As filmadoras domésticas têm muito charme. São bonitas, leves e eficientes. Mas raramente nos damos ao prazer de assistir àquelas velhas fitas, ou aos DVDs, onde estão filmados os batizados, aniversários, casamentos, e todas aquelas circunstâncias que caracterizam a vida familiar.
Nunca tive uma filmadora. Alguns raros momentos de meus filhos pequenos foram filmados com câmeras de meus amigos e parentes. E quando assisto a esses momentos, que o tempo aos poucos vai apagando da memória, sempre parece que está faltando algo. As imagens estão ali, os sons, os sorrisos, as cores, os movimentos. Mas então, o que está faltando?
Desde que nasceu minha filha, Jade, até os 14 anos, escrevi para ela. São relatos de suas traquinagens, ou pequenas crônicas sobre os meus pensamentos e sentimentos a respeito dos mais variados assuntos, e que pretendo transmitir a ela. São mais de 300 páginas, onde procuro traduzir, mais que imagens, o retrato de nossas almas, de pai e de filha.
De vez em quando abro o arquivo da Jade, e é sempre surpreendente. Na maioria das vezes, custo a acreditar que tudo aquilo aconteceu realmente. É ainda mais difícil aceitar que eu sentisse as coisas daquela maneira, e traduzisse meus sentimentos daquela forma. Mas o que está escrito é sagrado, não há como mudar. E é por isso que escrever nossas histórias mostra-se uma forma mais verdadeira de registrar aquilo que somos.
Nossas memórias mudam com o passar do tempo. E raramente saberemos dizer quem realmente somos, se não tivermos um registro fiel do que fizemos, do que sentimos e do que pensamos. Quando escreve suas memórias, você não está simplesmente deixando recordações. Está desenhando um retrato mais fiel e mais completo de si mesmo. E isso faz com que sua história seja mais densa, e a percepção de si próprio se torne mais fiel à realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário