sexta-feira, 10 de maio de 2013

A COMITIVA DOS BABÕES

Às dez horas da manhã Rubens ligou para a Tribuna. A atendente informou que Paulino Galindes estava cobrindo uma coletiva com o governador, no Atalaia Palace. Enquanto se dirigia ao hotel, Rubens lembrou-se do tradicional bando de bajuladores que cercava toda autoridade vinda da capital. Aguardavam a chegada no aeroporto, como se o homem necessitasse de uma falange de guardiães, e depois seguiam em solene cortejo até o Centro.
Rubens tinha a infelicidade de ver essas autoridades como meros funcionários públicos, e aquela subserviência lhe parecia intolerável. Ele bem que tentara adaptar-se a tais cerimônias, durante algumas reportagens que produzira para a Tribuna. Mas não conseguira ver naquelas recepções algo mais que uma reunião de abutres em seus melhores trajes. Considerando que em todos os eventos a cena era idêntica, os notórios talvez percebessem alguma diferença se os babões comparecessem em manga de camisa. Mas eram todos gente de bem, empresários, professores, altos funcionários do Estado, que apertavam efusivamente a mão do governador, do deputado, do chefe da Casa Civil ou de qualquer estrela de terceira categoria que permitisse chegar a menos de um metro. Se pudessem, rasgariam um pedaço da roupa do visitante e guardariam no armário de troféus.
Aguardou no luxuoso hall vermelho, que antecede o salão de eventos. Começou a folhear um jornal, mas o pensamento estava na bolsa em seu colo. Dentro havia um caderno grosso, de capa dura. Na primeira página inscrevia-se Diário Secreto. O proprietário jazia entre as raízes do bosque da faculdade. Rubens aguardava o momento de folhear a brochura, mas agora necessitava falar urgentemente com Paulino.
Passados alguns minutos, a figura imponente do governador assomou à porta, dirigindo-se rapidamente à escadaria. A comitiva foi atrás, ruidosa, com o sorriso plástico estampado em todas as faces. Antigos colegas da imprensa acenaram para Rubens, que respondeu com a cabeça. Nenhum daqueles assessores, repórteres, empresários e altos funcionários parecia ter percebido que o gerente-mor do Estado estava com o fígado inchado, que seu coração bateria os últimos acordes bem antes do final do mandato e que em breve muitos daqueles alegres lambões ficariam sem emprego. 
(Extrato do livro "O Milagre da Lagoa das Lágrimas - A Máfia da Universidade")

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