sexta-feira, 10 de maio de 2013

TERRITÓRIO FEDERAL DO IGUAÇU (2ª PARTE)

A luta de Edi Siliprandi e outras lideranças do Oeste

Os oestinos nunca se conformaram com a dissolução do território do Iguaçu, na década de 1940. Seguindo a tradição dos gaúchos, que ao longo das décadas preconizaram tentativas de separação dos Estados do Sul do restante do Brasil, nos anos 1960 a luta pela emancipação continuava em marcha nas regiões Oeste paranaense e catarinense.
Um dos maiores batalhadores pela emancipação das regiões Oeste paranaense e catarinense foi Edi Siliprandi. Suas memórias foram publicadas no livro Estado do Iguaçu – Uma Versão Documentada, lançado em 2000 por seu filho Edison Duka Siliprandi. Sérgio Lopes também analisa o tema, no livro O Território do Iguaçu no Contexto da Marcha para o Oeste (2002).
No início da década de 1960 o movimento emancipacionista estava em pleno crescimento, mas foi paralisado pela instalação da ditadura militar, em 1964. Em 21 de abril de 1968 foi criada em Pato Branco a Sociedade para o Desenvolvimento e Emancipação do Iguaçu – Sodei, com 464 membros fundadores, sob a presidência de Siliprandi. Destacavam-se no movimento as cidades catarinenses de Xanxerê, Videira e Joaçaba. Em Cascavel, Siliprandi contava com o apoio constante de Luizinho de Grandi, um grande entusiasta do movimento.
Numa fotografia estampada na contracapa do livro de Duka, Grandi desafia a polícia com uma placa a favor da emancipação. Grandi foi assassinado em frente ao portão da casa de seus pais, em Santa Maria-RS, na madrugada de 5 de março de 1988.
A Sodei realizava reuniões públicas buscando esclarecer a população sobre a importância da emancipação. Também promovia sorteios de automóveis visando a arrecadação de fundos para o movimento, com grande apoio da imprensa local. Desde o início a iniciativa da formação do território do Oeste também contou com o apoio de jornais e rádios gaúchos, e com a indiferença dos meios de comunicação da capital paranaense. A rádio Gaúcha transmitia ao vivo as assembléias da Sodei. Os iguaçuanos, como eram chamados os manifestantes, mantinham com doações um programa na rádio Farroupilha. O governo e a imprensa paranaense insistiam na existência de um movimento separatista no Oeste, enquanto os líderes esclareciam que se tratava de emancipação, sem nenhuma ameaça à integridade nacional. A polícia chegou a acusar a Sodei de grilagem de terras. Em entrevista à imprensa gaúcha, Siliprandi desmentiu, apontando para uma tentativa do governo de desestabilizar o movimento.
Em 1969, um manifesto iniciado na cidade de Guaíra buscava conter o movimento. Além de exaltar o espírito cívico paranaense, atacava ferozmente os líderes emancipacionistas. Repudiamos e combatemos os que propagam idéias separatistas em nosso Estado, pois consideramo-los oportunistas que querem criar ambiente para fins inconfessáveis.
O Ato Institucional nº 5 – AI5, criado em 1969 pelo governo federal, tornou-se mais um entrave ao projeto de emancipação. As reuniões, agora secretas, passaram a ser combatidas pelo Departamento de Controle Político e Social – DOPS, o principal órgão de repressão da ditadura militar. Em 1971 o movimento passou a editar o jornal Fronteira do Iguaçu, com matérias de denúncias, reivindicações e esclarecimentos sobre a emancipação. A circunstância exigia a existência de espiões e também de traidores, que delatavam locais e horários das reuniões ocultas. Segundo Duka, a maioria dos militantes eram empresários e profissionais liberais, com raras participações de políticos de carreira. Foram defensores do movimento, nesse período, Joel Damásio, Arnaldo Deschmeier, Itacir de Bastiani, Nanci Siliprandi, Dirceu Vieira Fagundes, Firmino Bertuzzo e Hélio Willy Fauth.
No dia 14 de março de 1972, Siliprandi foi convocado a comparecer ao 1o Batalhão de Fronteira de Foz do Iguaçu para prestar esclarecimentos sobre as atividades da Sodei. Sob o governo de Paulo Pimentel, vários emancipacionistas foram presos. Apesar das baixas, representadas pelas constantes mudanças de endereços dos militantes, Siliprandi continuou na luta, arregimentando novos soldados para a causa.
(Continua amanhã)

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