata e cabelos lisos. E as mulheres se vêem obrigadas a correr atrás de academia, salão, farmácia, clínicas e benzedeiras para satisfazer a esse suposto querer masculino. Os homens, no entanto — à exceção dos travados — estão à procura de coisas mais preciosas que uma simples aparência. Um homem inteligente quer saber daquilo que a mulher guarda sob os véus de sua feminilidade. A começar pelo aspecto físico. Há detalhes anatômicos belíssimos nos corpos desprezados por aquele padrão midiático, que podem ser percebidos e desfrutados por um homem sensível. Além disso, cada mulher tem um comportamento único — pelo menos, aquelas que não se esforçam para entrar no padrão do mercado — gestos singulares que caracterizam suas personalidades, e que se traduzem em encanto e sedução. Um jeito só seu de oferecer carinho, um modo seu de receber uma carícia. Um cheiro exclusivo, uma textura de pele, um sabor inusitado, um murmurar jamais ouvido na história do mundo, um timbre de voz que só a ela foi dado, um jeito de andar e de abraçar que mais ninguém possui. Uma forma de expressar agrado e contentamento. Um jeitinho de pedir desculpas e uma tristeza rara no instante de chorar. Uma forma sua de segurar, ou de derrubar o pacote de compras, um modo seu de discutir e de perdoar. Quem fala destas coisas? Qual agência de publicidades trabalha com essas possibilidades, com a infinita gama de peculiaridades do gênero Mulher? A mídia trabalha convicta de que o “homem-médio” é um ignorante rematado, que jamais sairá das trevas, e oferece as informações que venham satisfazer esse homem-bruto, mantendo-o faminto (oferecendo produtos cada vez mais “perfeitos” e sofisticados), mas sereno o suficiente para que não saia à rua quebrando tudo. Não há projeto de mídia que vise melhorar o homem, exceto nesta mídia caótica e democrática chamada Internet.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
MAIS UMA SOBRE O BEM E O MAL
Todo dia ouço gente falando do Bem e do Mal. Mas você sabe de onde vem o Mal? Se quer uma pista, dê uma olhada numa flor de tabaco, numa dessas numerosas plantações em redor da nossa cidade. Não é uma das mais belas flores, considerando alguns abusos da Natureza na confecção de certas obras de arte. No entanto, apesar de sua simplicidade e singeleza, ela não deixa de ser muito bonita. Perfeita, inocente e exuberante, um desejo de vida. Como toda floração, busca subir acima das folhagens circunvizinhas para receber mais luz. Plenitude que ascende desde o amarelo até o lilás, desdobrando-se em cálice de cinco pontas, uma expressão da divindade, que quer atrair insetos para a polinização e fertilização. Ela não possui nenhum conhecimento sobre o “Mal”, não possui nenhuma instrução demoníaca. A flor do tabaco segue todas as regras que lhe são impostas pelas tradições das coisas do mato, proporcionando a reprodução de um vegetal que quer simplesmente viver, porque está vivo! Industrializadas, transformadas em fumo, em fumaça, em veneno, suas folhas produzirão o câncer e outras doenças pulmonares. Mas não é o tabaco o que mata o homem. É o homem que mata o homem. É o homem que produz o Mal para si mesmo. A planta não sai do campo para mandar o homem industrializá-la e incinerá-la. Se a mão do homem não arrancasse a folha de tabaco, não a transformasse em cigarros e charutos, não a queimasse e não respirasse as fumaças dessa destruição, ela não mataria o homem. E o tabaco seria somente mais uma, entre tantas plantas do mato, com suas folhas largas, com seu gosto amargo, com suas flores singelas.
A PRISÃO DE ANÍBAL KHURY E A ROUBALHEIRA DO PEDÁGIO
Em março de 1969 o Diário
d’Oeste, de Cascavel, noticiou a prisão dos deputados Aníbal Khury e Jorge Khury, em
Curitiba, no dia 13 daquele mês. Acusados de grilagem de terras pertencentes
aos índios, também pesavam sobre eles denúncias de corrupção, enriquecimento
ilícito e tráfico de influências, "devendo ser enquadrados nas penalidades do
Ato Constitucional nº 5", segundo o jornal.
Aníbal possuía uma área de 60
alqueires, na região sudeste da cidade de Cascavel. Durante o regime militar, o
governo desapropriou o local. Nessa área foram instalados a Vila Militar, o
Lago Municipal, o zoológico e o colégio Wilson Joffre.
Nos anos seguintes, Aníbal
tornar-se-ia o político mais influente do estado do Paraná, exercendo em
diversas legislaturas o posto de presidente da Assembléia Legislativa.
Mas a saga da família continua.
Aníbal tem um broto na Assembléia Legislativa do Paraná: seu neto Alexandre,
filho de Aníbal Khury Júnior e Jandira Maranhão Khury.
Outros coronéis da política paranaense têm
representantes na ALEP: Carli, Mattos Leão, Belinati, Borgheti,
Romanelli, Stephanes, entre outros. São os patrões da política paranaense, sempre votando
contra os interesses populares e em favor dos grandes grupos empresariais. Como
é o caso das concessionárias das rodovias, que já faturaram mais de R$ 20 bilhões, sendo R$ 15 bilhões de lucro líquido, segundo o deputado Kleiton Kielse. Isto é, a cada R$ 8,00 que pagamos, eles faturam limpo R$ 6,00. Em troca, aparam a grama ao lado das rodovias.
domingo, 28 de abril de 2013
O LADO SAUDÁVEL DA VERDADE
A verdade é um bicho
da família dos lagartos.
Na hora que você pega,
ela solta o rabo
e continua correndo.
A verdade trabalha incansável para se estabelecer, e ela não falha jamais. Todo o momento presente é a manifestação plena da verdade. E ela se expressa mesmo nos maiores embustes, nas representações teatrais cotidianas, nos prêmios obtidos com mentiras, nas falcatruas políticas e nos ardis empresariais. Uma seqüência de circunstâncias estabelece a realidade mundana, que consideramos falha e enfermiça. Mas a realidade nada mais é do que a verdade cristalizada num determinado momento. Algumas instituições humanas preferem a verdade feito pedra, estagnada no tempo, mas ela é dinâmica, fluida e desimpedida, mesmo nas circunstâncias de tirania e aprisionamento. A tirania e a falcatrua ocorrem porque a verdade dos homens é ainda o medo da fome, do desabrigo e da doença. Um político rouba porque tem medo da fome, do frio, da morte, ou porque tem ânsia de poder, de glamour e de adoração. A verdade da natureza humana, em seu processo evolutivo, estabelece a realidade de seus crimes. A insegurança conduz à mentira; a verdade do homem é a insegurança e a realidade é a sua mentira. O ato do engodo diz a verdade do que é o homem no instante presente, em que ele mente e engana. O teatro diário, em que nos pregamos mentiras de todos os gêneros, é a nossa verdade presente, que estabelece a nossa realidade. A verdade perpassa, portanto, cada um dos nossos atos, mesmo os mais ardilosos, mentirosos e mesquinhos. Mas os atos de uma grande boa vontade nem sempre obtém o tilintar do sino de uma grande verdade. Porque ela está disseminada no conjunto de todas as coisas, e podemos cometer erros de julgamento quando ansiamos por uma verdade feito um pacote bem definido. A verdade é uma entidade amoral, independente dos julgamentos humanos. Exceto aquelas verdades produzidas pelo homem com essa denominação, e que podem desaparecer sob um sopro ou um espirro. Mas a verdade também é o ato generoso, que ocorre em muitos locais ignorados e raramente divulgados. A verdade contabiliza todo o processo, mas não julga, nem condena. A verdade trabalha para o estabelecimento da harmonia, como num lago as ondas trabalham para o estabelecimento de uma superfície cristalina. No mundo humano, como na mais profunda floresta, a verdade nos mostra que o produto final da podridão não é a doença e a morte... são as flores e os frutos.
da família dos lagartos.
Na hora que você pega,
ela solta o rabo
e continua correndo.
A verdade trabalha incansável para se estabelecer, e ela não falha jamais. Todo o momento presente é a manifestação plena da verdade. E ela se expressa mesmo nos maiores embustes, nas representações teatrais cotidianas, nos prêmios obtidos com mentiras, nas falcatruas políticas e nos ardis empresariais. Uma seqüência de circunstâncias estabelece a realidade mundana, que consideramos falha e enfermiça. Mas a realidade nada mais é do que a verdade cristalizada num determinado momento. Algumas instituições humanas preferem a verdade feito pedra, estagnada no tempo, mas ela é dinâmica, fluida e desimpedida, mesmo nas circunstâncias de tirania e aprisionamento. A tirania e a falcatrua ocorrem porque a verdade dos homens é ainda o medo da fome, do desabrigo e da doença. Um político rouba porque tem medo da fome, do frio, da morte, ou porque tem ânsia de poder, de glamour e de adoração. A verdade da natureza humana, em seu processo evolutivo, estabelece a realidade de seus crimes. A insegurança conduz à mentira; a verdade do homem é a insegurança e a realidade é a sua mentira. O ato do engodo diz a verdade do que é o homem no instante presente, em que ele mente e engana. O teatro diário, em que nos pregamos mentiras de todos os gêneros, é a nossa verdade presente, que estabelece a nossa realidade. A verdade perpassa, portanto, cada um dos nossos atos, mesmo os mais ardilosos, mentirosos e mesquinhos. Mas os atos de uma grande boa vontade nem sempre obtém o tilintar do sino de uma grande verdade. Porque ela está disseminada no conjunto de todas as coisas, e podemos cometer erros de julgamento quando ansiamos por uma verdade feito um pacote bem definido. A verdade é uma entidade amoral, independente dos julgamentos humanos. Exceto aquelas verdades produzidas pelo homem com essa denominação, e que podem desaparecer sob um sopro ou um espirro. Mas a verdade também é o ato generoso, que ocorre em muitos locais ignorados e raramente divulgados. A verdade contabiliza todo o processo, mas não julga, nem condena. A verdade trabalha para o estabelecimento da harmonia, como num lago as ondas trabalham para o estabelecimento de uma superfície cristalina. No mundo humano, como na mais profunda floresta, a verdade nos mostra que o produto final da podridão não é a doença e a morte... são as flores e os frutos.
AMOR É CONSTRUÇÃO
Você pode acreditar que o seu amor vem de gerações passadas. Encontrou sua alma gêmea, e ela novamente sorriu para você. E o amor novamente floriu para vocês, num novo primeiro olhar.
Seria bom assim, um sentimento progressivo seguindo para o zênite! Mas a realidade dos dias traz as confusões, as frustrações, os rachas, as derrotas. E depois as retomadas, as reconquistas, a revitalização do amor, ou a sua dissolução. Então fica difícil acreditar em “almas gêmeas” e outras fantasias juvenis. Pois como pode minha alma gêmea me ferir?
Precisamos buscar outras interpretações, que tornem menos árdua, menos dolorosa e, principalmente, menos decepcionante esta busca.
Se quer ter um amor de verdade, não espere que aconteça, construa-o com suas próprias mãos. Somente assim saberá de toda a sua profundidade e beleza. O amor necessita de atitude, porque é algo que se constrói, não existe gratuitamente. Deixe-o abandonado, ele se deteriora, ou vai cantar em outra freguesia. É construção das mais finas, feita de tijolinhos minúsculos de múltiplos matizes. Um amor maduro é algo como uma pintura rococó, extravagantemente matizado, repleto de pequenos arranjos, de pequenos consertos, de alguns concertos, mas também de grandes gestos de solidariedade, de compreensão, de coragem e de paciência.
Não se deixe enganar por esses homens durões, que jamais falam em amor, e que só fazem cultivar suas virtudes de conquistadores. Como toda criatura, eles também são carentes e procuram amor. Quando exibem aos amigos as fotografias de suas conquistas amorosas, não fazem outra coisa senão admitir sua necessidade de carinho e conforto, que somente mulheres amorosas e apaixonadas são capazes de conceder.
Seria bom assim, um sentimento progressivo seguindo para o zênite! Mas a realidade dos dias traz as confusões, as frustrações, os rachas, as derrotas. E depois as retomadas, as reconquistas, a revitalização do amor, ou a sua dissolução. Então fica difícil acreditar em “almas gêmeas” e outras fantasias juvenis. Pois como pode minha alma gêmea me ferir?
Precisamos buscar outras interpretações, que tornem menos árdua, menos dolorosa e, principalmente, menos decepcionante esta busca.
Se quer ter um amor de verdade, não espere que aconteça, construa-o com suas próprias mãos. Somente assim saberá de toda a sua profundidade e beleza. O amor necessita de atitude, porque é algo que se constrói, não existe gratuitamente. Deixe-o abandonado, ele se deteriora, ou vai cantar em outra freguesia. É construção das mais finas, feita de tijolinhos minúsculos de múltiplos matizes. Um amor maduro é algo como uma pintura rococó, extravagantemente matizado, repleto de pequenos arranjos, de pequenos consertos, de alguns concertos, mas também de grandes gestos de solidariedade, de compreensão, de coragem e de paciência.
Não se deixe enganar por esses homens durões, que jamais falam em amor, e que só fazem cultivar suas virtudes de conquistadores. Como toda criatura, eles também são carentes e procuram amor. Quando exibem aos amigos as fotografias de suas conquistas amorosas, não fazem outra coisa senão admitir sua necessidade de carinho e conforto, que somente mulheres amorosas e apaixonadas são capazes de conceder.
sábado, 27 de abril de 2013
UM TESÃO, PÔ!
Quando eu tinha 13 anos, em duas ocasiões deixei em pé os
cabelos da minha melhor professora de todos os tempos, Dona Dália Carpinski
(nome fictício, devido ao conteúdo da matéria, em respeito à memória e à
dignidade da professora).
Numa aula ela pediu para eu ir ao quadro negro acentuar palavras.
Uma dela era formada pelas letras “p” e
“o”. Não tive dúvidas, tasquei um acento circunflexo: “pô”. Dona Dália ficou
muito chateada, pois me considerava um bom aluno. A palavra pô era uma das
muitas gírias que circulavam pela cidade, mas não podia participar do vocabulário
de um garoto, e muito menos freqüentar uma aula de português. Embora pouca gente
tocasse no assunto, todo mundo sabia que pô era a forma sincopada do palavrão “porra”,
que na sua forma científica significa "sêmen masculino impregnado de espermatozóides", ou algo semelhante.
Mas o pior estava por vir. Semanas adiante, o que eu fiz foi
uma verdadeira pisada no tomate. Toda segunda-feira era dia de ler a redação da semana.
Na sexta-feira D. Dália nos oferecia dois títulos, e, a partir deles, no fim de semana devíamos fazer duas redações.
Uma delas seria lida na frente da turma. Reuníamo-nos em equipes de quatro ou
cinco alunos, e uma das redações de cada equipe era eleita a melhor pelo
resto da turma. O vencedor da semana recebia um visto de Dona Dália. No final
do bimestre, quem tivesse quatro vistos ganharia como bônus um ponto extra no
boletim.
Naquela segunda-feira trágica, no momento em que eu passava
ao lado da mesa da professora para ir ler a redação, ela por acaso me perguntou
como foi meu final de semana. E a resposta que lhe dei: “Foi um tesão,
professora”. A turma riu, e Dona Dália não sabia onde se esconder. Aquilo acabou com seu
humor. Não me deu nenhum castigo, não era de sua índole, mas certamente perdi
algo da sua simpatia naquela manhã.
A verdade é a verdade de cada época. Muitas palavras
proibidas agora circulam livremente nas bocas das pessoas, sem causar espanto ou dano.
Na década de 1970, mulher que usasse calças, que chamávamos de “slacks”, era
uma escandalosa. Para muitos, era algo absolutamente imoral. Alguns religiosos
condenavam as moças ao inferno. Quem, nos dias atuais, pode conceber uma coisa
dessas? Por que condenaríamos uma mulher por usar calças?
As coisas em que acreditávamos 30 anos atrás estão
completamente transformadas. Talvez não na estrutura física, mas na concepção
que temos delas.
Quando o presidente da Câmara de Prudentópolis manda a população de Prudentópolis parar de comprar balaios dos índios para que eles não apareçam mais na nossa cidade, está se baseando num preconceito de décadas atrás, quando índio era tratado como lixo, estorvo, problema. Pessoas bem informadas sabem que os índios são merecedores de todo o nosso respeito. Do pó vieram e ao pó retornarão, como cada um dos cidadãos desta Terra.
Seja como for, apesar de todos os atrasos representados por certos políticos, a vida continua sendo um tesão, pô!
sexta-feira, 26 de abril de 2013
SOMOS TODOS DOUTORES!
Eu estava chegando à universidade, guiando o velho Gol bege da assessoria de imprensa. Na calçada encontravam-se três senhores e uma senhora, todos vestidos a caráter. Saindo do veículo, logo percebi que eram professores de outras cidades. Estavam dando curso de mestrado. Perguntavam-se quanto tempo teriam de esperar o ônibus, que os levaria ao hotel, no centro.
Como a tarde já estava vencida, tarefas cumpridas, ofereci uma carona aos letrados. Logo que dei a partida ao automóvel, o homem sentado ao meu lado virou-se e disse:
— Você está em boa companhia. Aqui só tem peso pesado. Somos todos doutores! — e soltou uma gargalhada sonora.
Não era um comentário irônico, mas uma declaração orgulhosa por sua condição. Sentia prazer, como quem devora o apetitoso momento de estar acompanhado por seus iguais, sendo todos eles poderosos. Algo parecido com o que apreciam os presidentes dos países ricos quando se reúnem para decidir os rumos do mundo. Ou com as hienas, enquanto devoram a carniça.
Limitei-me a dizer ao espetacular letrado que havia muito tempo eu desistira de ser doutor. E a partir dali seguimos em fúnebre silêncio rumo ao centro de Guarapuava. Deixei-os na frente do Atalaia Palace, onde estavam hospedados — às expensas da universidade.
Lado a lado com os atores de novelas, que costumam se autodenominar artistas — quando o verdadeiro artista é o autor da trama — os maiores orgulhos brasileiros estão dentro das universidades. Colecionam diplomas, títulos, certificados, como se essas peças, que são confeccionadas em série, fossem prêmios aos produtos de sua criatividade. Citam autores de renome — a maioria estrangeiros — suas frases, seus feitos, querendo tomar para si a glória da criação, da descoberta e da invenção. Como na velha Grécia, gastam seu tempo — destinado ao ensino e à pesquisa e comumente remunerado pelo Estado — em jogos retóricos cujo conteúdo encontra-se numa dimensão avessa aos propósitos fundamentais da universidade — qual fosse, lançar pedras de sustentação para o desenvolvimento de uma nova sociedade.
Mas o orgulho é um feitiço duradouro, e não há de se extinguir durante a nossa geração. Se os cabeças da nossa sociedade conseguem ter visão tão estreita de sua condição de indivíduos — somos todos doutores! — teremos de esperar a virada do terceiro para o quarto milênio se queremos ver uma humanidade digna do nome.
Demora muito para se chegar à condição de “doutor”, anos suficientes para que todos os sonhos estejam mortos. E quem não tem sonhos, não possui a capacidade de transformar. O que eles fazem, nesse caso, é revirar as páginas dos velhos escritos na esperança de reconstruir as antigas teorias, dando-lhes novo formato e velha essência.
A universidade deveria aposentar aqueles que já não conseguem sonhar com um mundo melhor. Mas que fazer, quando os próprios dirigentes das universidades brasileiras não acreditam em sonhos? Se há entre eles um sonhador, que apareça, e conte-nos o que anda sonhando.
Como a tarde já estava vencida, tarefas cumpridas, ofereci uma carona aos letrados. Logo que dei a partida ao automóvel, o homem sentado ao meu lado virou-se e disse:
— Você está em boa companhia. Aqui só tem peso pesado. Somos todos doutores! — e soltou uma gargalhada sonora.
Não era um comentário irônico, mas uma declaração orgulhosa por sua condição. Sentia prazer, como quem devora o apetitoso momento de estar acompanhado por seus iguais, sendo todos eles poderosos. Algo parecido com o que apreciam os presidentes dos países ricos quando se reúnem para decidir os rumos do mundo. Ou com as hienas, enquanto devoram a carniça.
Limitei-me a dizer ao espetacular letrado que havia muito tempo eu desistira de ser doutor. E a partir dali seguimos em fúnebre silêncio rumo ao centro de Guarapuava. Deixei-os na frente do Atalaia Palace, onde estavam hospedados — às expensas da universidade.
Lado a lado com os atores de novelas, que costumam se autodenominar artistas — quando o verdadeiro artista é o autor da trama — os maiores orgulhos brasileiros estão dentro das universidades. Colecionam diplomas, títulos, certificados, como se essas peças, que são confeccionadas em série, fossem prêmios aos produtos de sua criatividade. Citam autores de renome — a maioria estrangeiros — suas frases, seus feitos, querendo tomar para si a glória da criação, da descoberta e da invenção. Como na velha Grécia, gastam seu tempo — destinado ao ensino e à pesquisa e comumente remunerado pelo Estado — em jogos retóricos cujo conteúdo encontra-se numa dimensão avessa aos propósitos fundamentais da universidade — qual fosse, lançar pedras de sustentação para o desenvolvimento de uma nova sociedade.
Mas o orgulho é um feitiço duradouro, e não há de se extinguir durante a nossa geração. Se os cabeças da nossa sociedade conseguem ter visão tão estreita de sua condição de indivíduos — somos todos doutores! — teremos de esperar a virada do terceiro para o quarto milênio se queremos ver uma humanidade digna do nome.
Demora muito para se chegar à condição de “doutor”, anos suficientes para que todos os sonhos estejam mortos. E quem não tem sonhos, não possui a capacidade de transformar. O que eles fazem, nesse caso, é revirar as páginas dos velhos escritos na esperança de reconstruir as antigas teorias, dando-lhes novo formato e velha essência.
A universidade deveria aposentar aqueles que já não conseguem sonhar com um mundo melhor. Mas que fazer, quando os próprios dirigentes das universidades brasileiras não acreditam em sonhos? Se há entre eles um sonhador, que apareça, e conte-nos o que anda sonhando.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
O TODO E O NADA
Não sei se vocês percebem, ou preferem não
pensar nisso, mas há alguma coisa errada aqui. Olhem à sua volta, pessoas de 35,
50, 60 anos, digam-me se reconhecem este mundo. O que há da nossa infância, dos
conhecimentos que recebemos, que sejam considerados agora? O mundo cresceu
assustadoramente nas últimas décadas, seguindo por um fio condutor que não
ensina humanidades, nem se importa com as dores e os fracassos. As cidades
transformam-se em estruturas de aço e cimento, a comunicação entre pessoas
converteu-se num torvelinho de informações alucinante. As brincadeiras das
ruas, cadê? Os jogos que inventávamos, por que desapareceram? Por que a verdade
tornou-se somente a verdade que nos vendem! Não podemos mais construí-la com as
próprias mãos? Não podemos inventar um novo jeito de ser, que não seja este
importado da América do Norte? Poucos estão atentos aos processos que dominam nossos
corpos, nossas mentes e nossas almas. Estão no dorso da onda, seguindo
apressadamente, rumo ao sucesso. Rumo a quê? As ondas se arrebentam diariamente
à porta de nossas casas, dizendo que precisamos reaprender a surfar. Mas já
aprendemos ontem, por que devemos hoje tornar a aprender? “Acontece que, de ontem
para hoje, o mundo mudou suas leis”, diz o vendedor. “Você precisa comprar este
novo aparelho, ou será deixado para trás”. As estruturas industriais são
gigantescas, os sistemas nos abraçam fragorosamente, somos arrastados por
inúmeras forças, dilacerados pelas flechas das certezas que nos acertam. Compre
o celular, compre o notebook, compre o novo programa, o novo aplicativo! Mas o
que queremos? Qual é a verdade que devemos construir? O que realmente importa,
neste pequeno intervalo temporal chamado Vida? Eu quero ter um carro, uma casa,
uma viagem, uma aventura alucinante, um conforto jamais provado, um prazer
inusitado, um romance visceral! Mas isso me acalma, me completa, ou somente me
enche de espaços ansiosos de preenchimento? Não será melhor que eu não tenha
nada? Que eu nada deseje e nada busque? No desconforto de todas essas vitrines
que me oferecem tudo, sim, o que me atrai agora é o nada. Nada de anseios, nada
de expectativas, nada da aflição medonha pela posse do mais e do melhor. Já
entreguei as minhas posses, desfiz-me da minha máquina mortífera, ando de
bicicleta, vivo de dádivas. Paro na calçada para apreciar o vento nos galhos
das árvores. Volto atrás sempre que vejo no muro um desenho que me atrai. Filtro
o ronco dos motores e deixo a música do mundo penetrar em minha alma. Bebo a
água como aquele tuaregue que atravessou um deserto sem trégua, aceito uma
folha de alface, uma lasca de pão, enquanto meu corpo prepara seu próximo
desaparecimento...
REFORMA AGRÁRIA INVERTIDA
O êxodo rural verificado nos
últimos anos em Prudentópolis é o inverso da grande distribuição de terras,
realizada pelo governo federal no início da colonização. Por falta de incentivos
à atividade agrícola, os jovens partem em busca de trabalho na cidade. Muitos
seguem para Curitiba e os estados de São Paulo e Santa Catarina. Em algumas
comunidades os jovens desapareceram, restando somente seus pais ou avós. Na
periferia da cidade de Prudentópolis cresce o número de famílias de
agricultores, que passam a morar em espaços restritos, na maioria deles sem
quintal ou jardim, e sem muitas perspectivas de trabalho remunerado.
Grandes áreas de terra de Prudentópolis, principalmente na
região norte, vêm sendo compradas por investidores de outros municípios e transformadas
em pastagens e reflorestamentos de pinus e eucalipto. Os agricultores locais
também passaram a reflorestar suas terras com as espécies exóticas, como uma
alternativa ao cultivo de culturas tradicionais.
As florestas de árvores nativas destacam-se das áreas de
reflorestamento pela grande diversidade de cores. As múltiplas espécies
encontradas na mata original resultam em muitos tons, que variam entre o
amarelo, o laranja, o verde e o verde-azulado. O reflorestamento com árvores
exóticas produz grandes áreas de um verde compacto, monocromático. Nas áreas de
pinus, sobrevivem sob essas árvores somente alguns espécimes de cedros e
samambaias. É a “floresta silenciosa”, onde não se ouve o canto de um único
pássaro.
O SILÊNCIO É UMA ESCURIDÃO
As questões morais não entram nos gabinetes
governamentais. É por isso que se faz o mínimo suficiente, e ninguém se sente
culpado. Algum serviço aparece, e como não há governos melhores para comparar,
o povo se conforma.
O prefeito vai na rádio falar de seu grande
esforço pela Saúde do município. Anuncia uma farmácia com remédios a preços
populares patrocinada pelo governo federal, mas nada fala sobre o posto de
saúde central, que alaga sempre quando chove. Uma farmácia no centro da cidade vende
remédios exclusivos do SUS e ninguém se pergunta: de onde veio esse remédio? Há
alguma ligação com a saúde pública municipal? Por que o presidente da Câmara,
ex-secretário de Saúde Municipal, nada diz sobre isso? O silêncio é completo, e o silêncio é uma escuridão!
O melhor, digo o pior exemplo de omissão está
na área educacional. Os governos fazem o mínimo, prevenindo uma comoção
demasiado forte dos agentes educacionais. O projeto do governo estadual contempla a
gritaria e as greves. Não se iludam, portanto, amigos grevistas. Seus cartazes
e gritos na frente do palácio Iguaçu só fazem confirmar as expectativas de quem está
lá no alto, contemplando pelas janelas de cristal. Eles estão ganhando altos
salários, e sabem que não serão facilmente desalojados de seu berço esplêndido.
A lei determina que o governo deve gerir a
educação, e é somente por isso que algumas salas de aula são construídas, e que
os professores ganham um mínimo salário. O quanto os alunos estão aprendendo,
não interessa. A forma como a escola está influindo na vida dos jovens, pouco
importa. O que e
como as escolas estão ensinando? As escolas estão sendo eficazes na construção
da cidadania? Estão libertando as almas dos candidatos a adultos do futuro? Perguntas supérfluas. Só o que vale é que nos testes de avaliação as escolas públicas não
caiam demasiado no gráfico, e, se possível, que subam alguns décimos.
Nossa noção de qualidade está muito baixa.
Talvez porque aprendemos a nos conformar com muitos fracassos na área pública.
São tantas as denúncias de corrupção e omissão que já não sabemos mais qual é o
nosso papel, então preferimos ficar quietos. Podemos influenciar as medidas do
governo? O que podemos fazer? Os educados europeus nos ensinam. Quando o
governo começa a pipocar, eles não vão à frente do palácio com bandeirinhas.
Eles tomam as ruas e quebram tudo! Somente assim, com medo de perder o cargo e
o gordo salário, aqueles dos gabinetes mexem as bundas de suas confortáveis
cadeiras!
quarta-feira, 24 de abril de 2013
VALE MAIS UMA ALMA MEDROSA OU UM CORAÇÃO VALENTE?
Quando eu era garoto, li o conto do menino índio
que foi ao pajé e perguntou:
— Mestre, é a coragem o maior dom de um
guerreiro?
— Não, gafanhoto. O maior dom de um guerreiro é
a juventude.
Fiquei decepcionado com o pajé e sua resposta
aborrecida. Um pajé de verdade jamais diria tal asneira! Aos doze ou treze anos
eu estava transbordando de juventude, e não achava aquilo uma grande vantagem.
Queria ficar velho depressa para poder entrar no cinema e assistir a todos os
filmes proibidos para menores de quatorze!
Creio que o autor da história do pajé já estava
contaminado por antecipação com essa velocidade midiática que nos devasta.
Somente um corpo jovem seria capaz de usufruir os produtos que passam. E a
coragem, de que serviria nestes tempos de perigos mínimos?
Os anos se foram, minha juventude restou
impressa em finos retângulos de papel que guardo numa caixa de sapatos, mas
ainda vejo a coragem como um espírito raro, manifesto nas manhãs de terremotos,
nas tardes de vendavais e nas noites de política. A juventude continua
transbordando, nas escolas, nos bares, nas repartições públicas, nas
manifestações contra a falta de reposição salarial, mas basta o bicho bater o
pé e a juventude corre para debaixo dos tapumes, ou para o conforto daqueles
que já não possuem juventude.
Um pastor religioso diria que o maior dom da
vida é a fé. Mas continuo apostando na coragem. É preciso de um bocado de fé
para se ter coragem, mas qualquer medroso pode demonstrar uma fé profunda.
A coragem não é só um instrumento para a
realização da justiça. A coragem é, acima de tudo, um dom e uma recompensa.
QUARENTA VELAS DESFRALDADAS
Estas linhas estão entortando a cada dia,
mas não enganam.
Continuam me desenhando.
Arte-final de homem, você sabe,
é couro enrugado, pele descorada
e saudades di rascunho.
No quintal dos quarenta anos os pássaros ainda cantam freneticamente num céu azul. O olhar agora experiente percebe como brotam jabuticabas, jasmins surpreendentemente lilases, e me dá um remorso por não ter chegado dez anos antes, quando, assustado, adentrava os trinta.
Ainda nesta tarde, meus olhos estavam acesos como faróis no corredor dos lingeries, enquanto minha mulher se ocupava de vestidos, bolsas e outros apetrechos eróticos. Lembrei de ter-lhe dado, anos atrás, um conjunto violeta, bordadas de rendas com rosas púrpuras, e que noite romântica nos proporcionara aquele singelo fetiche!
Não me sinto iniciado em esclerose, embora uma certa tonteira invada sempre que me deparo com multidões. Não como mais carnes — exceto em molhos e panquecas inevitáveis — o que me fez descer alguns degraus na cadeia alimentar. O açúcar tornou-se levemente corrosivo, e o uísque perdeu sua natureza ritualística, restando-me dele apenas o cheiro, o fogo e a dor.
Não voltarei aos amores adolescentes, exceto pela circunstância de um aroma de bolacha ou hortelã, como sucedeu a Proust. Seria levado ao auge da colina para respirar o vento, de braço dado com uma enfermeira de pernas roliças e lábios de morango, se a lembrança materializasse o tempo em suas múltiplas estações. Os romances tinham canções, como nos filmes, e os justos viam seus sonhos tremulando na distância, nas mansões das cascavéis e outras serpentes.
Os jornais eram feitos de colunas cinzentas, traços ilegíveis cuja primeira leitura deveria fazer desmoronar todos os meus votos de amor e liberdade. Eu não admitia a existência de jornais como algo saudável, ainda que respeitasse o “papel social” dos jornalistas. Aos trinta anos, ironicamente, encontrei o primeiro emprego da minha vida como repórter de um semanário chamado O Jornal.
No ponto de ônibus, rostos macilentos com seus anseios seculares, homens e mulheres mudos aguardam o fim da tarde para descansar. Tento ver em seus olhares um brilho de esperança, mas as notícias dos últimos meses foram demasiado trágicas. A guerra deveria ficar confinada aos exércitos e seus guerreiros, jamais entrar nos lares dos homens de bem. Mas era preciso fazer a guerra, os soldados e as armas foram feitos para isso, e então os soldados ganharam a guerra, e a humanidade fechou mais um túmulo sobre seus próprios ossos.
Quando me falaram dos quarenta anos, vi rostos marcados, seriamente preocupados com questões emergenciais. Ninguém me disse que nesta idade ainda somos os garotos de oito anos, domados pelos mesmos anseios, essencialmente as mesmas criaturas inseguras e deslumbradas pelas peripécias da Natureza, somente maquiadas com uma grossa camada de respeitabilidade, gordura e preocupações.
mas não enganam.
Continuam me desenhando.
Arte-final de homem, você sabe,
é couro enrugado, pele descorada
e saudades di rascunho.
No quintal dos quarenta anos os pássaros ainda cantam freneticamente num céu azul. O olhar agora experiente percebe como brotam jabuticabas, jasmins surpreendentemente lilases, e me dá um remorso por não ter chegado dez anos antes, quando, assustado, adentrava os trinta.
Ainda nesta tarde, meus olhos estavam acesos como faróis no corredor dos lingeries, enquanto minha mulher se ocupava de vestidos, bolsas e outros apetrechos eróticos. Lembrei de ter-lhe dado, anos atrás, um conjunto violeta, bordadas de rendas com rosas púrpuras, e que noite romântica nos proporcionara aquele singelo fetiche!
Não me sinto iniciado em esclerose, embora uma certa tonteira invada sempre que me deparo com multidões. Não como mais carnes — exceto em molhos e panquecas inevitáveis — o que me fez descer alguns degraus na cadeia alimentar. O açúcar tornou-se levemente corrosivo, e o uísque perdeu sua natureza ritualística, restando-me dele apenas o cheiro, o fogo e a dor.
Não voltarei aos amores adolescentes, exceto pela circunstância de um aroma de bolacha ou hortelã, como sucedeu a Proust. Seria levado ao auge da colina para respirar o vento, de braço dado com uma enfermeira de pernas roliças e lábios de morango, se a lembrança materializasse o tempo em suas múltiplas estações. Os romances tinham canções, como nos filmes, e os justos viam seus sonhos tremulando na distância, nas mansões das cascavéis e outras serpentes.
Os jornais eram feitos de colunas cinzentas, traços ilegíveis cuja primeira leitura deveria fazer desmoronar todos os meus votos de amor e liberdade. Eu não admitia a existência de jornais como algo saudável, ainda que respeitasse o “papel social” dos jornalistas. Aos trinta anos, ironicamente, encontrei o primeiro emprego da minha vida como repórter de um semanário chamado O Jornal.
No ponto de ônibus, rostos macilentos com seus anseios seculares, homens e mulheres mudos aguardam o fim da tarde para descansar. Tento ver em seus olhares um brilho de esperança, mas as notícias dos últimos meses foram demasiado trágicas. A guerra deveria ficar confinada aos exércitos e seus guerreiros, jamais entrar nos lares dos homens de bem. Mas era preciso fazer a guerra, os soldados e as armas foram feitos para isso, e então os soldados ganharam a guerra, e a humanidade fechou mais um túmulo sobre seus próprios ossos.
Quando me falaram dos quarenta anos, vi rostos marcados, seriamente preocupados com questões emergenciais. Ninguém me disse que nesta idade ainda somos os garotos de oito anos, domados pelos mesmos anseios, essencialmente as mesmas criaturas inseguras e deslumbradas pelas peripécias da Natureza, somente maquiadas com uma grossa camada de respeitabilidade, gordura e preocupações.
terça-feira, 23 de abril de 2013
A GUERRA DO SALTO SÃO FRANCISCO
Prudentópolis e Guarapuava se
confrontam numa competição infantil
pela posse do maior atrativo
natural do Centro-Sul do Paraná.
A primeira lição que os agentes de desenvolvimento
turístico ensinam sobre sua atividade é que nessa área não existe competição,
mas parcerias. Quando um novo hotel ou restaurante se instala na cidade
turística, aumentam as possibilidades de escolha do visitante. Na volta para
casa, ele relata aos amigos e parentes a experiência vivida naquela cidade. Com
isso o número de visitantes e turistas tende a crescer, multiplicando a
renda de todos os empreendedores.
Quando um município investe em atrativos turísticos, está
multiplicando suas possibilidades de faturamento, e também as de seus vizinhos.
Com isso crescem as alternativas de lazer, entretenimento, hospedagem e
gastronomia. Como consequência, aumenta a circulação de turistas e visitantes
em todos os municípios da região.
O maior entrave ao desenvolvimento do turismo costuma ser o
medo e a desconfiança de que o vizinho vai ganhar mais. Isso pode ocorrer entre
empresários, e também entre municípios. É o que está acontecendo na
região Centro-Sul e Centro do Paraná, onde Prudentópolis e Guarapuava
brigam pela posse do Salto São Francisco.
Com seus 196 metros de queda livre, o Salto São Francisco é
uma maravilha incrustada nas reentrâncias da Serra da Esperança. Ele soma-se a
dezenas de outros grandes saltos que, nas últimas décadas, proporcionaram a
Prudentópolis o epíteto de "Terra das Cachoeiras Gigantes".
Entenda o caso
O
atrativo natural localiza-se numa área de fronteira entre os municípios de
Prudentópolis, Guarapuava e Turvo. Como as demarcações não estavam claras
nos mapas (uma empresa local havia mudado o curso de um riacho, alterando as configurações da divisa), Guarapuava decidiu pleitear a posse da cachoeira,
causando indignação dos prudentopolitanos. A Secretaria de Estado de Meio
Ambiente promoveu uma reunião para discutir o tema, mas os representantes
de Prudentópolis (gestão Vilson Santini) não compareceram, e foi decidido que a
cachoeira encontrava-se em área de tríplice fronteira. Segundo consta, após
estudo cartográfico solicitado por Guarapuava ao Estado, o Salto São Francisco
passou a ser território guarapuavano, aumentando as discussões entre os
municípios envolvidos. A partir de então, Guarapuava começou a divulgar o salto
como sendo seu. A prefeitura daquele município fez uma devastação no entorno do salto, destruiu um cemitério indígena, construiu lanchonete, posto de guarda e banheiros. Em cada lixeira acrescentou a logomarca daquela prefeitura. A contenda esquentou, pois lideranças prudentopolitanas
resolveram retomar a posse da cachoeira.
O Escritório Regional da Secretaria de Estado do Turismo do
Paraná realizou três reuniões na cidade de Turvo, em 2009, com representantes
dos três municípios, para debater a questão, mas não houve acordo. Os
prudentopolitanos já não querem abrir mão do que consideram propriedade de seu
município.
Uma nova visão
Se os
envolvidos na polêmica dessem uma olhada nas experiências de outros pólos
turísticos paranaense, perceberiam que essa controvérsia é tão infantil quanto
inútil. Quando os agentes turísticos anunciam pacotes respectivos a Curitiba,
por exemplo, vendem não somente a capital paranaense, mas também o
Litoral, Vila Velha, o Cânion Guartelá, e até Foz do Iguaçu, que fica a
"apenas uma hora de vôo".
Outro exemplo são as próprias Cataratas do Iguaçu: quem
estará disposto a brigar pela sua posse? Brasileiros e argentinos faturam com o
turismo local. Inclusive os paraguaios, que em função de Foz do Iguaçu
transformaram Cidade del Leste no maior centro financeiro de seu país.
O turista que visita o Salto São Francisco não vê
fronteiras definidas no meio da floresta. Pouco lhe interessa se o Salto
encontra-se em Prudentópolis, Turvo ou Guarapuava. O que importa é contemplar a
exuberância da "cachoeira gigante". Para o turista, saber que o Salto
São Francisco está no Paraná, ou no Brasil, é mais do que suficiente.
Qualquer agente turístico do país pode promover viagens
àquele local, assim como todo brasileiro é livre para construir hotéis e
restaurantes para acolher seus visitantes.
Se os três municípios somarem força e inteligência para
divulgar suas atrações — cachoeiras e cultura ucraniana em Prudentópolis,
infra-estrutura hoteleira e gastronômica em Guarapuava, reserva indígena em
Turvo — todos sairão ganhando.
Unidos, tais municípios serão uma realidade econômica
e turística. Do contrário, continuarão sendo apenas um potencial turístico do
Estado do Paraná!
Parabéns àqueles que souberem explorar de forma sustentável
o Salto São Francisco, uma maravilha realmente digna de prestígio que, acima de
tudo, pertence ao planeta Terra.
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