Dias atrás instalou-se uma locadora de vídeo aqui
perto de casa. Fui dar uma olhada.
— Tem aí algum filme europeu?
— Não.
— Um filme italiano. O Quinteto Irreverente, Leolo,
Amarcord ...
— Não.
— Um daqueles filmes escandinavos, que falam daquelas
verdades cortantes, que mostram uma realidade...
— Desculpe, senhor, não temos.
— Quem sabe um romântico filme francês... Claude
Lelouch, Louis Male...
— Não.
— Um desses filmes que conseguem ser fascinantes mesmo
sem o auxílio de uma magnum ou uma escopeta.
— Não. Mas... espere um momento. Acho que sim. Temos,
sim. Um filme italiano. Aguarde um pouco que vou dar uma olhada lá no depósito.
Sabe como é, abrimos ontem, a gente ainda não conseguiu organizar tudo aqui.
— Compreendo.
Logo que ele saiu da sala olhei para o lado e vi o Mel
Gibisão me apontando uma arma. Desviei os olhos e dei com o João Cláudio Vão
Drama. Em sua boca quadrada, com seus dentes cerrados tirava o pino de uma
granada. Tentei fugir, mas logo fui cercado por Roberto de Miro, Silvestre Está
na Lona e Adalberto Beteforde. Cada um me mirava com uma bazuca e esbravejava:
“Devolva meu punhado de dólares, seu sanofpitche”! Comecei a enfiar as mãos nos
bolsos em busca de pelo menos um centavo de real. Nada. Só umas sementes de
milho. Por sorte chegou o dono da locadora e me salvou.
— Eu estava certo — disse ele. — Tinha mesmo um filme
italiano. Dê uma olhada.
Na capa da fita havia uma foto da loiríssima
Ciciolina, brincando com uma arma que não fica bem descrever nas páginas de um site
familiar.
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