segunda-feira, 13 de maio de 2013

O NOME DA COBRA

São várias as histórias publicadas, ou repassadas oralmente, que narram a origem do nome do município de Cascavel. Os depoimentos de antigos moradores trazem sempre a noção de perigo representado pela serpente.

Acampados à beira de um pequeno ribeirão de águas límpidas, os homens da tropa surpreenderam-se à noite com insistente chacoalhar de guizos, indicando a presença de cobras cascavéis aninhadas nas proximidades, inquietando os cavalos e alarmando os viajantes. Um deles acaba por matar ofídio de proporções imensas. O incidente causa viva impressão entre seus companheiros, tais as avantajadas dimensões do réptil. Recolhendo o enorme crotalo pela cabeça, espeta-lhe uma vara e prende-a ao solo, para marcar com exatidão o local do feito, à beira do riacho. Com o próprio peso a cobra se estica, parecendo ainda maior. O fato, reza a lenda, permanece firmemente gravado na memória dos tropeiros, que em futuras passagens pelo mesmo local irão contar o episódio aos mais jovens. A serpente prossegue naquele ponto durante muito tempo e presume-se que alguém tenha recolhido o couro da cascavel, já cumprida a sua missão de fixar o nome do pequeno rio. Com a vulgarização dessa história, tropeiros, colonos e empregados das companhias que exploram a erva-mate no ocidente do Paraná passam a chamar o ribeirão de Rio da Cascavel. Daí para rio Cascavel é um passo. (Carlos e Alceu Sperança, Pequena história de Cascavel e do Oeste, 1980)

Há também a versão de José Carneiro, em depoimento ao historiador Xyko Tebaldi. Segundo Carneiro, três viajantes pediram pouso aos moradores da região. Foi-lhes concedida uma tapera à beira de um rio, e ali eles encontraram a morte:

Lá, contentes e agradecidos, eles se alojaram. Já fazia horas que o sol aquecia a mata úmida e espessa e os três cavalos ainda estavam desencilhados. Coisa estranha, pois nos primeiros clarões da madrugada era a hora ideal para se prosseguir viagem. Os poucos moradores — não havia mais de quinze famílias — resolveram acordá-los e por mais que chamassem ou batessem na parede, ninguém respondia. Pelas frestas das tábuas puderam ver que os três continuavam deitados. Arrombaram a tramela da porta e viram, assombrados, cobras cascavéis passando sobre os corpos inchados. Uma delas, inclusive, enrolada na perna de um viajante. A história (...) espalhou-se com o passar dos anos, ficando o lugar conhecido como Baixada das Cascavéis.

O historiador Vander Piaia oferece uma perspectiva diferente. Segundo ele, até o final da década de 1920 os poucos mapas têm como referenciais os grandes rios, serras e povoados, sem qualquer citação do nome Cascavel. Um mapa de 1908 mostra as localidades de Foz do Iguaçu e Catanduvas. Num mapa de 1919 aparecem também os povoados de Guaíra, Formigas e Santa Helena. Outro indica a localização da Central Barthe, pertencente a uma empresa argentina, onde teria início o núcleo urbano de Cascavel, mas ainda sem referir-se a este povoado.
Ana Maria Alves da Silva, em depoimento ao projeto Memória Cascavel (Assoeste/Amop), conta que uma tropa de soldados, deslocando-se de Curitiba em direção à fronteira, acampou na região. Um dos soldados foi picado por uma cascavel, sendo imediatamente conduzido numa maca até Foz do Iguaçu. Mas seu fuzil fora esquecido num tronco de árvore, e quando indagados a respeito, os soldados disseram que a arma ficara dependurada lá na cascavel. A partir de então, referiam-se àquele ponto como Cascavel.
No livro Lo pais de las arboles, Julio Nuñez, filho do proprietário da empresa Nuñez e Gibaja, relatando uma caçada de tigre em 1904, refere-se ao pueblo de Cascavel. Outros trechos do livro dão indicações de que se trata de um povoado localizado na área onde hoje se encontra a cidade de Cascavel.
Os primeiros registros incontestáveis sobre a existência do povoado de Cascavel foram feitos pelos soldados paulistas da Revolução de 1924, que se estabeleceram e lutaram no Oeste paranaense nesse período. Um mapa geológico da região, produzido no período da revolta, ainda não apresenta o rio Cascavel. Piaia afirma que esse fato é um indicativo de que o rio pode ter sido nomeado em função do nome do povoado, e não o contrário.

TERRA DAS COBRAS
Em 1937, referindo-se à localidade de Catanduvas, povoado a leste de Cascavel, Lima Figueiredo nota a existência de cobras surucucu, cascavel, jaracussu e urutu, sendo esta última em grande quantidade. (...) A herpetologia é rica, quer nos campos quer nas matas, sendo freqüentes as vítimas causadas pelo veneno dos ofídeos.
(Pesquisa para o livro "Cascavel - A Conquista do Oeste Paranaense)

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