É fácil atribuir aos meios de comunicação de massa, principalmente à televisão, o poder de provocar um vazio mental no espectador diante das celebridades. O cidadão letrado, que se considera dono de opiniões originais e até contundentes, vê-se de olhos arregalados ao deparar com um velho ator de comédia na fila do aeroporto. Gosta que a fila não ande, para ficar o maior tempo possível perto do ídolo, como se a aura do ator o cobrisse por um instante e o deixasse permanecer nesse ambiente luminoso do mundo das celebridades.
O fato é que o desejo de conhecer pessoas famosas, e a capacidade de se ficar abestalhado diante delas, remonta às primeiras civilizações. Os súditos atribuíam aos reis uma qualidade divina porque ele detinha esse carisma fantástico que pode hoje ser reivindicado por um atorzinho de novela ou um jogador de futebol: são seres inatingíveis, que vivem acastelados, raramente são vistos pessoalmente e o mundo fala deles o tempo todo. Somente criaturas vindas do etéreo, do mundo mágico, poderiam ter esses poderes. Pois o homem comum, seja ele um letrado ou um completo ignorante, com certeza não os tem!
É por isso que os cantores de música ruim fazem lotar estádios, como outrora o faziam os grandes artistas. Mesmo os universitários, a nata da elite intelectual, que se pensavam intelectuais por deixarem balançar seus corpos ao ritmo da bossa nova, agora cantam e dançam os ritmos mais prosaicos. E com isso se satisfazem, pois, ninguém duvidará, lá em cima do palco está a celebridade. O famoso cantor pode estar miando feito um gato escalpelado, mas quem poderá afirmar que o que a celebridade fez é algo menos que uma jóia?
A adoração da celebridade alcança dimensões ainda mais extraordinárias quando o adorado é um bandido famoso, seja ele um ladrão, seqüestrador ou traficante. No princípio, quando ainda não angariou fama, suas ações provocam repulsa. Mas o desencadear de novas ações criminosas, novas prisões e fugas, consagram o bandido como um bandidão, uma verdadeira celebridade. Políticos seriam capazes de posar ao lado dele para angariar a simpatia popular, se a hipocrisia popular não o condenasse pela ousadia. Mas o cidadão comum será capaz de abraçá-lo, e oferecer-lhe cama e comida, se o bandidão aparecer em seu bairro.
Pela mesma razão, os olhos do público brilham na presença do político corrupto que ganhou notoriedade por suas falcatruas. Seus fãs sentem desejo de tocá-lo, querem sentir o calor de sua presença. E se o rombo nos cofres públicos foi gigante, e se o peculador ganhou as manchetes dos telejornais, os fãs serão capazes de comê-lo vivo, como fizeram na França com um serial killer chamado Grenouille, que foi devorado por exalar um perfume excessivamente sedutor.
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