O poder será sempre
um anagrama do podre,
sejam quais forem
os seus perfumes.
O mal da política não são os maus
políticos. Nem mesmo são os parentes dos políticos, contratados sem concurso
para os melhores cargos da prefeitura, da assembléia, do palácio e da câmara,
verdadeiros ratos que infestam as repartições públicas. Não são os secretários
corruptos, nem mesmo os empresários-bandidos que realizam licitações
fraudulentas em conluio com os prefeitos e os vereadores. O mal da política não
está nos 90% de deputados e senadores ladrões ou omissos, nem mesmo está nos
juízes e promotores, que não são capazes de encarcerar por mais de uma semana
um único desses facínoras matadores de velhos e crianças.
Os políticos não agem com maldade
porque a política possua qualquer traço de malignidade. O mal da política está
na natureza humana, desde suas bases, e é por isso que os homens justos
continuam se perguntando quando a Justiça vai prevalecer. Não vai prevalecer
jamais, enquanto os homens justos não entrarem na luta em favor de um sistema
político completamente renovado. Pois este sistema que impera não foi criado
para conduzir os homens a um estado superior de relacionamento, mas para
estabelecer e fortalecer as regras instauradas ao longo de séculos de
violamentos dos fortes sobre os fracos.
O político lida com bens públicos,
que a princípio são de todos e de ninguém. A corrupção, representada pela
entrada de interesses particulares na esfera pública, não tem nada de incorreto
ou vergonhoso, quando olhamos as bestas-feras que circulam nas prefeituras,
assembléias e palácios. O sofrimento do homem que se considera justos começa
quando vê pessoas que considerava também justas cedendo aos apelos do dinheiro fácil,
proporcionado pela máquina pública. Se aceitasse que o ser humano ainda é um selvagem, cujas fraquezas viscerais quase sempre prevalecem, quando às escuras,
sobre as suas mais elevadas conquistas espirituais, esse homem justo não se
decepcionaria. Saberia que Deus não levará esses facínoras para o inferno, e
que os milhões que eles estão surrupiando das crianças, velhos e doentes, de
forma alguma lhes tirará o sono. É verdade que o medo de serem flagrados,
humilhados e presos pode levá-los a contrair problemas físicos, como constipação
intestinal, flatulência, pele inchada, bexigas no rosto, e essas coisas que
vemos estampadas nas faces dos secretários municipais e vereadores da maioria
dos municípios brasileiros. Mas não será a culpa pela maldade que estão
cometendo, e sim o receio de serem apanhados, o que os faz estremecer.
O homem
justo pode pensar que este seria um mundo cão, se fosse assim. Mas é,
realmente, um mundo cão. Nossos antigos vizinhos, colegas de igreja, compadres,
primos e até irmãos, hoje estão roubando a comida dos pobres, o remédio dos
doentes, a felicidade das crianças. Com o produto do roubo, compram carros
importados e aumentam o tamanho da sala de jantar e as dimensões do aparelho de
TV. O que podemos fazer é combatê-los, se estivermos nessa esfera, e tivermos
companheiros corajosos o bastante para não abandonarem a luta quando a coisa
começar a pegar fogo. Caso contrário, resta seguir tranqüilos, pois esta é uma
das múltiplas faces da humanidade, que cairá em desuso se tivermos a paciência
de deixar rolar as esferas das décadas, dos séculos e dos milênios. A
humanidade caminha para o topo, e no topo não ficam as pedras, ficam somente as
nuvens e o arco-íris.
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