Mudar de casa uma vez por ano tem suas vantagens. Conhecemos
novas pessoas, novos ambientes, enfrentamos novos desafios e crescemos a partir
de suas resoluções. Deparamos inevitavelmente com diferentes formas de
interpretar e entender o mundo. E, melhor que tudo, saímos da roda de fofocas
que se instala sempre que ficamos muito tempo num só lugar.
Mas também há alguns inconvenientes. A maioria das casas de
aluguel apresenta problemas, os mais diversos e estranhos. A começar pelos quintais
e jardins. Isso quando há jardim, e não um chão de terra vermelha para sujar a
calçada e a casa sempre quando chove. Se quiser criar um ambiente agradável, do
jeito que você gosta, terá que pegar na enxada e no rastelo e fazer você mesmo
um novo jardim.
Mas nas casas urbanas o solo raramente é dos melhores,
porque foi passado a patrola para nivelar e plantar os alicerces da edificação,
e também porque o chão tem mais areia e pedras do que húmus. Os construtores,
ou os reformadores da residência deixaram montes de cimento e cal por todo
lado. Fizeram novos muros e calçadas, instalaram postes para estender arames,
construíram casinhas infantis. Pedaços de lajotas, ladrilhos e crostas de cimento
estão por toda parte. Os antigos moradores também deixaram restos de sacolas,
hastes de cotonetes, tampas de garrafa, arruelas, porcas, parafusos, invólucros
de preservativos e sonrisal, garfos, isqueiros, saca-rolhas, facas, vasilhames,
cacos de vidro e cerâmica, restos de brinquedo, bolinhas de gude, tudo isso misturado
com a terra.
Imagine a dificuldade das plantas para crescer nesses
ambientes. Até mesmo a tiririca, que tem raiz profunda, mostra dificuldade em
sorver a seiva da terra nesses lugares. Os objetos artificiais impermeabilizam
a terra, as raízes têm grande dificuldade para se alastrar. Para cultivar flores
ou grama, ou mesmo hortaliças e limoeiros, abóboras e melancias, é preciso
retirar toda essa sujeira, e jogar terra nova e reavivar o solo.
Por que as pessoas são tão porcas — com o perdão das porcas,
que se lambuzam no banhado, mas nunca foram flagradas jogando bituca de cigarro
e frasco de shampoo pela janela? Enfim, por que as pessoas são tão porcas? Por
que se acham no direito de plantar todas essas porcarias, onde quer que estejam,
na rua, na praça e em seus próprios quintais?
Não é difícil entender que as pessoas sujem as ruas e as
praças, afinal, esses são locais públicos. Os cidadãos gostam de pensar que
pagam impostos e que, com isso, garantem o salário dos garis. Mas sacolas,
garrafas e coisas igualmente vistosas ilustram todas as calçadas e outros
ambientes públicos de todas as cidades brasileiras. Parece que não há garis
suficientes para garantir a limpeza e a higiene das cidades. E quando deparamos
com esses jardins e quintais, que são habitados por pessoas, e neles
encontramos a mesma sujeira/nojeira das ruas e praças, que podemos pensar deste
gênero animal, deste ser incapaz de preservar limpo e asseado o próprio
ambiente em que reside?
Esse animal estúpido que somos nós precisa ser denunciado um
milhão de vezes, precisa ser penalizado por seus crimes ambientais. Talvez um
dia compreenderemos que está em nossas atitudes a preservação do paraíso que
Deus nos deu. Mas preferimos ir ao templo, regatear com Deus — à base de muitas
orações e doações — um novo paraíso, onde tudo esteja novamente limpo e lindo.
Para que possamos novamente despejar, nesse paraíso etéreo, toda a sujeira e a
nojeira de nossa infeliz condição humana.
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