Às dez horas da manhã Rubens ligou para a
Tribuna. A atendente informou que Paulino Galindes estava cobrindo uma coletiva
com o governador, no Atalaia Palace. Enquanto se dirigia ao hotel, Rubens lembrou-se
do tradicional bando de bajuladores que cercava toda autoridade vinda da
capital. Aguardavam a chegada no aeroporto, como se o homem necessitasse de uma
falange de guardiães, e depois seguiam em solene cortejo até o Centro.
Rubens tinha a infelicidade de ver essas
autoridades como meros funcionários públicos, e aquela subserviência lhe
parecia intolerável. Ele bem que tentara adaptar-se a tais cerimônias, durante
algumas reportagens que produzira para a Tribuna. Mas não conseguira ver
naquelas recepções algo mais que uma reunião de abutres em seus melhores
trajes. Considerando que em todos os eventos a cena era idêntica, os notórios
talvez percebessem alguma diferença se os babões comparecessem em manga de
camisa. Mas eram todos gente de bem, empresários, professores, altos
funcionários do Estado, que apertavam efusivamente a mão do governador, do
deputado, do chefe da Casa Civil ou de qualquer estrela de terceira categoria
que permitisse chegar a menos de um metro. Se pudessem, rasgariam um pedaço da
roupa do visitante e guardariam no armário de troféus.
Aguardou no luxuoso hall vermelho, que
antecede o salão de eventos. Começou a folhear um jornal, mas o pensamento
estava na bolsa em seu colo. Dentro havia um caderno grosso, de capa dura. Na
primeira página inscrevia-se Diário Secreto. O proprietário jazia entre
as raízes do bosque da faculdade. Rubens aguardava o momento de folhear a
brochura, mas agora necessitava falar urgentemente com Paulino.
Passados alguns minutos, a figura imponente
do governador assomou à porta, dirigindo-se rapidamente à escadaria. A comitiva
foi atrás, ruidosa, com o sorriso plástico estampado em todas as faces. Antigos
colegas da imprensa acenaram para Rubens, que respondeu com a cabeça. Nenhum
daqueles assessores, repórteres, empresários e altos funcionários parecia ter
percebido que o gerente-mor do Estado estava com o fígado inchado, que seu
coração bateria os últimos acordes bem antes do final do mandato e que em breve
muitos daqueles alegres lambões ficariam sem emprego.
(Extrato do livro "O Milagre da Lagoa das Lágrimas - A Máfia da Universidade")
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