Um
relato do padre Rui Pereira aponta Jorge Garzuze como um dos principais
idealizadores dos eventos do Cinqüentenário de Irati, em 1957. Ele “encabeçava
a idéia de marcar esta passagem como algo realmente ressaltante”. Segundo Pedro
Fillus, durante uma conversa no Colégio São Vicente, Pe. Rui olhava na direção
norte da cidade, quando exclamou: “Que tal construir uma estátua lá no morro?”.
A idéia foi apresentada no café das 10 horas, na sala dos professores.
Garzuze
anunciou o projeto em seu jornal, dando início a uma coleta de recursos. A
idéia de se colocar uma santa iluminando na Serra dos Nogueira é algo que se
deve pensar para o nosso Cinqüentenário, si bem que não seja inédita, pois
temos no Rio de Janeiro o Cristo Redentor. Seria esse um excelente motivo de
embelezamento à cidade e o local é ótimo, bastante apropriado (Correio do
Sul, 22 de julho de 1956). Em edição posterior, o editor voltou ao tema: Nesta
semana ainda deverá ser entregue ao prefeito o orçamento de uma imagem com 10
metros de altura e toda de cimento armado. (...) Pensa-se ainda em abrir uma
larga avenida iluminada e urbanizada até a imagem e no final uma gruta.
O
ARTISTA DE CAMPINAS
Numa
viagem a Campinas-SP, Pe. Rui contatou o artista Ottaviano Papaiz. Após
inquirir o clérigo sobre os detalhes da obra, Papaiz concordou em produzir a
imagem. O projeto inicial previa um monumento à padroeira da cidade, Nossa
Senhora da Luz. Mas como ela carrega tradicionalmente o Menino Jesus no colo,
haveria dificuldades na instalação. Optou-se pela imagem de Nossa Senhora das
Graças, de forma menos complexa e de grande devoção popular. Papaiz sugeriu
aumentar as dimensões, de 10 para 16 metros de altura. O engenheiro da
Prefeitura, José Jacob Wasilewski, responsável pela instalação, resolveu
acrescentar um pedestal para realçar o monumento.
O
LIVRO DE OURO
Merecem
os nossos industriais um voto de louvor pelo apoio que vêm prestando à
campanha. (...) Todas as classes já se movimentam para levantar fundos e as
entidades religiosas vêm cooperando brilhantemente, aguardando-se também a
chegada do Livro Ouro, ao comércio e logo após ao povo que deseja contribuir,
pois o nome de todos estará guardado para todo o sempre em um nicho especial
nos pés da imagem (Correio do Sul). O primeiro a assinar o livro foi o
governador Moysés Lupion. Depois dele, o prefeito João Mansur, empresários, autoridades
e população em geral.
NUM
CANTEIRO DE MORANGOS
No
terreno escolhido para a instalação da Santa, doado pelos irmãos Roque, Cezira
e Jovina Brustolin Marochi, a família cultivava morango, trigo e arroz, segundo
Danuta Maria Sloma (Hoje Centro Sul, 2007). Jango e Neldi Marochi doaram o
terreno em torno.
O
monumento de 45 toneladas chegou a Irati dividido em 70 peças, que ficaram
inicialmente depositadas numa cerealista. “Quando vieram trazendo os pedaços
para cá, todo mundo dizia: mas estão ficando loucos, como é que vão colocar
isso?” (Pedro Fillus, entrevista a Massuqueto Borges, 2002). Foi um trabalho
árduo transportar as peças até o morro. “Choveu seis meses sem parar. Era muita
lama”, recorda Frieda Boiko (Hoje Centro Sul). “Quando os caminhões chegavam no
prolongamento da (rua) Cel. Grácia encalhavam e ficavam de duas a três horas
lá”, informou Danuta. “A gente brincava nas mãos da Santa quando ainda estavam
no chão”, diz Irene Knaut. “Só o dedo mínimo era do tamanho da nossa prima, que
tinha cinco anos”.
Para
ilustrar o pedestal, foi realizado um mosaico com a imagem da aparição de Nossa
Senhora a Catarina Laboré.
INAUGURAÇÃO
E BÊNÇÃO PAPAL
Acompanhando
os outros eventos do Cinqüentenário, a inauguração da Santa foi transferida
para o dia 15 de setembro (domingo). Mas a solenidade acabou sendo realizada na
segunda-feira, 16, às 11 horas da manhã. Após o término do desfile cívico,
apesar da dificuldade de acesso à colina devido ao solo úmido, a população
subiu ao morro para a cerimônia. Pe. Francisco Filipak, representante do bispo
diocesano, fez a bênção, mas não houve missa. O evento foi realçado pela Banda
da Polícia Militar de Curitiba. Antonio Lopes Júnior foi designado orador
oficial da cerimônia. Às 20 h foram acesas as luzes que iluminaram a imagem, ao
som da banda e sob o espocar do foguetório em toda a cidade.
No
dia 21 do mesmo mês foi publicada, na Tribuna dos Municípios, a benção do Papa
Pio XII para a cidade de Irati. A primeira missa aos pés da Santa foi
rezada somente no dia 24 de outubro, pelo padre Manoel Gomes Pereira, diretor
do Colégio São Vicente.
A
maior imagem de Nossa Senhora das Graças em todo o mundo acabou se tornando um
dos maiores orgulhos de Irati. Para encontrá-la, basta perguntar pelo Morro da
Santa. Ou, dependendo de onde estiver, é só olhar para cima, já que é
possível vê-la de vários pontos da cidade (Massuqueto Borges, 2002).
O
MILAGRE
As
mãos da Santa foram concretadas em posição horizontal. E assim foi
inaugurado o monumento, até que resolvemos consertar as mãos, torná-las caídas,
escreveu Pe. Rui. Ninguém quis se responsabilizar. Afinal, mandamos
construir os andaimes, muita madeira, muito peso. E com pedreiros simples
iniciamos a perfuração dos punhos. (...) Cortamos os suportes de cima e as mãos
desceram sem o menor esforço, tomando a posição que lhes é normal. O padre
completa seu relato mencionando um provável milagre da Santa. Durante uma
tempestade um andaime deslocou-se e teria caído, não fosse amparado apenas
na ponta do dedo médio da mão esquerda. (...) Não soubemos explicar como um
cimento, ainda em fase de concretização, suportou todo aquele peso de um
andaime inteiro caído sobre aquela mão. (...) Só tivemos uma explicação: era a
Virgem agradecendo, com seu sustento, o nosso esforço para corrigir o defeito
da sua linda imagem e manifestando o desejo de ficar de mãos caídas, abençoando
o povo.
A
COMISSÃO DA SANTA
A partir de sua instalação, o monumento a Nossa
Senhora das Graças tem sido objeto de cultos e peregrinações. Uma média de 50
pessoas visita-o diariamente, segundo Valdemar Premebida, que há 10 anos mantém
uma banca de sorvetes no local. Na capela são depositados muletas, bengalas,
fotografias e outros objetos, em agradecimento por graças recebidas.
Em 1996, sob liderança de Pedro Fillus, foi criada
uma comissão para restauração da imagem, que corria risco de desmoronamento.
Com doações da comunidade, a imagem foi restaurada e recebe cuidados
permanentes. A comissão é presidida por Luiz Vanderlei Kawa. Em 1998 a tesouraria
ficou a cargo de André Janiski, que resolveu introduzir um cofre anexo à
capela, para o depósito de doações em dinheiro. Pedro Maravieski transportou o
cofre — doado por Valdomiro Sabat — e adaptou-o à parede da capela.
A MAIS ALTA
No
dia 30 de novembro de 2001 a Prefeitura de Bom Repouso-MG encaminhou um fax à
Prefeitura de Irati, dizendo que aquele Município havia inaugurado naquele mês
“a maior estátua de Nossa Senhora já construída no Brasil”. Segundo o texto,
tal monumento religioso possui 50 toneladas, seis metros de largura e 20 m de
altura. No histórico da Santa de Irati consta que sua altura é de 17 m, somados
aos cinco de pedestal. Mas um laudo de vistoria de 1996 aponta 16 m de altura e
seis de pedestal. Portanto, a estátua tem uma altura de 22 m —
somando-se o pedestal.
(Texto originalmente publicado no livro "Irati 100 Anos")
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