sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
terça-feira, 28 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
O FIM DOS DESMANCHES
A solução para o roubo de carros é simples, rápida e eficaz. Todo
policial sabe que os ladrões preferem roubar carro velho, que geralmente não tem
alarme e sistema anti-roubo. Sugiro que a polícia dos grandes centros espalhe
algumas dezenas de automóveis velhos pelas ruas, e deixe-os dormindo ali
durante alguns dias. Considerando as estatísticas (perdi meus três carros no
decorrer de 7 anos, em Curitiba e Cascavel, sem contar umas tr6es tentativas
mal-sucedidas), em menos de uma semana todos terão desaparecido. Aí a polícia, QUE
SABIAMENTE BOTOU CHIP EM TODOS OS CARROS, conecta o satélite, vai atrás, encontra e
desmancha todos os desmanches.
Fácil, não? Nada disso! Extremamente difícil. Sabe por quê? Porque a
polícia não quer acabar com o problema. E tem mais gente que não quer. Mandei
essa sugestão para os principais meios de comunicação do Paraná e ela não foi
publicada uma única vez. Por quê?
O PORTÃO
Toda
tarde era assim, um conto, xícaras de chá e poesia, essa forma de cristal que
ilumina, mas não sacia.
A
passos ligeiros eu andava à frente, enquanto sinos trinavam no limiar da
varanda, e um canto de anjos descia as escadas como espirais invisíveis
marcando minha retina. Os sentidos estavam acesos em labaredas que lambiam as
pedras, os musgos, o tilintar das tampas de garrafa, o solfejar das asas dos
grilos, a solda fresca da maçaneta, as veias amareladas da porta
recém-envernizada e o som inconfundível dos passos que, miúdos, seguiam o
rastro deixado pelo meu corpo no andar perfumado que produziam os poros, naqueles
adocicados dias de paixão.
A
porta estava se abrindo e lá dentro morava o futuro. O presente era limiar, como
a fina lâmina de sangue, suspensa no instante irrecuperável de uma morte, que
para além e antes dela não se traduziria.Mas o irresistível bilhete de passagem
estava em minha mão, induzindo ao passo seguinte e um novo estado de alma se
iluminaria... ela estaria em meus braços, plena de entrega e o rio fluindo, fluindo por
nós...
quarta-feira, 22 de maio de 2013
O LARGO DE HAENDEL
Em queimadas
era o sino, que ecoava longe na grande clareira do faxinal. Antes que minha mãe
ordenasse, eu já estava correndo até a igreja para saber o nome do falecido. A
comunidade inteira parava, mesmo quando fosse uma criança, um jovem ou um
velho, para a última homenagem, talvez a única recebida, e já após o fim da
vida
Na cidade, os
mortos eram anunciados no serviço de auto-falante do Seu Arnaldo Klosowski. Ao cair da tarde sentava-me num tronco de imbuia, no topo
da subidão do Gusto Butzka, de onde apreciava a cidade e ouvia o alto-falante
melancólico do Arnaldo. Desde a praça central, ele mandava recados e músicas.
As vozes de Odair José e Amado Batista faziam doer minha alma até quase o
desespero. A única daquele repertório que me trazia alguma esperança era o
Largo de Xerxes, de Haendel, o hino escolhido por Arnaldo para anunciar os
funerais. A música que antecedia a voz do locutor não era somente
triste. Era antes um mergulho sereno no oceano da morte, um canto de violinos
imaculados que faziam pensar na apoteose da vida como circunstância de
passagem, um instante futuro que somente Haendel poderia descortinar.
Entre meus amigos, havia um desconforto evidente
sempre que o auto-falante anunciava um novo defunto. Mas a mim, os imensos
espaços da juventude não deixavam projetar os sentidos para o sofrimento da
família enlutada, a circunstância funesta do corte. Enquanto os violinos
traduziam Haendel, meu olhar estava no horizonte, olhando as nuvens brancas do
futuro, um oceano azul, claro e luminoso.
terça-feira, 21 de maio de 2013
VAMOS CONTAR?
Agora
tenho que agüentar isto, o Julian contando até 100 todos os dias. Sou
mesmo obrigado a ouvir, para dar exemplo de pai extremoso, ou posso sair
de perto?
Hoje fiz pior. Quando ele chegou ao 100, perguntei:
— E depois do 100 vem o quê?
— 101, 102, 103...
E agora lá está ele, no 327, 328... Tudo bem, como a contagem é monótona até que não incomoda, posso cuidar do meu trabalho.
— Pai.
— O que foi, filho?
— Me ajuda a contar até mil?
Hoje fiz pior. Quando ele chegou ao 100, perguntei:
— E depois do 100 vem o quê?
— 101, 102, 103...
E agora lá está ele, no 327, 328... Tudo bem, como a contagem é monótona até que não incomoda, posso cuidar do meu trabalho.
— Pai.
— O que foi, filho?
— Me ajuda a contar até mil?
RIDICULARIZE OS MONSTROS
O cinema norte-americano coloca diante das crianças de cinco
ou dez anos aquelas faces de seres irreais, monstruosas, terríveis. Pode-se
dizer que isso é também criação humana. É verdade: criação de gente doente com
o propósito de enriquecer os estúdios de Hollywood, tão somente isso. Causam
traumas que não saberemos curar. Parece que tudo fica normal depois do filme,
mas não. Eles ferem nossos filhos com suas paranóias, seus demônios. Não posso
ver nisso nada de saudável. As coisas ruins deveriam ficar longe de nossos
olhos, sim, o maior tempo possível.
Ao contrário do que muitos pensam, uma planta não se alimenta da podridão. Ela se alimenta da terra, depois que a podridão foi consumida e transformada. Se queremos apresentar às crianjças os aspectos negativos e perversos da humanidade, será melhor elaborar o terror, o horror, antes de colocar diante de seus olhos.
Você pode me dizer que tenho a prerrogativa
de impedir meus filhos de ver filmes de terror. Mas eles visitam os amigos!
Nunca temos o controle que gostaríamos, para dar a eles uma vida completamente
saudável. E aqui e ali eles haverão de encontrar essa doença norte-americana
chamada “filme de terror”.
A única forma de tirar essas porcarias da cabeça das
crianças é ridicularizar os monstros e fantasmas. No instante em que você
finaliza uma história em que essas tristes figuras são postas como seres
ridículos, a criança se sente aliviada. Riu um bocado, está com os olhos
molhados de lágrimas, e nessas lágrimas está todo o amargor daquela descoberta
de que o mundo é satânico, maldoso, estranho, sinistro e cruel. Pois todos sabemos que o mundo em que vivemos é um paraíso, mesmo que algumas vezes tome as cores do inferno.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
PERDER PARA A FRANÇA, NUNCA MAIS!
A data é junho de 1986. O Brasil joga contra a França.
Na sala de visitas da Casa do Estudante Luterano Universitário de Curitiba
oitenta e sete moradores estão com os olhos grudados na tela, esperando que o
Zico fure a zaga e ensaque a branquinha na rede gaulesa. O clima é tenso, o
Brasil joga, mas não convence, o gol não sai, a gente xinga, o juiz rouba, a
galera grita. Além do descontentamento geral com o governo Sarney, com as
greves da UFPR e com o sabor do mingau do Restaurante Universitário, ainda
temos que amargar essa turma de pernas de pau! Se pelo menos... Gol do Careca!
Goooooool!!! do Careca!!! Brasil sil sil!!!
Depois do gol o time se amansa, começa a embolar
novamente o meio de campo, o jogo azeda, não acontece nada. Telê Santana não
gosta. Os torcedores novamente desanimam, esse time não presta! apesar de estar
ganhando. Precisa fazer mais um pra garantir a vaga na semi-final, meu Deus do
Céu!
De repente a porta se abre e aparece o octogésimo
oitavo morador da casa, o nosso amigo Bronha — desculpe, leitor, o apelido do
rapaz era esse, que é que eu posso fazer!? — acadêmico de engenharia civil. Vem
de braço dado com uma moça loira, enxuta, bacana. Bronha está orgulhoso de sua
conquista, chega fazendo espalhafato, mostrando a donzela aos colegas, que não
têm tempo para olhar e apreciar a peça. A marcação da França está cerrada, o
segundo gol brasileiro não sai e esse chato vem aí querendo fazer panca em cima
da gente.
— Cala boca, Bronha!
Não adianta, o homem está endemoniado, não quer ficar
quieto. Nunca teve parceira tão bela, e precisa fazer a corte, fazer bonito
diante dela, mostrar o quanto é corajoso e irreverente. Começa a torcer para a
França.
— Cala boca, seu chato!
Não adianta. O rapaz achou um modo de chamar a
atenção, e tanto fala e gesticula que a moça, mostrando sensibilidade, começa a
apoiar com voz de taquara rachada a torcida do seu macho. Gritam os dois em
favor dos conterrâneos de Robespierre, e a cada bola furada pelos brasileiros eles
gritam mais alto, e a cada passe acertado pelos gauleses eles mostram mais
entusiasmo.
— Cala boca, Bronha, senão a gente bota você pra fora!
A moça ri alto, vendo que seu escolhido é diferente
dos outros, e as mulheres gostam dos diferentes, arrepiam-se, entregam-se com
paixão, e ali estão dois apaixonados na primeira fila, arrulhando e incomodando
estes oitenta e sete agoniados. Zico erra um pênalti. O Zico!!! Errou um
pênalti!!!
— Cala boca, Bronha, senão a gente joga os dois pra
fora!
Aproxima-se o final da partida e nada. Mas 1 x 0 está
bom, azar se o jogo não convenceu, o importante é vencer este timeco, esses
jogadores sem drible, sem classe, sem estratégia, sem chute, sem passe...
gooooooooooooool!!! Do Platini! para a França!!!
Luciano do Valle está chorando, Sarney está chorando,
Telê Santana está fungando, Chico Buarque de Hollanda está chorando. A estátua
de Napoleão ri às gargalhadas na praça de Paris, acompanhada pelo Bronha e sua
favorita, que agora começam a ser olhados com olhos assassinos pelos oitenta e
sete brasileiros.
Fim de jogo. Vamos aos pênaltis. Azar, fazer o quê?
Agora é tudo ou nada. Nosso Júlio César erra. O chute francês vai na trave, mas
rebate nas costas do goleiro Carlos e entra. Agora é a vez do Sócrates, o velho
e bom Sócrates. Pra fora! O Brasil está eliminado da Copa! Eliminado!
Bronha e sua princesa estão comemorando num abraço
afetuoso, quando são apanhados e levados pela multidão furiosa para fora da
Casa de Estudantes. O jogo é esquecido, Fernando Venucci chora sozinho na TV,
encontramos finalmente uma coisa boa com que nos divertir, todo mundo
carregando nos braços o Bronha e sua esposa, vamos lá, Passeio Público com
eles, vamos lá, cuidado pra não deixar cair a moça, que ela é delicada, vamos
galera, agora, agora, joga ele primeiro, tchibum! agora a moça, tchibum!
Pronto. Bronha e sua amada nadam felizes nas águas geladas do lago do Passeio
Público, enquanto o Brasil inteiro se desmancha em lágrimas.
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