TERRITÓRIO FEDERAL DO IGUAÇU (3ª PARTE)
O ano de 1984 viu renascer o desejo de liberdade do
Oeste paranaense. Empresários, entidades públicas e movimentos sociais voltaram
a reivindicar o desmembramento do Território do Iguaçu. Em Cascavel, além de
Edi Siliprandi, atuavam Antonio Linares Filho, Nelson Fagundes, Terezinha
Depubez, Pedro Perez de Lima e outros. Foram criadas mais de 150 sedes da
Associação dos Amigos do Iguaçu, em 50 cidades do Paraná e Santa Catarina.
Em 1987 o deputado David Cheregatte encaminhou um
projeto solicitando o apoio da Assembléia Legislativa do Paraná ao movimento de
emancipação. Os demais deputados não demonstraram interesse pela matéria.
Conforme Siliprandi, a emancipação se justificava
por abranger uma população de três milhões de habitantes em 90 municípios do
Paraná e 50 de Santa Catarina, numa área de 65 mil quilômetros quadrados, com
uma receita superior a 15 estados brasileiros e a maior renda per capita do
país. Uma avaliação técnica demonstrando essas condições havia sido realizado
pela Universidade Federal de Santa Maria-RS, a pedido da Sodei. O estudo foi
distribuído aos congressistas da Assembléia Nacional Constituinte, de 1988.
Na ocasião, um grande grupo organizado do Oeste,
com o apoio da Associação Comercial e da OAB de Cascavel, invadiu as ruas de
Brasília, mostrando faixas e bandeiras, levando 82 mil assinaturas solicitando
ao Congresso Nacional a emancipação. A iniciativa era prestigiada pelos
deputados Jacy Scanagatta, de Cascavel, Dilceu Sperafico, representante de Foz
do Iguaçu, e Nilso Sguarezzi, de Pato Branco. Líderes catarinenses também
estavam empenhados, como os deputados Nadir Guardini, Heitor Pasqualoto e
Antonio Picheti. O senador José Richa e os deputados Euclides Scalco e Mauricio
Fruet recusaram-se a assinar o documento. O desfecho ocorreu quando Guarezzi
retirou o assunto de pauta. A matéria não foi sequer votada pelos deputados.
Duka cita mais um grande volume de conhecidos políticos que lutaram contra a
realização do plebiscito, chamando-os de traidores do povo que os elegera.
Em 1991 o movimento ganhou força com a eleição de
Edi Siliprandi à Câmara Federal. Contando com o apoio de inúmeras lideranças de
cidades vizinhas, sob o slogan Seu Voto Vale um Estado, ele alcançou uma
votação expressiva. Chegou a lançar uma cartilha ilustrada, explicativa da
importância da emancipação, uma das publicações mais bem elaboradas já vistas
numa campanha política de nível nacional. Segundo o candidato, de cada três
reses abatidas, uma vai para o ICMS, para o tesouro do Paraná. Ou seja, levam
um boi e nos devolvem um bife.
Na mesma época, em Pato Branco o prefeito Clovis
Santo Padoan organizava uma comissão para tratar do assunto. Foram realizadas
reuniões em 80 municípios, num período de 14 meses, com o apoio de dezenas de
cidadãos.
Após a realização de pesquisas mostrando o desejo
popular no Oeste, a imprensa nacional passou a manifestar-se favorável à
criação do novo território. E Siliprandi foi escolhido membro da Comissão de
Constituição de Justiça da Câmara, que nessa época estudava vários projetos que
previam a criação de estados independentes, entre eles o da Guanabara.
Em Cascavel o movimento denominava-se Amiguaçu,
organizado por Pedro Maria Martendal de Araújo, sob a presidência de Valmor
Lemainski.
Em 16 de junho de 1992 a Câmara aprovou por
unanimidade o projeto de decreto legislativo nº 141/91, que asseguraria a
realização de um plebiscito visando a criação do território do Iguaçu.
Prefeitos de 30 municípios do Sudoeste paranaense enviaram carta ao Congresso,
através do deputado, solicitando a assinatura do decreto.
Contra-atacando, jornais paranistas e catarinenses
passaram a zombar da iniciativa de Siliprandi, que a essa altura contava com o
apoio de inúmeros deputados. Uma voz se levantou na Assembléia Legislativa do
Paraná para repudiar a iniciativa oestina, lembrando que o direito de
existência autônoma do Paraná no seio de uma federação livremente consentida,
será firmado e sustentado em quaisquer circunstâncias e ante quaisquer riscos.
Para isso conclamamos os senhores a que nos unamos num sagrado pacto, para
proclamar como o índio Guairacá: esta terra tem dono! Palavras de Aníbal
Khury, que nesse instante deflagrava o movimento Grito de alerta pró-unidade
do Paraná. Segundo ele, o movimento de emancipação do Iguaçu era a mais
grave ameaça para a integridade do estado.
No mesmo ano, Siliprandi participou de um debate a
respeito do tema na cidade de União da Vitória, a convite da Associação
Comercial daquela cidade. O evento foi dirigido por Khury, deputado
representante da região. Sob uma platéia adversa — preparada por Khury,
segundo Duka — que o recebeu com gritos de protesto, Siliprandi expôs seus
argumentos também aos gritos.
Apesar de manobras em sentido contrário, a proposta
de Siliprandi foi à votação. Entretanto, dos 280 congressistas que compareceram
à sessão, somente 90 votaram sim. Em matéria de capa do jornal Gazeta do
Povo, em 1o de abril de 1992, lia-se a manchete: O Paraná unido
sepulta as manobras contra sua integridade territorial.
Durante suas campanhas em favor do Estado do
Iguaçu, Edi sofreu três atentados, segundo seu assessor, Wilson Maejima. A
herança de sua luta emancipacionista permanece em sua descendência. Qualquer
sopro que ameace reacender a indelével chama do movimento emancipacionista
causa alvoroço nos meios políticos das capitais paranaense e catarinense, que
com esmero e competência continuam explorando as regiões ressentidas pela
discriminação e abandono, pois para esses lados sempre coube muitíssimo bem o
fisco famigerado e a polícia. (Edison Duka Siliprandi, 2000)
Em 1998 Heitor Angeli lançou o livro Crônicas do
Oeste, onde reacende o velho debate. Trata-se de um manifesto da Comissão
Supra-Partidária de Palmitos-SC, Pró-Criação do Estado do Iguaçu. Se depender
deste e de outros defensores da emancipação do Oeste, a luta continua!
(Texto produzido para o livro "Cascavel, a Conquista do Oeste Paranaense", com lançamento previsto para 2014)
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