quarta-feira, 1 de maio de 2013

NOSSOS ORELHÕES ESTÃO TODOS QUEBRADOS

O serviço público de baixa qualidade prestado por instituições públicas tem algumas exceções respeitáveis. Infelizmente, o que define a realidade é a regra. A falta de interesse de alguns setores do governo em promover o bem-estar dos cidadãos, bem como o desenvolvimento da cidade, do estado ou do país, é apontado pelos liberais como pretextos favoráveis à privatização de empresas públicas.
Mas seria realmente da natureza do poder público prestar serviços de baixa qualidade? Ou o objeto desses serviços, o público, é quem não se dá o devido respeito?
Analise a estrutura da sua cidade. As ruas são asfaltadas e bem sinalizadas, por quê? Basta verificar quem passa por ali: todo tipo de cidadão, inclusive os mais exigentes e os mais influentes. Agora dê uma olhada nos terminais de ônibus. São sujos, feios e escuros. Verdadeiros chiqueiros, onde os chicletes e outras sujeiras se acumulam sobre o cimento cru. Durante o inverno, o freguês sofre com as rajadas de vento gelado. E quando vem a chuva sobre o telhado de zinco, o barulho é o de uma câmara de tortura. Quem freqüenta esses locais? Cidadãos pouco influentes, que geralmente pouco sabem sobre seus direitos.
O cliente de uma grande empresa é exigente, e é por isso que ela capricha na embalagem e inova no conteúdo. A empresa sabe que se baixar a qualidade, perde a freguesia. Mas o cliente do setor público tem poucos recursos para reagir aos maus produtos e serviços que lhe são oferecidos. Se o freguês da empresa privada fica insatisfeito, deixa de comprar, e os computadores apontam o prejuízo no final do período. Mas se um cliente de serviço público não está satisfeito, o que ele pode fazer? Parar de consumir água e luz? Deixar de circular pelo terminal?
Basta um exemplo para definir a qualidade do serviço público prestado por empresas privadas: percorra a sua cidade de ponta a ponta e veja quantos telefones de orelhão estão em pleno funcionamento. Aproximadamente 30%, em qualquer cidade do Brasil. A empresa de telefonia mantém os orelhões porque a lei obriga. Mas o público que utiliza esse tipo de serviço ainda não se deu conta de que é seu direito dispor de telefones de boa qualidade. Ou de aparelhos velhos, sujos e quebrados, mas que, pelo menos, funcionem!
Acostumou-se ao uso do celular, e a maioria já nem se dá conta de que esse tipo de serviço é absurdamente caro em relação ao oferecido pelo telefone fixo. Mas ninguém reclama, e os orelhões estão abandonados. Aliás, minto: do lado de fora estão todos muito bonitinhos! De vez em quando a empresa telefônica vai lá e passa uma mão de tinta.
Nas capitais é bem visível esse desleixo da empresa privada prestadora de serviços públicos. Tente entrar num daqueles coletivos que atravessam a cidade de ponta a ponta. Estão sempre jogando passageiros pelas portas. Senhores idosos, deficientes físicos, grávidas, crianças, pessoas doentes, têm de se virar, esmagados pelos companheiros de suplício. Muitos não conseguem alcançar os “pegadores”, ou mesmo agarrar-se aos encostos das cadeiras, e só não caem no chão porque não há como cair.
Considerando os milhões de passageiros que pagam passagem todo mês, será que não sobra uns trocados para duplicar a quantidade de ônibus? Infelizmente, nem vereadores, nem deputados, nem mesmo os médios e grandes empresários freqüentam essas câmaras de tortura ambulantes para levar a reivindicação a quem poderia mudar tal realidade.

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