O desenvolvimento sócio-econômico do Oeste paranaense não teve uma relação direta com ações de políticos da capital, Curitiba. Desde o século XIX, as tentativas do governo estadual em efetuar a comunicação com a fronteira deveu-se à necessidade de apertar o fisco sobre as obrageras — empresas argentinas que exploravam a madeira e a erva-mate no Oeste — ou de impedir a invasão pelos países vizinhos. Raramente pensou-se em dotar o Oeste de melhores condições de vida para seus habitantes.
A mesma situação era observada no Oeste de Santa
Catarina. A distância de aproximadamente 900 quilômetros até Florianópolis não
devia ser pretexto para abandonar os colonos por sua conta e risco no meio da
selva, mas era o que se observava.
Nos dois estados, os colonos tinham motivos fortes
para sentirem-se excluídos dos planos de seus governos, e esse sentimento levou
seus líderes a unir forças e promover um movimento de emancipação. A iniciativa
acabou frustrada, mas aquela sensação de abandono sobreviveu às décadas.
No final da década de 1930, Getúlio Vargas já
demonstrava um interesse especial na povoação do Oeste, não só o paranaense,
mas também o catarinense. Segundo Ruy Wachovicz, o objetivo era “abrir caminho para a expansão do capital e
da colonização gaúcha. Essa colonização seria, tudo indica, muito bem recebida
pelos estados do Paraná e Santa Catarina”. Para tanto, o presidente
cogitava criar na região um território federal, subtraindo “do controle desses estados a sua parte
Oeste, para que melhor atendesse aos interesses dos capitalistas e em
conseqüência das companhias colonizadoras gaúchas”.
O território seria governado por “um oficial do exército ou da marinha, que
terá atribuição para regular a utilização das terras devolutas e promover o
povoamento e localização dos colonos, de modo a atender aos interesses
nacionais” (Antonio Batista Ribas, Depto. de Terras e Colonização,
1939).
No dia 13 de setembro de 1943 foi criado o
Território Federal do Iguaçu, que, segundo Oscar Ramos Pereira, “poder-se-ia chamar, em suave e eufônica
toponímia composta, de Piquiriguaçu, por se situar entre os grandes cursos
d’água, o rio Piquiri e o rio Iguaçu”. Na verdade, a área era mais
ampla: abrangia as regiões Oeste do Paraná e de Santa Catarina, localizadas
entre os rios Piquiri e Uruguai.
A denominação do povoado de Cascavel foi alterada
para Guairacá, uma homenagem ao chefe índio que havia comandado a resistência
ao avanço dos portugueses em Guarapuava. A capital do território foi
inicialmente a cidade de Foz do Iguaçu, mas logo após a instalação da nova
unidade federativa o Ministério da Guerra concluiu que a sede teria de ser
afastada da fronteira, sendo imediatamente transferida para Laranjeiras do Sul.
A cidade teve sua denominação alterada para Iguaçu, e logo viu brotar, em meio
ao casario de madeira em ruínas, luxuosas edificações, representadas pelos
escritórios dos novos órgãos públicos e pelas residências dos funcionários do
governo, “também de madeira, mas de
belo aspecto”, segundo Carlos Tourinho (1991).
Tourinho era um dos muitos que consideravam
Cascavel um povoado mais apropriado para assumir o papel de capital do
território. Em diálogo com o interventor coronel João Garcez do Nascimento, ele
falou da “magnífica situação de
Cascavel, chapadão apropriado para ali assentar grande cidade, com
possibilidade de obter água potável por gravidade. Mas Garcez não arredou um centímetro da decisão já
tomada”. O segundo chefe do território foi o coronel Frederico Trota.
A REAÇÃO DO LESTE
A alta do preço da madeira no pós-guerra, e o
grande volume de colonos que se dirigiam para o Oeste, revelando que a região
logo desenvolveria grande potencial econômico, fizeram mudar as perspectivas
dos políticos do Leste. Era necessário retomar a área!
Sperança (1992) destaca os pontos negativos da
instalação do território. Segundo ele, José Silvério perdeu sua autoridade, e o
avanço econômico e o movimento migratório foram interrompidos. Para o
historiador, “a inutilidade do
Território Federal do Iguaçu foi tão flagrante que seria uma das manobras
getulistas que primeiro acabariam ruindo quando chegasse o fim da ditadura
Vargas”. Silva, Bragagnollo e Maciel (1988) afirmam que o governador
Frederico Trota não fez qualquer esforço para promover a colonização. Ela teria
ficado a cargo de empresas privadas.
Com o fim da ditadura Vargas, em 19 de setembro de
1946 foi dissolvido o Território Federal do Iguaçu, e as áreas sob sua
jurisdição retornaram aos estados de origem. A emenda foi apresentada pelos
deputados federais Bento Munhoz da Rocha Neto, do Paraná, e Nereu Ramos, de
Santa Catarina. Para Munhoz, a criação do território havia sido “um absurdo monstruoso”.
Com a extinção do território, Guairacá retornou ao
mapa do Paraná. O nome também deveria ser restituído, porém, como havia uma
Cascavel no estado do Ceará, a paranaense foi renomeada como Cascavel do Sul.
Percebendo a necessidade de estabelecer um vínculo mais intenso
e definitivo entre a capital e o Oeste, o governo achou conveniente tomar
medidas mais eficazes. A grande colonização gaúcha que se processava coincidiu
com iniciativas visando tornar a região mais produtiva, atendendo aos
interesses do Estado. Mas a fenda aberta em 1943 nunca se fechou completamente.
A luta pela emancipação do Oeste se estenderia e tomaria vulto no decorrer das
décadas seguintes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário