A luta de Edi Siliprandi e outras lideranças do
Oeste
Os oestinos nunca se conformaram com a dissolução
do território do Iguaçu, na década de 1940. Seguindo a tradição dos gaúchos,
que ao longo das décadas preconizaram tentativas de separação dos Estados do
Sul do restante do Brasil, nos anos 1960 a luta pela emancipação continuava em
marcha nas regiões Oeste paranaense e catarinense.
Um dos maiores batalhadores pela emancipação das
regiões Oeste paranaense e catarinense foi Edi Siliprandi. Suas memórias foram
publicadas no livro Estado do Iguaçu – Uma Versão Documentada, lançado
em 2000 por seu filho Edison Duka Siliprandi. Sérgio Lopes também analisa o
tema, no livro O Território do Iguaçu no Contexto da Marcha para o Oeste
(2002).
No início da década de 1960 o movimento
emancipacionista estava em pleno crescimento, mas foi paralisado pela
instalação da ditadura militar, em 1964. Em 21 de abril de 1968 foi criada em
Pato Branco a Sociedade para o Desenvolvimento e Emancipação do Iguaçu – Sodei,
com 464 membros fundadores, sob a presidência de Siliprandi. Destacavam-se no
movimento as cidades catarinenses de Xanxerê, Videira e Joaçaba. Em Cascavel,
Siliprandi contava com o apoio constante de Luizinho de Grandi, um grande
entusiasta do movimento.
Numa fotografia estampada na contracapa do livro de
Duka, Grandi desafia a polícia com uma placa a favor da emancipação. Grandi foi
assassinado em frente ao portão da casa de seus pais, em Santa Maria-RS, na
madrugada de 5 de março de 1988.
A Sodei realizava reuniões públicas buscando
esclarecer a população sobre a importância da emancipação. Também promovia
sorteios de automóveis visando a arrecadação de fundos para o movimento, com
grande apoio da imprensa local. Desde o início a iniciativa da formação do
território do Oeste também contou com o apoio de jornais e rádios gaúchos, e com
a indiferença dos meios de comunicação da capital paranaense. A rádio Gaúcha
transmitia ao vivo as assembléias da Sodei. Os iguaçuanos, como eram
chamados os manifestantes, mantinham com doações um programa na rádio
Farroupilha. O governo e a imprensa paranaense insistiam na existência de um movimento
separatista no Oeste, enquanto os líderes esclareciam que se tratava de emancipação,
sem nenhuma ameaça à integridade nacional. A polícia chegou a acusar a
Sodei de grilagem de terras. Em entrevista à imprensa gaúcha, Siliprandi
desmentiu, apontando para uma tentativa do governo de desestabilizar o
movimento.
Em 1969, um manifesto iniciado na cidade de Guaíra
buscava conter o movimento. Além de exaltar o espírito cívico paranaense,
atacava ferozmente os líderes emancipacionistas. Repudiamos e combatemos os
que propagam idéias separatistas em nosso Estado, pois consideramo-los
oportunistas que querem criar ambiente para fins inconfessáveis.
O Ato Institucional nº 5 – AI5, criado em 1969 pelo
governo federal, tornou-se mais um entrave ao projeto de emancipação. As
reuniões, agora secretas, passaram a ser combatidas pelo Departamento de
Controle Político e Social – DOPS, o principal órgão de repressão da ditadura
militar. Em 1971 o movimento passou a editar o jornal Fronteira do Iguaçu, com
matérias de denúncias, reivindicações e esclarecimentos sobre a emancipação. A
circunstância exigia a existência de espiões e também de traidores, que
delatavam locais e horários das reuniões ocultas. Segundo Duka, a maioria dos
militantes eram empresários e profissionais liberais, com raras participações
de políticos de carreira. Foram defensores do movimento, nesse período, Joel
Damásio, Arnaldo Deschmeier, Itacir de Bastiani, Nanci Siliprandi, Dirceu
Vieira Fagundes, Firmino Bertuzzo e Hélio Willy Fauth.
No dia 14 de março de 1972, Siliprandi foi
convocado a comparecer ao 1o Batalhão de Fronteira de Foz do Iguaçu
para prestar esclarecimentos sobre as atividades da Sodei. Sob o governo de
Paulo Pimentel, vários emancipacionistas foram presos. Apesar das baixas,
representadas pelas constantes mudanças de endereços dos militantes, Siliprandi
continuou na luta, arregimentando novos soldados para a causa.
(Continua amanhã)
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