quinta-feira, 9 de maio de 2013

TERRITÓRIO FEDERAL DO IGUAÇU (1ª PARTE)


O desenvolvimento sócio-econômico do Oeste paranaense não teve uma relação direta com ações de políticos da capital, Curitiba. Desde o século XIX, as tentativas do governo estadual em efetuar a comunicação com a fronteira deveu-se à necessidade de apertar o fisco sobre as obrageras — empresas argentinas que exploravam a madeira e a erva-mate no Oeste — ou de impedir a invasão pelos países vizinhos. Raramente pensou-se em dotar o Oeste de melhores condições de vida para seus habitantes.
A mesma situação era observada no Oeste de Santa Catarina. A distância de aproximadamente 900 quilômetros até Florianópolis não devia ser pretexto para abandonar os colonos por sua conta e risco no meio da selva, mas era o que se observava.
Nos dois estados, os colonos tinham motivos fortes para sentirem-se excluídos dos planos de seus governos, e esse sentimento levou seus líderes a unir forças e promover um movimento de emancipação. A iniciativa acabou frustrada, mas aquela sensação de abandono sobreviveu às décadas.
No final da década de 1930, Getúlio Vargas já demonstrava um interesse especial na povoação do Oeste, não só o paranaense, mas também o catarinense. Segundo Ruy Wachovicz, o objetivo era “abrir caminho para a expansão do capital e da colonização gaúcha. Essa colonização seria, tudo indica, muito bem recebida pelos estados do Paraná e Santa Catarina”. Para tanto, o presidente cogitava criar na região um território federal, subtraindo “do controle desses estados a sua parte Oeste, para que melhor atendesse aos interesses dos capitalistas e em conseqüência das companhias colonizadoras gaúchas”.
O território seria governado por “um oficial do exército ou da marinha, que terá atribuição para regular a utilização das terras devolutas e promover o povoamento e localização dos colonos, de modo a atender aos interesses nacionais” (Antonio Batista Ribas, Depto. de Terras e Colonização, 1939).
No dia 13 de setembro de 1943 foi criado o Território Federal do Iguaçu, que, segundo Oscar Ramos Pereira, “poder-se-ia chamar, em suave e eufônica toponímia composta, de Piquiriguaçu, por se situar entre os grandes cursos d’água, o rio Piquiri e o rio Iguaçu”. Na verdade, a área era mais ampla: abrangia as regiões Oeste do Paraná e de Santa Catarina, localizadas entre os rios Piquiri e Uruguai.
A denominação do povoado de Cascavel foi alterada para Guairacá, uma homenagem ao chefe índio que havia comandado a resistência ao avanço dos portugueses em Guarapuava. A capital do território foi inicialmente a cidade de Foz do Iguaçu, mas logo após a instalação da nova unidade federativa o Ministério da Guerra concluiu que a sede teria de ser afastada da fronteira, sendo imediatamente transferida para Laranjeiras do Sul. A cidade teve sua denominação alterada para Iguaçu, e logo viu brotar, em meio ao casario de madeira em ruínas, luxuosas edificações, representadas pelos escritórios dos novos órgãos públicos e pelas residências dos funcionários do governo, “também de madeira, mas de belo aspecto”, segundo Carlos Tourinho (1991).
Tourinho era um dos muitos que consideravam Cascavel um povoado mais apropriado para assumir o papel de capital do território. Em diálogo com o interventor coronel João Garcez do Nascimento, ele falou da “magnífica situação de Cascavel, chapadão apropriado para ali assentar grande cidade, com possibilidade de obter água potável por gravidade. Mas Garcez não arredou um centímetro da decisão já tomada”. O segundo chefe do território foi o coronel Frederico Trota.

A REAÇÃO DO LESTE
A alta do preço da madeira no pós-guerra, e o grande volume de colonos que se dirigiam para o Oeste, revelando que a região logo desenvolveria grande potencial econômico, fizeram mudar as perspectivas dos políticos do Leste. Era necessário retomar a área!
Sperança (1992) destaca os pontos negativos da instalação do território. Segundo ele, José Silvério perdeu sua autoridade, e o avanço econômico e o movimento migratório foram interrompidos. Para o historiador, “a inutilidade do Território Federal do Iguaçu foi tão flagrante que seria uma das manobras getulistas que primeiro acabariam ruindo quando chegasse o fim da ditadura Vargas”. Silva, Bragagnollo e Maciel (1988) afirmam que o governador Frederico Trota não fez qualquer esforço para promover a colonização. Ela teria ficado a cargo de empresas privadas.
Com o fim da ditadura Vargas, em 19 de setembro de 1946 foi dissolvido o Território Federal do Iguaçu, e as áreas sob sua jurisdição retornaram aos estados de origem. A emenda foi apresentada pelos deputados federais Bento Munhoz da Rocha Neto, do Paraná, e Nereu Ramos, de Santa Catarina. Para Munhoz, a criação do território havia sido “um absurdo monstruoso”.
Com a extinção do território, Guairacá retornou ao mapa do Paraná. O nome também deveria ser restituído, porém, como havia uma Cascavel no estado do Ceará, a paranaense foi renomeada como Cascavel do Sul.
Percebendo a necessidade de estabelecer um vínculo mais intenso e definitivo entre a capital e o Oeste, o governo achou conveniente tomar medidas mais eficazes. A grande colonização gaúcha que se processava coincidiu com iniciativas visando tornar a região mais produtiva, atendendo aos interesses do Estado. Mas a fenda aberta em 1943 nunca se fechou completamente. A luta pela emancipação do Oeste se estenderia e tomaria vulto no decorrer das décadas seguintes.

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