Acampados à beira de um pequeno ribeirão de águas
límpidas, os homens da tropa surpreenderam-se à noite com insistente chacoalhar
de guizos, indicando a presença de cobras cascavéis aninhadas nas proximidades,
inquietando os cavalos e alarmando os viajantes. Um deles acaba por matar
ofídio de proporções imensas. O incidente causa viva impressão entre seus
companheiros, tais as avantajadas dimensões do réptil. Recolhendo o enorme
crotalo pela cabeça, espeta-lhe uma vara e prende-a ao solo, para marcar com
exatidão o local do feito, à beira do riacho. Com o próprio peso a cobra se
estica, parecendo ainda maior. O fato, reza a lenda, permanece firmemente
gravado na memória dos tropeiros, que em futuras passagens pelo mesmo local
irão contar o episódio aos mais jovens. A serpente prossegue naquele ponto
durante muito tempo e presume-se que alguém tenha recolhido o couro da
cascavel, já cumprida a sua missão de fixar o nome do pequeno rio. Com a
vulgarização dessa história, tropeiros, colonos e empregados das companhias que
exploram a erva-mate no ocidente do Paraná passam a chamar o ribeirão de Rio da
Cascavel. Daí para rio Cascavel é um passo. (Carlos
e Alceu Sperança, Pequena história de Cascavel e do Oeste, 1980)
Há também a versão de José Carneiro, em
depoimento ao historiador Xyko Tebaldi. Segundo Carneiro, três viajantes
pediram pouso aos moradores da região. Foi-lhes concedida uma tapera à beira de
um rio, e ali eles encontraram a morte:
Lá, contentes e agradecidos, eles se
alojaram. Já fazia horas que o sol aquecia a mata úmida e espessa e os três
cavalos ainda estavam desencilhados. Coisa estranha, pois nos primeiros clarões
da madrugada era a hora ideal para se prosseguir viagem. Os poucos moradores —
não havia mais de quinze famílias — resolveram acordá-los e por mais que
chamassem ou batessem na parede, ninguém respondia. Pelas frestas das tábuas
puderam ver que os três continuavam deitados. Arrombaram a tramela da porta e
viram, assombrados, cobras cascavéis passando sobre os corpos inchados. Uma
delas, inclusive, enrolada na perna de um viajante. A história (...)
espalhou-se com o passar dos anos, ficando o lugar conhecido como Baixada das
Cascavéis.
O historiador Vander Piaia oferece uma perspectiva
diferente. Segundo ele, até o final da década de 1920 os poucos mapas têm como
referenciais os grandes rios, serras e povoados, sem qualquer citação do nome
Cascavel. Um mapa de 1908 mostra as localidades de Foz do Iguaçu e Catanduvas.
Num mapa de 1919 aparecem também os povoados de Guaíra, Formigas e Santa
Helena. Outro indica a localização da Central Barthe, pertencente a uma empresa
argentina, onde teria início o núcleo urbano de Cascavel, mas ainda sem
referir-se a este povoado.
Ana Maria Alves da Silva, em depoimento ao
projeto Memória Cascavel (Assoeste/Amop), conta que uma tropa de soldados,
deslocando-se de Curitiba em direção à fronteira, acampou na região. Um dos
soldados foi picado por uma cascavel, sendo imediatamente conduzido numa maca
até Foz do Iguaçu. Mas seu fuzil fora esquecido num tronco de árvore, e quando
indagados a respeito, os soldados disseram que a arma ficara dependurada lá
na cascavel. A partir de então, referiam-se àquele ponto como Cascavel.
No livro Lo pais de las arboles, Julio
Nuñez, filho do proprietário da empresa Nuñez e Gibaja, relatando uma caçada de
tigre em 1904, refere-se ao pueblo de Cascavel. Outros trechos do livro
dão indicações de que se trata de um povoado localizado na área onde hoje se
encontra a cidade de Cascavel.
Os primeiros registros incontestáveis sobre a
existência do povoado de Cascavel foram feitos pelos soldados paulistas da
Revolução de 1924, que se estabeleceram e lutaram no Oeste paranaense nesse
período. Um mapa geológico da região, produzido no período da revolta, ainda
não apresenta o rio Cascavel. Piaia afirma que esse fato é um indicativo de que
o rio pode ter sido nomeado em função do nome do povoado, e não o contrário.
TERRA DAS COBRAS
Em 1937, referindo-se à localidade de Catanduvas,
povoado a leste de Cascavel, Lima Figueiredo nota a existência de cobras
surucucu, cascavel, jaracussu e urutu, sendo esta última em grande quantidade.
(...) A herpetologia é rica, quer nos campos quer nas matas, sendo freqüentes
as vítimas causadas pelo veneno dos ofídeos.(Pesquisa para o livro "Cascavel - A Conquista do Oeste Paranaense)
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