sábado, 11 de maio de 2013

A CARA INCHADA DOS LADRÕES


O poder será sempre
um anagrama do podre,
sejam quais forem
os seus perfumes.

O mal da política não são os maus políticos. Nem mesmo são os parentes dos políticos, contratados sem concurso para os melhores cargos da prefeitura, da assembléia, do palácio e da câmara, verdadeiros ratos que infestam as repartições públicas. Não são os secretários corruptos, nem mesmo os empresários-bandidos que realizam licitações fraudulentas em conluio com os prefeitos e os vereadores. O mal da política não está nos 90% de deputados e senadores ladrões ou omissos, nem mesmo está nos juízes e promotores, que não são capazes de encarcerar por mais de uma semana um único desses facínoras matadores de velhos e crianças.
Os políticos não agem com maldade porque a política possua qualquer traço de malignidade. O mal da política está na natureza humana, desde suas bases, e é por isso que os homens justos continuam se perguntando quando a Justiça vai prevalecer. Não vai prevalecer jamais, enquanto os homens justos não entrarem na luta em favor de um sistema político completamente renovado. Pois este sistema que impera não foi criado para conduzir os homens a um estado superior de relacionamento, mas para estabelecer e fortalecer as regras instauradas ao longo de séculos de violamentos dos fortes sobre os fracos.
O político lida com bens públicos, que a princípio são de todos e de ninguém. A corrupção, representada pela entrada de interesses particulares na esfera pública, não tem nada de incorreto ou vergonhoso, quando olhamos as bestas-feras que circulam nas prefeituras, assembléias e palácios. O sofrimento do homem que se considera justos começa quando vê pessoas que considerava também justas cedendo aos apelos do dinheiro fácil, proporcionado pela máquina pública. Se aceitasse que o ser humano ainda é um selvagem, cujas fraquezas viscerais quase sempre prevalecem, quando às escuras, sobre as suas mais elevadas conquistas espirituais, esse homem justo não se decepcionaria. Saberia que Deus não levará esses facínoras para o inferno, e que os milhões que eles estão surrupiando das crianças, velhos e doentes, de forma alguma lhes tirará o sono. É verdade que o medo de serem flagrados, humilhados e presos pode levá-los a contrair problemas físicos, como constipação intestinal, flatulência, pele inchada, bexigas no rosto, e essas coisas que vemos estampadas nas faces dos secretários municipais e vereadores da maioria dos municípios brasileiros. Mas não será a culpa pela maldade que estão cometendo, e sim o receio de serem apanhados, o que os faz estremecer.
O homem justo pode pensar que este seria um mundo cão, se fosse assim. Mas é, realmente, um mundo cão. Nossos antigos vizinhos, colegas de igreja, compadres, primos e até irmãos, hoje estão roubando a comida dos pobres, o remédio dos doentes, a felicidade das crianças. Com o produto do roubo, compram carros importados e aumentam o tamanho da sala de jantar e as dimensões do aparelho de TV. O que podemos fazer é combatê-los, se estivermos nessa esfera, e tivermos companheiros corajosos o bastante para não abandonarem a luta quando a coisa começar a pegar fogo. Caso contrário, resta seguir tranqüilos, pois esta é uma das múltiplas faces da humanidade, que cairá em desuso se tivermos a paciência de deixar rolar as esferas das décadas, dos séculos e dos milênios. A humanidade caminha para o topo, e no topo não ficam as pedras, ficam somente as nuvens e o arco-íris.

Nenhum comentário: