Toda
tarde era assim, um conto, xícaras de chá e poesia, essa forma de cristal que
ilumina, mas não sacia.
A
passos ligeiros eu andava à frente, enquanto sinos trinavam no limiar da
varanda, e um canto de anjos descia as escadas como espirais invisíveis
marcando minha retina. Os sentidos estavam acesos em labaredas que lambiam as
pedras, os musgos, o tilintar das tampas de garrafa, o solfejar das asas dos
grilos, a solda fresca da maçaneta, as veias amareladas da porta
recém-envernizada e o som inconfundível dos passos que, miúdos, seguiam o
rastro deixado pelo meu corpo no andar perfumado que produziam os poros, naqueles
adocicados dias de paixão.
A
porta estava se abrindo e lá dentro morava o futuro. O presente era limiar, como
a fina lâmina de sangue, suspensa no instante irrecuperável de uma morte, que
para além e antes dela não se traduziria.Mas o irresistível bilhete de passagem
estava em minha mão, induzindo ao passo seguinte e um novo estado de alma se
iluminaria... ela estaria em meus braços, plena de entrega e o rio fluindo, fluindo por
nós...
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